Cloud é um caminho híbrido

Arrow, Claranet, Colt Technology Services, Kaspersky Lab, Microsoft, Nutanix e Schneider Electric pronunciam-se sobre as especificidades da cloud, em trajetória ascendente e com um papel central na transformação digital

Cloud é um caminho híbrido

Ao serviço da inovação

A cloud é o suporte necessário a negócios digitais, inviáveis sem um modelo de consumo de IT assente na ‘nuvem’, tanto privada como pública. Ambas devem, aliás, caminhar lado a lado. Segundo a Microsoft, as empresas estão cada vez mais alerta para o que têm de fazer já hoje para se manterem relevantes amanhã. “O futuro nunca deixará de ser híbrido, mas será cada vez mais um futuro público no que diz respeito à adoção da tecnologia que permite inovar”, defendeu João Tedim, cloud and enterprise business group lead na Microsoft. A tecnologia é hoje “o asset que transforma o negócio”, afiançou, mas esta transformação não pode ocorrer num ‘piscar de olhos’ nas empresas que não são nativas digitais: “Há grandes desafios na adoção de serviços cloud quando as empresas têm um IT pré-existente”. A tecnológica tem uma visão de cloud híbrida, no sentido de “dar resposta aos cenários legacy das organizações”, disse.

Vasco Afonso, head of public cloud da Claranet, falou na existência de uma “cultura de cloud híbrida”, porque a prioridade é ser-se competitivo. “As empresas com legacy perceberam que têm de adaptar-se. Procuram soluções que lhes entreguem inovação, para tornar o seu negócio mais ágil, pelo que encontramos frequentemente soluções híbridas”. No entanto, o responsável acredita que num futuro bem próximo “as empresas vão deixar de investir tanto em infraestruturas próprias”.

Segundo Pedro Vale, sales manager da Colt Technology Services, a cloud híbrida está a triunfar porque ainda há um conjunto de infraestrutura que fica dentro de casa. No entanto, observou, “as empresas que nascem agora já não pensam em cloud híbrida, apenas em cloud pública”.
 

Investir na competitividade

Modernizar a infraestrutura é imperativo. No entanto, os investimentos em cloud “dependem do estado de maturidade da empresa – não do IT, mas da empresa”, sublinhou Carlos Carvalho, cloud business unit manager Portugal da Arrow. “Ter o IT como diferenciador para o negócio é algo que a cloud possibilita, mas em Portugal há empresas que ainda não entenderam que se trata de uma ferramenta que as torna mais competitivas”. Ainda assim, na maior parte dos casos começa agora a ser percebido que a cloud – privada, pública ou híbrida – “pode conduzir a um salto quântico”. A forma como empresas de maior e menor dimensão têm caminhado para a cloud difere. “Temos sentido que as grandes organizações estão a abordar a cloud duma forma mais transformadora. As pequenas empresas estão na cloud mais na perspetiva da redução de custos, ou pela simplicidade das soluções de software-as-a-service (SaaS)”, esclareceu.

Esta perceção tem de vir do topo, da gestão, que espera que o IT seja um business driver e já não somente um business enabler, decisivo para a rapidez com que se lançam novos produtos e serviços no mercado. “A cloud aproxima o negócio da tecnologia, o IT da gestão”, frisou Pedro Vale. Rui Pinho, VSMB & channel sales da Kaspersky Lab, realçou que a cloud privada tem um custo “muito mais previsível” do que o da cloud pública. “Estamos a entrar na fase do infrastructure-as-a-service (IaaS). A etapa seguinte é o platform-as-a- -service (PaaS)”.

A Claranet, por sua vez, acredita que as empresas têm investido em infraestrutura própria por falta de alternativa no mercado, dado que há especificidades do negócio que não podem passar para a cloud pública. A empresa aliou-se à Microsoft para lançar, em breve, uma solução de cloud híbrida com Azure Stack. “Na prática, vamos conseguir trazer os benefícios da cloud pública para perto dos nossos clientes”, explicou Vasco Afonso.
 

Modelo privado quer-se flexível e dinâmico

Mais do que optar por um tipo de cloud, as empresas preocupam-se com a flexibilidade. “Se é conseguida num modelo híbrido ou não depende das organizações e do seu estado de maturidade”, justificou José Duque. No entanto, o que as empresas não pretendem é uma solução fechada e definitiva. “Pensam em consumir onde o custo for menor e onde for melhor para cada tipo de workload”. Importa igualmente garantir que as empresas conseguem gerir os seus próprios workloads, estejam onde estiverem. “Trata-se de garantir que os workloads estão seguros e controlados tanto na cloud privada como na pública”, acrescentou.

Como reforçou Carlos Carvalho, da Arrow, é fundamental haver uma cloud híbrida “dinâmica”, para que o negócio “decida a cada momento onde cada workload deve estar”. José Duque notou que as empresas procuram ter na cloud privada os benefícios da cloud pública, do ponto de vista da agilidade, mas mantendo a propriedade dos dados e um controlo sobre os SLA. Realçou ainda que na cloud privada “o pay per use também é válido” e que “é possível o pay as you grow se a infraestrutura for software- -defined”.
 

Boas práticas na adoção da cloud

Planeamento, identificação dos serviços core do negócio (indispensável na fase da consultoria), automatização e orquestração – eis os quatro passos recomendáveis. Todos são fundamentais, mas o primeiro é incontornável, pois permite avaliar o retorno para o negócio. Sem planeamento, as decisões são reativas, conduzindo a investimentos menos acertados. “Abraçar a cloud, pública ou privada, sem avaliar porque o negócio precisa de determinada solução nem sempre tem produzido os melhores resultados”, advertiu Carlos Carvalho. “Os dois últimos pontos por vezes são esquecidos ou vistos de forma incompleta. O maior foco tem de ocorrer na fase de automação. Caso contrário, não haverá a velocidade necessária”.

Importa definir o que o negócio procura e, segundo Vasco Afonso, identificar o que é crítico do ponto de vista das aplicações a executar, assegurando sempre que nada deixa de funcionar. Ainda assim, “as empresas têm de se preparar para as falhas, porque vão acontecer”, alertou. O responsável da Claranet realçou ainda que importa não manter tudo dentro de casa e considerar a cloud pública para backup e disaster recovery. Apostar num sistema “resiliente às falhas”, que permita ao negócio crescer de forma não disruptiva e com tão poucas migrações quanto possível foi um dos conselhos deixados por José Duque. “Custam muito tempo e muito dinheiro”, alertou. No momento de migrar, “importa fazê-lo por fases”, aconselhou Rui Pinho, da Kaspersky Lab.
 

Empresas saltam etapas

Se há cinco anos havia alguma resistência e desconfiança face à cloud, hoje estes entraves estão ultrapassados. “As organizações já perceberam que a cloud não é um centro de custos a nível de IT”, assegurou Vasco Afonso. No entanto, os desafios da cloud são agora de natureza mais prática e dizem respeito ao seu roadmap: quando e como adotá-la. “Temos observado que muitas organizações saltam etapas”, realçou João Tedim. “De repente, temos dois mundos que coexistem: por um lado, procura-se a inovação da cloud pública, por outro assegurar alguns serviços legacy na cloud privada”. Carlos Carvalho, da Arrow concordou, reforçando que tudo depende da forma como o negócio olha para a cloud. “Só quando existe uma visão para a transformação digital logo ao nível do board e a cloud é entendida como um driver do negócio é que todos os passos são seguidos”.
 

Não descurar a infraestrutura

Além das boas práticas, há elementos a não descurar: por um lado a computação e o armazenamento e, por outro, a própria infraestrutura de data center. “Há clientes que procuram fazer a sua própria cloud, mas que se esquecem da infraestrutura física, como as UPS e o cooling”, indicou Luís Lopes, da Schneider Electric. “É necessário um data center completamente modular, flexível, eficiente, standard, que possa aportar o mesmo que os players de cloud pública. Existe a tendência para descurar um pouco a infraestrutura que suporta o IT”. Vasco Afonso, da Claranet, reforçou a mensagem: “Primeiro há que olhar para a infraestrutura e só depois é possível pensar no dimensionamento da capacidade de computação de que as aplicações necessitam”. José Duque alertou que é igualmente importante “evitar o lock-in de hardware e software”.
 

Arquitetura simplificada com a hiperconvergência

Nas suas dez previsões de cloud para 2017, reveladas em abril, a Forrester aponta a infraestrutura hiperconvergente, dizendo que ajudará a cloud privada “a tornar- se real”. Tempos mais rápidos de implementação são apontados como um dos principais benefícios. Para os protagonistas desta Round Table, porém, não pode ser vista como uma solução que tudo (e todos) serve. “Há casos em que ajuda bastante, pela simplificação da arquitetura”, explicou Vasco Afonso. “Para uma empresa pequena, que por algum motivo necessite de manter-se on-premises, ter uma solução hiperconvergente faz sentido. Existem, contudo, casos em que faz sentido desagregar, se a empresa cresce mais depressa em computação ou em armazenamento”.

Tudo depende do negócio, mas “em 80% dos casos”, salientou, a hiperconvergência consegue dar a resposta necessária. Do ponto de vista financeiro e das funcionalidades, a infraestrutura hiperconvergente apresenta vantagens. “Deve ser considerada quando se procura uma solução simples de gerir e a possibilidade de escalar – dentro da própria empresa ou para a cloud pública”, acrescentou Carlos Carvalho. No fundo, resumiu, “é uma excelente solução quando se procura um ambiente híbrido dinâmico”. Para José Duque, “não é um fim em si mesma”, antes uma abordagem com um objetivo muito claro: diminuir a complexidade das infraestruturas. “Facilita muito a gestão, baixando tremendamente os custos operacionais, incluindo os de infraestrutura”.
 

Segurança já não é barreira

A Schneider Electric acredita que “nem tudo pode ser colocado na cloud”. Luís Lopes, enterprise manager ibérico, justificou esta questão com “questões relacionadas com a segurança”. Apesar de existir ainda “o estigma da segurança e de quem gere os dados”, sublinhou Rui Pinho, “o mais importante será verificar o core do negócio e depois então evoluir para o que poderá ser colocado na cloud pública ou não”.

Na visão da Kaspersky, os sistemas de back-end ficam, por norma, em cloud privada, ao passo que as aplicações e seus derivados, o front-end, podem ser colocados na cloud pública. Vasco Afonso lembrou que os grandes providers “têm engenheiros de segurança dedicados, a trabalhar diariamente” porque, ao contrário do que acontece com o resto do mercado, “partem sempre do princípio que estão a ser atacados”. Para este painel, cabe a estes fornecedores assegurar, no entanto, aquela que é hoje a grande preocupação: a privacidade dos dados. “O novo Regulamento Geral de Proteção de Dados tem sido muito relevante", realçou Vasco Afonso. “Esta questão é o que por vezes ajuda a tomar uma decisão entre cloud privada e cloud pública. Neste campo, as empresas de cloud pública são muito mais compliant”.
 

Participantes nesta round table:

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