As organizações estão já a olhar para as soluções as-a-Service como uma mais-valia para os seus negócios. A Ar Telecom, a Arcserve, a Claranet, a Extreme Networks e a Ritain apresentam as suas visões sobre o presente e o futuro da Cloud e do XaaS.
É inegável a adoção de cloud nos últimos anos por parte das organizações. No caso dos modelos as-a-Service em ambiente cloud, as empresas têm a oportunidade de colocar a gestão da infraestrutura de IT em especialistas, numa perspetiva de pay-as-you-go, permitindo que o foco se concentre no core business. A adoção de um modelo as-a-Service deixou de estar apenas centrada no valor das soluções, para começar a oferecer outros benefícios às empresas, entre eles uma maior escalabilidade, flexibilidade, poupança de dinheiro e maior produtividade das equipas.
Atualmente, em que ponto se encontra o mercado de as-a-Service? Está mais consolidado?
Rui Bernardo, Cloud Services Director da Claranet: “Este mercado do as-a-Service está em constante expansão, vai continuar em constante expansão durante bastante tempo. Nalgumas áreas já está consolidado, mas depois existe aqui muita inovação, muitas empresas novas a surgirem, muitas soluções novas e estamos todos à procura, quer providers de serviços, quer empresas que necessitam de serviços de cloud, das novas soluções, quais são os serviços, as soluções mais inovadoras, para encaixar naquelas especificidades do seu negócio, de maneira a fazer um fit perfeito e potenciar o seu lucro” Vasco Sousa, Channel Account Manager da Arcserve: “Se compararmos Portugal com o Reino Unido ou com os EUA, onde ao nível das PME, representam 80% do mercado em modelos as-a-Service, cá em Portugal estamos ao nível dos dois dígitos, na casa das dezenas em termos de percentagem do valor do mercado. A verdade é que os market makers também têm afunilado bastante as suas ofertas para modelos as-a-Service e isso não é necessariamente mau. O facto de desaparecerem do mercado modelos e produtos em licenciamento perpétuo até pode ser um empurrão para os gestores mais conservadores” Nuno Rocha, Diretor Técnico da Extreme Networks: “Enquanto na parte de software, na parte de cibersegurança, esses passos têm estado a ser dados e tem-se visto uma evolução grande nessa perspetiva, na parte de infraestrutura, mais física, são coisas que estão agora a caminhar para esse sentido. As empresas têm de se focar no seu core business e o seu core business não é IT. É um paradigma que está a evoluir, mas vai evoluindo dentro das mentalidades de quem gere as empresas para que realmente se possa passar para um modelo as-a-Service” As empresas já têm a perceção dos benefícios que a adoção de um modelo as-a-Service pode trazer para a sua operação ou ainda se reduz apenas ao valor das soluções? Pedro Morgadinho Nunes, Diretor Comercial da Ar Telecom: “Há várias mais-valias que estas soluções as-a-Service trazem, que não são apenas os retornos financeiros ou o ROI ao fim de dois/três anos porque eu deixei de ter uma coisa on-prem e passei para a componente cloud. Tem sido muito interessante, na Ar Telecom temo-nos apercebido disso, de que os clientes já estão a olhar, quando falam para este tipo de serviços, sobre o que é que isto vai trazer de mais-valia, não só direta, financeira, mas também indireta, do ponto de vista organizacional” Fábio Machado, Cloud Specialist da Ritain: “Cada vez mais as empresas tendem a ver benefícios, não só na componente do custo e do valor das soluções, mas também no que toca à parte de escalabilidade, poder colocar os seus workloads, poder fazer escalabilidade sem necessitar, efetuar compra sem necessidade de adiantar aqui algum valor. Na componente do acesso global também – hoje temos organizações que nascem num determinado país e rapidamente são internacionalizadas. Existe a necessidade também de existir todo este acesso global” Quais são os principais motivos para as organizações procurarem soluções como um serviço? É a facilidade de gestão, o aumento de produtividade ou a redução dos custos?
Fábio Machado, Ritain: “Neste momento, o valor das soluções não é o único motivo que as organizações procuram para utilizar o as-a-Service. Existem vários tipos de organizações e cada uma tem a sua perspetiva e também as suas necessidades. Muitas organizações vêm pelo motivo de facilidade de gestão, não só associada à parte da facilidade de gestão, mas também à componente de custo e outras. Aqui acabamos por estar a interligá-las todas, já não existe um único ponto em que se foca” Nuno Rocha, Extreme Networks: “É a necessidade do cliente se manter sempre a par da tecnologia, de se manter sempre com uma substituição de equipamentos, ter os equipamentos sempre sob contrato, que o leva também a olhar para essa vertente e acaba por ser também um libertar das suas próprias responsabilidades para com a rede, para com a contratação de pessoas de IT, que, hoje, sabemos que estão escassas, não existem no mercado, e isso acaba por orientar dentro do que é a procura dos clientes para esta parte do as-a-Service” Rui Bernardo, Claranet: “Por um lado, temos a necessidade de dar resposta aos serviços que são, muitas vezes, já considerados commodities – dos Managed Services tradicionais, das infraestruturas, dos sistemas e serviços tradicionais de IT; e, por outro lado, temos de dar condições para interagirmos com os clientes em blocos e patamares diferenciados na cadeia de serviço. Isso tem sido algo que nós vemos como uma necessidade que as organizações têm cada vez mais” Tem havido alteração nos workloads que os clientes procuram em modelos as-a-Service?
Vasco Sousa, Arcserve: “Nas PME vejo que, de facto, tem havido essa adoção, ou seja, o gestor tradicional se calhar aqui há cinco anos dizia ‘Eu prefiro fazer um projeto chave na mão, compro uma storage para alojar os meus backups. Agora tenho dinheiro, vou investir nisto, mas depois não quero ficar preso a uma renda’. Eu acho que, hoje, já não é tanto assim: tipicamente, em ambientes mais pequenos, adotam estes modelos as-a-Service. Não é por serem mais pequenos que são menos críticos. Também houve, da parte dos fabricantes e falando da componente da Arcserve, o facto de as ofertas serem mais baratas” Fábio Machado, Ritain: “Os clientes procuram cada vez mais modelos as-a-Service, procuram mover os seus workloads para modelos as-a-Service. Aquilo que aconteceu numa fase inicial, e por desconhecimento, pelos clientes terem algum receio, era que os workloads que eram movidos para modelos as-a-Service eram os que seriam os menos críticos, aqueles que menos impacto iam ter no core business de cada organização. Neste momento começamos a ter um crescimento notório do movimento de workloads críticos para os modelos as-a-Service” A digitalização do negócio representa uma oportunidade única para as organizações ganharem vantagem competitiva num mercado em constante disrupção. Quais são as principais necessidades que sentem por parte dos vossos clientes? Nuno Rocha, Extreme Networks: “Não é fácil no ambiente em que nos encontramos e com a diversidade de empresas e de métodos e tudo o que existe dentro do mercado conseguir endereçar exatamente todas as necessidades que ocorrem porque temos desde empresas altamente tecnológicas, com processos muito fáceis de digitalizar, até empresas muito agarradas ao passado, com autómatos ou com máquinas que são difíceis de conseguirmos correlacionar. Claro que ambas conseguem ‘beber’ e há vários produtos dentro do mercado que ajudam a esse desenvolvimento e essa digitalização” Rui Bernardo, Claranet: “Existem aqui necessidades que antigamente eram trabalhadas, por exemplo, com o desenvolvimento de ferramentas à medida, equipas de desenvolvimento que trabalhavam com essas soluções em cima do cliente para chegar às necessidades. Por vezes era um processo longo, demorado, bastante caro e, hoje, há uma quantidade enorme de novas empresas a disponibilizar soluções inovadoras, potenciadas por esta questão dos investimentos de risco que fazem com que estejam a surgir a todo o momento novas soluções” Pedro Morgadinho Nunes, Ar Telecom: “Sentimos que conseguimos dar respostas às solicitações dos nossos clientes, sejam elas mais ou menos complexas, mais ou menos limitadas. O que muitas vezes temos de fazer é passar esta confiança de relação e de que nós somos o parceiro certo e que conseguimos ajudar o seu negócio, o negócio do cliente ou dos seus clientes finais a crescer. E é esta a necessidade que nós estamos a sentir, principalmente nos últimos três anos, depois do COVID-19, em que sentimos que houve esta transformação” O aumento da produtividade das equipas – sejam ou não de IT – são um ponto tido em conta na altura de adotar uma nova solução na cloud? Fábio Machado, Ritain: “A produtividade, sim, aumenta bastante com as soluções cloud. Permite também a melhoria e a eficiência de processos, que é algo que acontece dentro de todas as organizações, algo que pode ser configurado, pode ser realizado dentro de aplicações, plataformas modelos as-a-service que já estão disponibilizadas por parceiros e por outros providers. As organizações adotam essa ferramenta e apenas têm de gerir qual é o seu processo de funcionamento e, a partir desse momento, começam a utilizar de uma forma muito rápida” Rui Bernardo, Claranet: “Ao se adotar soluções cloud, há aqui uma expectativa que tudo vai ser mais fácil, mais rápido, e que vai permitir agilizar e acelerar o que acontece. Seja porque se consegue aceder às aplicações de qualquer local, os dados genericamente estão disponíveis a partir de qualquer local, a qualquer hora, usando qualquer tipo de dispositivo. Isso, teoricamente, melhora as condições de comunicação entre as pessoas. Supostamente aqui a eficácia e a produtividade ficam potenciadas” A escassez de talentos é uma realidade de várias áreas, como é o caso da cibersegurança. Estas soluções são muitas vezes adotadas como um serviço. Qual é a principal razão para a adoção deste tipo de serviços?
Pedro Morgadinho Nunes, Ar Telecom: “Esta dificuldade de contratação e a manutenção destes recursos, porque às vezes pode ser mais difícil contratar, mas pode ser ainda mais difícil manter, é um bocadinho um misto do que o mercado necessita, nós como providers necessitamos, e podemos fazer aqui um gap entre aquilo que existe de muita procura para aquilo que existe de oferta disponível. Estas soluções de modelos as-a-service entram muito nesta componente de nós, como providers, colmatarmos lacunas que o mercado sente, e que tem dificuldade a contratar” Vasco Sousa, Arcserve: “Os modelos as-a-Service encaixam muito nos modelos de Managed Services. Aqui, acho que os parceiros têm de fazer um bocadinho mais de trabalho em acrescentar valor e diferenciação para o cliente final. Temos tudo as-a-Service e nós vamos vendo cada vez mais compartimentalizadas estas especificidades que, obviamente, necessitam de pessoas que sejam altamente especializadas. O informático que tratava de tudo há dez ou 15 anos, hoje não consegue ter esta especialização” Quais as previsões para o mercado de as-a-Service? As organizações vão continuar a apostar nestes modelos?
Nuno Rocha, Extreme Networks: “Começamos a ter uma grande granularização do que é que é esta questão do as-a-Service. É um serviço, é uma função, é um bocadinho de tecnologia, é o que a empresa na realidade não consegue produzir dentro de si e dentro dos seus contactos para as suas necessidades. E isso é o futuro do as-a-service: não é apenas tecnológico, mas é sim na noção do serviço. Hoje vamos para a cloud e, em vez de estarmos a correr uma máquina virtual, estamos a correr uma pequena porção de código. Isso vai passar muitas vezes nesta vertente mais humana destas necessidades” Vasco Sousa, Arcserve: “Os benefícios estão assimi - lados, ainda que em alguns desses casos os clientes até tenham sido um bocadinho empurrados para estes modelos. Não é necessariamente mau às vezes fazermos uma coisa um bocadinho contrariados até para expe - rimentarmos os benefícios. Eu, se tivesse de apostar, era capaz de ser um bocadinho mais radical: eu acho que os clientes vão exigir mais modelos as-a-Service, acho que até vai ser o próprio mercado a solicitar” Pedro Morgadinho Nunes, Ar Telecom: “Temos de estar preparados para dar as soluções o mais próximo possível do cliente, utilizar o edge computing como uma base que permita a estas empresas chegarem rapidamente e terem as melhores condições tecnológicas. Isto vai criar um ecossistema as-a-Service que vai ser muito pressionante para nós, do ponto de vista de que eu tenho de continuar a investir em infraestrutura, em componentes físicas, data centers físicos, locais, regio - nais, em fibras de alta capacidade, mas também do ponto de vista de know-how interno” |