Cloud: pública, privada ou híbrida?

Arrow ECS, Check Point, Claranet e Iten debatem o valor e as especificidades da cloud pública e privada. Porque o enabler chave do negócio é também um desafio para o IT do ponto de vista da sua gestão

Cloud: pública, privada ou híbrida?

Diferentes ritmos de adoção

“A transformação digital tem conduzido a uma mudança dos modelos de negócio. Acreditamos que em 2017 haverá um pulo na adoção de cloud”, preconizou Sónia Casaca, da Arrow ECS. Em 2016 as empresas demonstraram mais vontade em evoluir para a cloud. Sobretudo nas pequenas organizações, a nuvem tem sido sinónimo de agilidade. “Não pensam em adotar o IT tradicional”, frisou Vasco Afonso. “Estamos a falar de uma geração que não considera instalar toda uma infraestrutura. São o oposto das médias e grandes empresas”.

Nestas ainda impera “um tradicionalismo do IT”, que se explica pela elevada componente legacy: “Têm dezenas e centenas de aplicações internas que têm de ser suportadas e não correm nativamente na cloud”. As empresas maiores têm outro problema: aplicações novas que continuam a depender das legacy.

“Transportar aplicações legacy para a cloud é muitas vezes complexo”, salientou Miguel Sousa. “Estamos por isso a implementar serviços paralelos, de Disaster recovery- as-a-Service e de Backup-as-a-Service para levar as empresas para a cloud de uma forma mais gradual. Depois, então, começa a aparecer a componente de Infrastructure-as-a-Service (IaaS)”. As pequenas empresas têm ainda tendência a ser multicloud, ou seja, a recorrer a múltiplos prestadores de cloud pública e a soluções complementares.
 

Realidade híbrida

“Os indicadores apontam que 70% do mercado estará on-premises, ou seja, fará parte de uma cloud privada ou híbrida”, destacou o responsável da Iten, que tem realizado projetos nos quais o “motivador de negócio” obriga a ter uma cloud privada, sobretudo pelo fator financeiro.

“A cloud pública, do ponto de vista de IaaS, não é competitiva e para cenários específicos de aplicações não é flexível. Com a cloud privada conseguimos essa flexibilidade”, justificou. “Existem situações em que optamos pela cloud pública para colocar parte dos serviços, mas em determinados momentos do negócio”.

Vasco Afonso chamou a atenção para a existência de “um misto de IT interno, cloud privada e clouds públicas” no seio das empresas, até porque, do ponto de vista de compliance, há requisitos legais que obrigam as empresas a manterem os seus dados em Portugal. “Acreditamos que as clouds públicas, sozinhas, não respondem a 100% dos casos. Para que tal acontecesse, muitas das empresas teriam de transformar-se completamente. É aqui que as clouds privadas, e híbridas, entram”.

O que fica em cada cloud?

A agilidade e criticidade das aplicações e do negócio ditam o que transita para a nuvem. “Para uma empresa o e-mail pode ser crítico e para outra não”, exemplificou Sónia Casaca, falando numa “transformação faseada e coerente com o negócio”.

A Claranet tem observado que dentro de cada empresa existem várias velocidades. “Nas grandes empresas as componentes de desenvolvimento estão a ser exportadas para clouds públicas”, indicou Paulo Vieira. “Há empresas que utilizam frequentemente a cloud pública para os serviços online”, apontou Vasco Afonso, dando como exemplo a Niantic, responsável pelo fenómeno Pokémon Go, cujas necessidades de infraestrutura aumentaram 50 vezes em poucas semanas.

“Se um serviço ou produto for lançado sobre uma cloud privada e registar elevada procura, não há capacidade para escalar rapidamente”, realçou. “Quando estamos a falar de plataformas para as quais sabemos que as capacidades de armazenamento e processamento são constantes, pode fazer sentido falar de clouds privadas. Quando estamos perante algo mutável ao longo do tempo, a cloud pública encaixa melhor”.

Cloud privada é financeiramente competitiva?

“O que existe numa cloud pública, em termos de modelos financeiros e da respetiva escalabilidade, já começa a existir on-premises”, assegurou Miguel Sousa. O responsável da Iten referiu que existem exemplos de empresas que começaram na cloud pública e que, financeiramente, “perceberam que conseguiam passar grande parte do negócio para on-premises”.

Paulo Vieira chamou a atenção para o facto de, na cloud pública, os tempos de resposta serem superiores. “Não são bem os SLAs que as empresas têm nas suas próprias infraestruturas”.

Para Vasco Afonso, no entanto, o debate cloud privada/pública “não se pode resumir a cenários financeiros” e relaciona-se, sobretudo, “com a atividade da empresa e as suas necessidades”. Ainda assim, distinguiu quando uma é mais proveitosa do que a outra. “A cloud privada é mais vantajosa para organizações com mais de mil servidores. Sob o ponto de vista de IaaS, raramente a cloud pública é mais competitiva”, enfatizou. “É em todos os outros serviços, de Platform-as-a-Service e de Software-as-a-Service, que reside o seu verdadeiro potencial”.

Assim, e como resumiu Paulo Vieira, o mais importante no momento de decidir o que fica em cada cloud “é o retorno para o negócio”.

IT ainda resiste

“O IT interno é um bloqueio à evolução para a cloud”, defendeu Vasco Afonso.
“Sente que o seu posto de trabalho está a ser posto em causa. O problema são a falta de skills em cloud pública. Por um lado temos de ter os skills mais tradicionais e, por outro, apostar em plataformas de cloud multidisciplinares”.

Miguel Sousa colocou o ‘dedo na ferida’: “Nota-se muito que o IT é, em grande parte das empresas, um silo, ou seja, está completamente desalinhado com o negócio. Quando as empresas perceberem que o IT é parte integrante deste, o caminho será mais fácil”.

Neste cenário, os fabricantes também têm uma importante responsabilidade. Segundo este painel, já o perceberam, e não por acaso estão apostar cada vez mais na venda de software e de serviços cloud.

Manter o controlo é preocupação

A transição para clouds privadas é mais fácil por estas assentarem em plataformas de virtualização que o IT interno tão bem conhece e no qual confia.

“De alguma forma as empresas sentem que controlam essa infraestrutura”, frisou Vasco Afonso. Segundo Sónia Casaca, as empresas “não pretendem abdicar do controlo sobre a rede interna e sobre a infraestrutura”.

A representante da Arrow ECS destacou ainda que os fabricantes de cloud privada estão a disponibilizar soluções de segurança em linha com as dos providers de cloud pública. Vasco Afonso defendeu, no entanto, que a cloud pública é mais segura do que a privada, porque esta “é uma das maiores preocupações dos providers”. O mais importante é que as empresas tenham “competências internas para a gestão dos dados”.

Paulo Vieira revelou as perceções das organizações face à segurança: “Em primeiro lugar, as empresas pretendem continuar a ter a visibilidade que tinham no passado, típica de ambientes e infraestruturas internas, e tendem a querer não perder essa visibilidade nas clouds públicas. De seguida, procuram a capacidade de fazer um assessment à segurança total da infraestrutura que está na cloud. E depois procuram monitorizar o tráfego de uma forma eficaz, como fazem nas redes privadas”.


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