Garantir que os colaboradores podem trabalhar em qualquer altura a partir de qualquer lugar é essencial para as organizações modernas. Asus, Decunify, LastPass, Logicalis, Noesis, Varonis e WatchGuard partilham a sua visão sobre o mercado de mobilidade empresarial
A mobilidade trouxe um ‘novo normal’ à vida das empresas. Num mundo cada vez mais híbrido, é essencial que as organizações invistam em diversas áreas da mobilidade, como os equipamentos para os colaboradores, enquanto preparam a infraestrutura, em segurança, para que estes possam aceder aos dados que necessitam a partir de qualquer lugar. As ferramentas e tecnologias, como as plataformas de colaboração e de produtividade, dispositivos, redes Wi-Fi, gestão de utilizadores e segurança, são alguns exemplos quando o tema é a otimização do trabalho dos colaboradores. Tivemos um período em que o trabalho remoto era uma realidade e, depois, passámos para o regime de trabalho híbrido. Em 2023 não se sentiu tanto os constrangimentos da pandemia e as organizações e os colaboradores puderam escolher o modelo que mais se adapta às suas preferências. Qual é, neste momento, o regime de trabalho mais utilizado em Portugal? Luís Lança, CTO, Logicalis: “Acredito que o modelo híbrido parece ser o mais equilibrado e adotado pela maioria das empresas, não em todas as funções, mas em grande parte delas já é permitido. Se olharmos que quando a pandemia veio, fizemos trabalho remoto por uma questão de segurança, ao longo do tempo as empresas sentiram a necessidade de aproximar. Este mundo do híbrido traz algumas vantagens importantes, que estão relacionadas com a globalização, de podermos chegar a outros colaboradores que não temos hoje em Portugal”
António Correia, Area Sales Engineer, WatchGuard: “É um desafio para as empresas conseguirem criar um contexto mais produtivo, mas que seja capaz de equilibrar tanto a flexibilidade do trabalho como – e julgo que será cada vez mais um problema – as pessoas estarem habituadas a trabalhar a partir de casa. Aquela falta de contacto… há muita coisa que se perde e nem tudo são rosas. Aquilo que vejo e constato é o trabalho híbrido e vamos ver uma aposta muitíssimo grande por parte das empresas para tornar os escritórios mais atrativos”
Nuno Nogueira, CTO, Decunify: “A tendência é para regimes híbridos. É fundamental garantir que não se perde a cultura das empresas. Ao integrar novos colaboradores ou fazer novos processos de adaptação das organizações, o regime remoto pode ter desafios bastante importantes. O regressar ao escritório ou dotar o mesmo de melhores condições está relacionado com todos nos termos habituados a trabalhar remotamente, mas os escritórios não estavam preparados para interação entre quem está no escritório e quem está remoto” Nuno Pereira, IT Senior Specialist, Noesis: “Existe uma tentativa de tornar mais eficiente o método de trabalho híbrido, até porque – à partida – veio para ficar, pelo menos é essa a tendência que temos verificado. Atualmente, uma das primeiras questões de muitos dos colaboradores é se o regime de trabalho é remoto, híbrido ou presencial. O que temos verificado é que se torna difícil reter talentos se não tivermos uma resposta atrativa a este nível. Penso que será importante evoluir e renovar a própria cultura das empresas. Não vai ser fácil contrariarmos este movimento; temos de adaptar a cultura das empresas a esta realidade” Rui Fernandes, Sales Engineer, Varonis: “Muita da capacidade de reter talentos – com a questão de saber se vão trabalhar de casa ou do escritório – tem a ver com a cultura da própria empresa. Há organizações que arranjaram estratégias para conseguir conjugar ambos os cenários, onde se trabalha em casa quando há trabalho mais operacional, mas depois as próprias pessoas começam, elas próprias, a sentir necessidade de estarem presentes. Mediante a maturidade que as organizações têm de evoluir nos seus processos, as próprias pessoas estão a corresponder e, por sua iniciativa, pedem que exista um equilíbrio” Estamos perante um novo paradigma da forma de trabalho, de colaboração e até de educação e aprendizagem, em que a pandemia constituiu um enabler da transformação. Como vê o futuro da mobilidade e da forma como as empresas podem organizar o trabalho nesta nova realidade? Nuno Nogueira, Decunify: “O trabalho não é um local físico; é uma atividade. Essa é uma consciência que já existe há muitos anos em várias organizações devido à dispersão geográfica dos colaboradores. O que a pandemia nos trouxe foi a aceleração desse conceito. Muitas organizações nem percebiam que tendo as pessoas dispersas geograficamente conseguiam, na realidade, continuar a ser produtivas. As organizações perceberam que conseguiam ter estes modelos de trabalho e manter o seu negócio em funcionamento” Luís Lança, Logicalis: “A pandemia impulsionou a transformação da mobilidade, no trabalho e, até, na adoção de tecnologia. Os sistemas audiovisuais para videoconferência já existem há dez anos ou mais, mas, muitas delas, pareciam obras de arte nas salas porque não eram utilizadas; hoje são utilizadas com fundamento. Hoje, com ferramentas como o SharePoint, podemos trabalhar em documentos em simultâneo; antes cada um fazia a sua versão e um compilava tudo. Até esta forma de produtividade – trabalhar em simultâneo – é extremamente importante” Nuno Pereira, Noesis: “Há um conjunto de desafios que vão continuar a ser importantes, como a forma como as empresas, ao entregarem devices aos colaboradores, têm de mudar o ownership dos dispositivos, dos dados, da propriedade daquilo que está dentro dos devices. Isto tem sido algo que tenho visto muito ligado ao mundo da mobilidade, mas é algo com que muitas empresas ainda não se debateram a fundo; acho que isto será um ponto cada vez mais relevante porque há a exigência do remoto e do acesso ao trabalho remoto” Nelson Martins, Channel Manager, Asus: “É importante que as empresas mudem os processos e possam evoluir. As empresas têm de assumir que querem realmente dar esse passo, que querem agarrar o salto para um futuro de mobilidade e, para isso, é preciso que apostem em novas soluções. Estamos a falar de soluções tecnológicas que permita às empresas darem aos seus funcionários equipamentos ou soluções alternativas para quem precisa de estar sempre ligado e em constante movimento, em qualquer hora e em qualquer lugar”
Mário Platt, Director Information Security and Privacy (Governance, Risk Management and Compliance), LastPass: “A pressão que vejo bastante nas empresas é a maneira de gerir trabalho de forma assíncrona. É muito fácil do lado da tecnologia ter toda a gente ligada na mesma chamada, mas de maneira como se começam a abrir as portas da mobilidade, passamos a ter, potencialmente, colaboradores dispersos pelo mundo. Tem de ser um foco da gestão e do leadership. Também há a parte das expetativas dos trabalhadores: há cinco anos não havia muitas expetativas para aceder a dados empresariais, mas hoje já existe” Como é que se pode fazer uma gestão eficaz dos dispositivos fisicamente presentes e os ligados remotamente à rede da organização? Neste mundo híbrido entre o ainda escritório clássico com os seus ativos, e os milhões de novos escritórios que nasceram da pandemia, como se garante a integridade aplicacional, os dados e a usabilidade do espaço virtual de trabalho?
Rui Fernandes, Varonis: “É importante que as empresas tenham essa consciência, de ter uma estratégia definida de proteção de dispositivos, perceberem a importância que existe. A pandemia foi uma coisa horrível, mas, do ponto de vista de trabalho, efetivamente tiveram de se agilizar, de ir buscar rapidamente soluções que não tinham. Começámos a observar tecnologias de forma mais transversal, coisas que víamos mais ao nível do enterprise e hoje já é quase comum vermos em todos os verticais e todas as dimensões” Mário Platt, LastPass: “Os desafios são reais e existe não só a parte de garantir acesso seguro a quem tenha soluções on-premises, mas também a maior parte das empresas têm, hoje, uma exposição muito grande a Software-as-a-Service. Uma das partes a salientar é como se faz a gestão de identidades, questões como o single sign-on onde empresas que não têm uma aproximação robusta a ter a certeza de que tudo está integrado” Luís Lança, Logicalis: “Temos de acreditar numa adoção de consciencialização. Essa consciencialização passa pelas pessoas, pelos nossos colaboradores, e, até, de um ponto de vista pessoal. Se perder os meus dados, o que é que pode acontecer? Depois dessa consciencialização pessoal, é preciso estender às empresas. Se não soubermos defender a nossa própria casa e não tivermos a consciencialização de quais são os riscos dentro da nossa casa, muito menos teremos dentro de uma empresa” Nuno Nogueira, Decunify: “É fundamental que as empresas comecem a adotar políticas de segurança e não apenas autenticação. Hoje, a maior parte das empresas adotam autenticação – como MFA –, mas, depois de o utilizador estar autenticado, consegue aceder a toda, ou grande parte, da infraestrutura de rede. O que é fundamental é começar a dar a autorização respetiva a cada utilizador; se trabalho no departamento de marketing, acedo a todas as aplicações de marketing e não tenho de aceder à organização toda”
Nuno Pereira, Noesis: “Existem ferramentas de gestão de identidade mais modernas viradas tanto para aquilo que é o utilizador interno, mas também para aquilo que é o consumidor do nosso negócio. Esse tipo de ferramentas endereça não só a autenticação, mas também o próprio acesso. Penso que a tendência também será a introdução de novas tecnologias nestas ferramentas que nos permitem trabalhar a segurança baseada em contexto” A segurança continua a ser um ponto importante. Como é que se pode melhorar a cibersegurança das organizações? Como é que se pode sensibilizar os clientes finais e os seus colaboradores para os perigos que daí resultam? Como é que se pode manter a infraestrutura o mais segura possível? Mário Platt, LastPass: “É muito fácil olhar para melhores práticas e certificações e tentar gerir ou definir programas dessa forma, mas as empresas têm de olhar para as ameaças que estão a afetar as organizações. Existem relatórios que indicam isso. Ter um foco no tipo de ameaças que são mais comuns é onde as empresas deviam começar. No Reino Unido, há guias e sistemas de certificação que são muito direcionados, sobretudo, para PME. Claro que empresas com milhares de colaboradores têm de ter uma aproximação diferente” António Correia, WatchGuard: “As coisas não ficaram mais simples e o trabalho híbrido não veio facilitar a tarefa. Temos tecnologia mais do que suficiente para dar resposta a isto. Acho que tudo se deve basear na aposta numa política de confiança zero; as pessoas devem ter – apenas e só – acesso àquilo que precisam para trabalhar. A questão do perímetro e do on-prem não perde importância porque existem sempre assets mais importantes que temos de proteger, mas se calhar ganhou preponderância proteger todos os assets que andam por aí, como soluções de endpoint security, XDR” Rui Fernandes, Varonis: “As tecnologias são ótimas, mas a segurança são processos. Conseguimos ter uma empresa mais segura com menos tecnologia do que outra que tenha muita tecnologia, mas não tenha qualquer tipo de modelo de governo, não tenha gestão de vulnerabilidades, que não tenha uma gestão de identidades. Os processos continuam a ser o grande desafio. Hoje, a informação está espalhada por todo o lado, informação essa que nem sempre deve estar acessível por todos. É preciso que as pessoas e as empresas percebam onde o risco está para depois serem ágeis”
Luís Lança, Logicalis: “A source of truth vai ser cada vez mais importante nas organizações, saber que tipo de assets é que tenho e como é que vou fazer a gestão de vulnerabilidade dos mesmos. Temos de ter uma boa política de segurança com uma adição que é um backup com imutabilidade dos dados para, em caso de ataque, conseguir fazer uma recuperação rápida” Como é que o PC está a evoluir para fazer face às necessidades do mercado? Nelson Martins, Asus: “Temos assistido a uma grande transformação digital nos últimos anos. Com estas alterações, as empresas começaram a procurar soluções que lhes permita ter uma maior flexibilidade e mobilidade e fez aumentar a procura por soluções que permitam estar sempre ligados neste constante movimento. Os PC têm evoluído nesse sentido. Neste momento, há equipamentos ainda mais finos e leves, fáceis de transportar, com maiores autonomias de bateria, com possibilidade de ligação 4G e 5G e existe, também, a preocupação com um design mais moderno para os equipamentos” De que forma é que os decisores de IT estão a ajustar os seus investimentos para se adaptarem aos novos modelos de trabalho remotos e híbridos? Nuno Pereira, Noesis: “Tem havido um investimento forte na parte da adoção de cloud pública e soluções na cloud pública para acesso a partir de qualquer lado. Tem havido uma aposta muito grande na parte da automação e soluções de self-service para que os colaboradores consigam eles próprios ter o máximo de autonomia e pedir as suas próprias aplicações e serviços corporativos com o mínimo de intervenção possível. Tem, também, havido uma demanda de soluções de Device-as-a- Service, de abordagens de modelos de aquisição de equipamentos flexíveis que permitam um scale up e um scale down de uma forma muito mais rápida”
Nelson Martins, Asus: “Os orçamentos parecem estar cada vez mais apertados. Mas a principal preocupação das equipas de IT é a segurança e a forma como vão conseguir dar suporte remoto nesta nova realidade ao mesmo tempo que conseguem garantir máquinas com elevado desempenho e robustas. Temos sentido uma preocupação com essas questões e, muitas vezes, parece-nos que existe uma preocupação maior com as specs de segurança e desempenho do que com o número de equipamentos a adquirir” António Correia, WatchGuard: “Os recursos continuam a ser escassos, continua a não haver orçamento para tudo o que se devia fazer, mas isso acaba por ser natural e com o qual se tem de lidar. O que tenho visto mais a mudar na nossa área – cibersegurança – é uma maior adoção e investimento na parte de gestão de autenticações. Vejo mais sensibilidade por parte de instituições públicas como de privadas e aquilo que há dois anos era só um nice to have, só em alguns sítios se via recetividade, hoje é uma necessidade básica” |