Escutar é avançar

Há muitas vezes a perceção de que escutar é uma perda de tempo, porque escutar não é executar. Nada mais errado!

Escutar é avançar

Falar eloquentemente é importante, mas não assegura que a comunicação é conseguida, basta que os interlocutores oiçam em vez de escutarem. Contudo, devemos recordar que muitas vezes também não nos escutamos nem nos damos conta do que dizemos ou dissemos. A ser assim, será que podemos pedir aos outros que nos escutem? Para ser escutado temos de escutar e sem ser escutado arriscamos a que não haja comunicação. Não basta fazer uma boa exposição. 

Para uma boa comunicação é necessário garantir que as partes estão atentas, que entenderam. Fechar uma conversa relevante sem garantir que a perceção das partes é a mesma limita a colaboração e pode pôr em causa a confiança. 
Escutar sem pré-juízos, escutar para compreender, escutar para o outro. Se apenas ouvimos, presumindo que já sabemos o que vai ser dito, então perdemos a oportunidade de conhecer as ideias ou o ser humano. É um prejuízo. 

Quando há apenas audição encontramos comportamentos marcados por reatividade, que conduzem a baixos níveis de colaboração. Se não há conversa não há troca de ideias, se não há troca de ideias perdem-se oportunidades e a criatividade vai desaparecendo. 
Escutar é dar atenção, escutar é perguntar. É garantir que compreendemos o que nos disseram ainda que possamos estar em desacordo. É desenvolver motivação e compromisso. É a oportunidade de conhecer o ser humano que é único e quem tem algo para oferecer, é potenciar compromissos e evoluir individual e coletivamente. 

Nas organizações, o foco na execução associado à agitação e inquietude são como uma luz forte que encandeia e limita a capacidade de aproveitar as oportunidades. A escuta fica muito condicionada, chega mesmo a desaparecer. Há muitas vezes a perceção de que escutar é uma perda de tempo, porque escutar não é executar. Nada mais errado! 
As situações originadas ou potenciadas por falta de escuta, como por exemplo mal-entendidos, conflitos e tarefas mal desempenhadas, consomem energia e levam à paragem ou até ao atraso de atividades. Isso sim, é não executar! 

Nas interações, garanta que há escuta. Antes de começar a conversa, se não houver atenção adequada, talvez possa parar de falar ou repetir a frase para dar a entender que procura a atenção. Nas divergências, tente avaliar a que níveis se situam: nas crenças; nos objetivos; ou em emoções que colocam a energia em diferentes direções? Faça perguntas que ajudem a clarificar as posições de cada parte e faça silêncio após cada pergunta para dar oportunidade de refletir ou mesmo só a oportunidade de responder. Avançar num tema com objetivos divergentes pode ser recuar. 

Não escutar pode gerar um sentimento de ameaça a quem não é escutado e provocar reações contra, ainda que no essencial até possa haver perceções semelhantes. Não escutar é perder a oportunidade de clarificar e de saber as motivações, perdendo oportunidades de alinhar e obter colaboração. 

Quando expõe uma ideia, defina o contexto obviando a comunicação, garanta que é escutado, observando quem está presente, pedindo opinião ou pedindo que expliquem o que entenderam da ideia exposta. A presunção de que o seu par compreende o que foi dito pode ser um erro, apesar da boa atenção. É possível que todos afirmem perceber e, no entanto, cada um tem uma ideia diferente. 

Na obtenção de um compromisso é muito vulgar alguém comprometer-se não se comprometendo. Ao não exprimir o que percecionou tem margem para, mais tarde, afirmar que o percecionado era diferente. O silêncio após a pergunta é como o contrato que é colocado para assinar, a verbalização do entendido é a assinatura. A obtenção de acordos explícitos existe quando há escuta de cada parte, permitindo melhor colaboração. É por isso que escutar é avançar! 


Paulo Neto

CEO da Building Bridges 

paulo.neto@building-bridges.pt

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