IA ao serviço do desporto: o caso do futebol

O futebol vive uma era de transformação dentro e fora do relvado. Os técnicos têm hoje uma panóplia de ferramentas IA que lhes permite otimizar o desempenho, desenhar treinos precisos e táticas eficazes, com base na análise pormenorizada de dados. E todos os dados contam: cada sprint, passe ou remate é convertido em informação valiosa.

Em eventos como o EURO 2024, a IA assume a linha da frente na preparação das seleções. Nos treinos, a evolução dos atletas é acompanhada, fornecendo insights que podem fazer a diferença no desfecho das competições.

Já em 2003, o livro de Michael Lewis que, em 2011, foi adaptado para o grande ecrã em “Moneyball”, revolucionava a forma como pensamos o desporto. A história verídica de Billy Beane, diretor geral dos Oakland Athletics, e do seu assistente Peter Brand, mostrava como a análise avançada de dados poderia ser usada para construir uma equipa de basebol competitiva com orçamento limitado.

Performance e estratégia de jogo otimizada

Se, no início dos anos 2000, os Oakland Athletics tivessem acesso a IA, os treinadores e dirigentes conseguiriam analisar o jogo em tempo real, acedendo a recomendações de mudanças táticas e posicionamento dos jogadores. Sensores colocados nos jogadores e acionados por IA poderiam fornecer e tratar dados biométricos e aferir o grau de fadiga, resultando em decisões informadas sobre substituições e rotinas planeadas.

Com recurso a IA, a equipa técnica disporia de um painel de controlo com métricas avançadas, incluindo análise preditiva apoiada em machine learning, que anteciparia o desempenho futuro e consideraria variáveis como riscos de lesão, resiliência psicológica e compatibilidade com a equipa.

Os desafios do mercado de transferências também poderiam ter sido endereçados com a implementação de um assistente de IA para a análise de propostas, prevendo o valor dos jogadores envolvidos e apoiando o processo de negociação. O sistema de IA, com um chatbot a simplificar a comunicação, poderia simular o impacto das transferências no desempenho da equipa e sugerir contraofertas.

Hoje, estas ferramentas permitem uma abordagem dinâmica e altamente informada para a gestão do jogo, aumentando a vantagem competitiva dos seus utilizadores.

Avanços tecnológicos e o desafio da privacidade

À medida que a IA se entrelaça com o futebol, é imperativo abordar os desafios éticos do uso extensivo de dados. A recolha de dados biométricos e de performance dos atletas deve ser feita com total transparência, e as interações com fãs baseadas em IA enraizadas na escolha do utilizador, garantindo o respeito pela privacidade.

O potencial da IA estende-se à transformação da experiência do adepto e democratização do desporto, tornando o conteúdo mais adaptável e acessível. Com recomendações personalizadas e plataformas de streaming - com transmissões em diferentes idiomas -, os eventos desportivos tornam-se mais inclusivos e atrativos para uma gama mais vasta de espectadores.

A análise de vídeo potencia a IA, transformando cada movimento em campo em dados analíticos valiosos. O VAR, uma presença constante no futebol atual, operou com dois assistentes de vídeo e três operadores em todos os jogos do EURO 2024, competição que estreou também a tecnologia de bola conectada da Adidas – com envio de dados em tempo real para os oficiais de jogo, acelerando o processo de decisão. Estas soluções inovadoras estão, com precisão instantânea, a redefinir as regras e a dinâmica do futebol.

Com a adoção destas tecnologias, podemos esperar uma evolução contínua na forma como o jogo é jogado e gerido. Tal como os intervenientes de “Moneyball” mostraram que é a pensar fora da caixa que se atingem os objetivos, cabe à próxima geração de gestores desportivos utilizar IA para continuar a transformar o mundo do futebol.

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