Apesar dos altos e baixos durante 2023, o mercado de bens tecnológicos de consumo mostra-se estável e espera-se uma recuperação em 2024
A GfK analisou o comportamento do setor tecnológico na Indústria e no Retalho e apresentou na sua 28.ª Conferência, intitulada “Navegando pelo Universo Tecnológico em Tempos de Volatilidade”, os principais desafios e tendências verificados em 2023. Após um ano marcado por altos e baixos no mercado de bens tecnológicos de consumo, a escolha dos consumidores entre produtos premium ou a preços mais acessíveis continua a ser um tópico determinante para a indústria, a par da possível recuperação esperada para 2024 e das mudanças trazidas pelo impacto da Inteligência Artificial (IA). O ano de 2023 foi marcado por uma melhoria do mercado de bens tecnológicos de consumo, que apresentou sinais de estabilidade apesar da desaceleração verificada em alguns setores. O crescimento da transição para a vida digital a nível mundial também marcou o ano, com seis em cada dez pessoas a ter acesso à internet e os índices de satisfação dos consumidores a revelarem uma melhoria face a 2019. O quarto trimestre de 2023 foi o único que apresentou valores positivos nas vendas de bens tecnológicos de consumo, impulsionados pelos smartphones e eletrodomésticos, um sinal positivo de recuperação apesar de permanecer a baixa intenção de gastar por parte dos consumidores. Tanto o retalho online como o retalho tradicional estabilizaram neste período. O estudo da GfK verificou que os produtos de cuidado pessoal, secadores (+3%) e modeladores de cabelo (+7%) e de entretenimento “on the go” (em movimento), como as máquinas fotográficas digitais (+13%) e os auriculares e auscultadores wireless (+7%), foram os que mais cresceram no ano passado a nível mundial. Também os equipamentos de ar condicionado, os refrigeradores de ar e as ventoinhas elétricas tiveram um ligeiro aumento das vendas, com mais 1%, 5% e 41% respetivamente, impulsionadas pelas alterações climáticas que fizeram de 2023 um dos anos mais quentes. Em Portugal, a aquisição de eletrónica de consumo e de fotografia registou uma quebra de 4% face a 2022, gerando uma receita de 375 milhões de euros em vendas. Nesta área, a Fotografia foi o único segmento a registar crescimento, sendo que as atividades ao ar livre também impulsionaram a compra de produtos como câmaras fotográficas e de vídeos, drones e mini colunas. A venda de televisões registou a maior queda em valor desde 2015 (6%), uma categoria que, há semelhança do restante mercado, chegou a um estado de saturação, ainda influenciada pela alta procura durante a pandemia, e pela tensão nos orçamentos familiares que levou ao abrandamento da procura. Para este ano, as vendas a nível mundial podem ser positivamente influenciadas pela realização do Campeonato Europeu de Futebol e pelos Jogos Olímpicos, mas o crescimento esperado pode não ser suficiente para alcançar valores positivos. A revitalizar o mercado estão as QLED/OLED, características como a qualidade do ecrã e o acesso a apps online (smart TV). Em Portugal estas são as características mais desejadas pelos consumidores. A tendência, segundo os dados apresentados na 28.ª conferência da GfK, é de que famílias mais numerosas optem por ecrãs maiores e em lares individuais ecrãs menores tenham maior relevância. As vendas da informática de consumo também registaram uma quebra de 9% face a 2022. Nesta área, a aquisição dos principais produtos e acessórios de IT diminuiu e os segmentos premium aumentam ou diminuem a um ritmo mais lento do que a média da categoria. O segmento Gaming continua a ser uma oportunidade para o mercado, por força de um preço médio superior, mas 2023 revelou também resultados negativos. A Inteligência Artificial apresenta-se como uma tendência neste campo, presente em todo o tipo de produtos para uma multiplicidade de características. Em contrapartida, o mercado de Telecom registou um aumento de 3% nas vendas em 2023, com um total de 1.095 milhões de euros de receita. A aquisição de telemóveis teve um crescimento de 5% face a 2022, correspondente a 873 milhões de euros em vendas. O mercado premium também registou um aumento de 11% nas vendas de smartphones, cujo preço médio rondou os 988€, quase três vezes mais alto que o preço médio de um smartphone regular. O estudo da GfK analisou algumas tendências no mercado de eletrodomésticos, ainda sob influencia do período de pandemia e pós-pandemia. As air-fryers (fritadeiras de ar quente) foram alguns dos produtos que mais cresceram em vendas e que ganharam quota de mercado (+43%), a par dos aspiradores robot e os aspiradores verticais (+10%) e dos produtos de cuidado pessoal (+8%) que foram verdadeiros motores de crescimento. Os exaustores, por seu turno, foram o único produto a crescer mais em unidades do que em valor. Apesar de uma maior tendência para os consumidores substituírem os produtos apenas por estes estarem danificados ou avariados, verificou-se um crescimento no mercado premium (13%, em 2023) nos grandes eletrodomésticos: os consumidores procuraram trocar o aspirador tradicional pelo robot, e as máquinas de café de cápsula pelas máquinas com moagem de café; as fritadeiras de ar quente crescem face às fritadeiras com óleo, as placas com exaustor integrado assim como os frigoríficos de 4 ou mais portas veem aumentar a sua procura. Após um forte crescimento, beneficiado pelo período pandémico, o desempenho dos eletrodomésticos por encastre cai em 2023, menos 3,2% em Portugal e menos 6,1% na Europa, justificado pelo término do boom verificado até 2022 e pelo aumento das taxas de juro que fez diminuir o investimento em construção nova. O estudo da GfK revela também que o grande eletrodoméstico começou a perder alguns dos seus principais motores de crescimento. Para este mercado o futuro passa pela aposta na sustentabilidade. Os eletrodomésticos inteligentes continuam a crescer (mais 1,7 pontos percentuais) após o ano recorde de 2021, mas esta não é a função que está no topo de características mais importantes para o consumidor. A eficiência energética continua a ser a característica mais importante para os consumidores na hora de comprar. A partir de março deste ano deixou de ser permitido o envio de etiquetas de classe energética F e G (as duas mais baixas) para os retalhistas. Isto significa que cerca de 20% do mercado deixa de se poder vender, produtos cujos preços eram inferiores à média, o que vai implicar um aumento generalizado nos preços médios devido à entrada em vigor na nova regulamentação. O futuro do mercado passa pela inovação, que permita unir a exigência da conveniência à necessidade da sustentabilidade. Este equilíbrio será a chave para o sucesso. Espera-se que o pequeno eletrodoméstico mantenha uma trajetória de crescimento em 2024, apesar do caminho sinuoso para o grande eletrodoméstico. |