Apesar de não ser um conceito novo, nos últimos anos “transformação digital” tem sido uma das maiores buzzwords no mundo dos negócios. Ainda assim, é sempre importante desmistificar o que é isto da transformação digital
O que nos vem rapidamente à cabeça são algumas outras buzzwords de cariz tecnológico, como “big data”, “artificial intelegence”, “augmented reality”, “computer vision”, entre outras. Contudo, transformação digital é um processo no qual as entidades fazem uso da tecnologia para melhorar o seu desempenho, aumentar o alcance e garantir resultados melhores. É uma mudança estrutural nas organizações, dando um papel essencial para a tecnologia, seja esta tecnologia altamente inovadora, ou tecnologias maduras. Um erro comum quando se aborda um projeto de transformação digital é o de pensarmos que tudo tem de ser tecnologia altamente disruptiva e inovadora, o que não é verdade, até porque é importante não esquecer que a capacitação das equipas que vão usar as tecnologias não pode ficar esquecida. Além disso, é preciso avaliar se as infraestruturas, entre outros aspetos tecnológicos presentes nas entidades, são adequadas. A infraestrutura é a base para a transformação digital, pois garante a disponibilidade e o funcionamento de todos sistemas. Este é um dos primeiros passos necessários para garantir o sucesso de um projeto de transformação. É de conhecimento comum que, infelizmente, a área da saúde em Portugal, especialmente o SNS, luta devido à escassez de recursos, e os meios tecnológicos nem sempre são os mais atualizados e preparados. Não vale a pena entrar em projetos megalómanos se não existirem as condições básicas para projetos de transformação digital mais simples. Existem projetos menos exigentes tecnologicamente que podem trazer ganhos imensos e melhorar substancialmente o funcionamento da área da saúde. Um exemplo é a digitalização em si, uma tecnologia madura, amplamente massificada. Grande parte da informação relativa a processos dos pacientes existe apenas em papel, dificultando o acesso rápido e simples à mesma. Esta pequena alteração nos fluxos de informação na área da saúde (digitalização do legado clínico e digitalização total da documentação produzida) iria possibilitar aos profissionais de saúde tomadas de decisão mais rápidas e mais informadas. Existem já projetos bem-sucedidos e consolidados no SNS que promovem a aproximação dos utentes, um deles – e talvez o mais famoso – é a Receita Sem Papel (RSP), com benefícios claros para todos. Um sistema seguro que aumenta a eficiência do pagamento a fornecedores, tem um histórico de prescrição do utente e permite combater a fraude. Mesmo assim, recentemente foi alvo de algumas críticas devido à sua paralisação para manutenção durante 18 horas, o que leva a outro ponto crítico nos projetos de transformação digital, a necessidade de planos de contingência bem definidos ou de sistemas redundantes e de alta disponibilidade, de forma a evitar distúrbios nos processos implementados e também evitar olhar-se para estes projetos com desconfiança relativamente à sua fiabilidade. Outro exemplo é a TeleSaúde: a sua dinamização, em particular das teleconsultas, tem vindo a ser realizada através da criação de condições necessárias e muitos dos postos de trabalho de Unidades Locais de Saúde (ULS) já estão dotados dos meios de vídeo e áudio para possibilitar esta realidade com bastante sucesso. Os projetos de transformação digitais têm de ser pensados tendo em conta os recursos existentes, o know-how das pessoas que vão utilizar as tecnologias, e os ganhos de eficiência e na relação custo-benefício. No SNS e na área da saúde no geral, isto ainda é mais verdade, dada a escassez de recursos e criticidade do setor. |