E depois do digital?

No futuro não basta que os negócios sejam digitais. Terão de ser inteligentes, o que supõe níveis máximos de autonomia e automatização de processos e operações

E depois do digital?

No SAP Now, evento anual onde a tecnológica alemã reúne clientes e parceiros, que este ano voltou a passar pelo Centro de Congressos do Estoril, foi possível vislumbrar o futuro, onde mundo físico e digital deixam de ter barreiras, ligados por sensores e processos dotados de inteligência artificial (IA) e analítica incorporada. “Nunca, na história da humanidade, o presente foi tão temporário”, avisou Martin Wezowski, chief designer & futurist da SAP, que se dedica a investigar estratégias de inovação, e que foi perentório na sua palestra: as empresas inteligentes são a evolução das empresas digitais, e resultam da aliança entre as máquinas inteligentes e o engenho humano (a empatia e a criatividade vão “salvar” os empregos do futuro, defendeu). Mais: de 2025 em diante, as organizações serão self-running, ou seja, a maioria das operações de negócio estarão automatizadas. O ‘futurista’ lembrou que os sensores estão a desenvolver-se “a um ritmo impressionante”, com o seu custo a baixar cada vez mais, o que abrirá portas a inúmeras possibilidades.
 

Clientes procuram experiências (e não produtos)

Internet of Things (IoT), IA, machine learning e blockchain são as tecnologias que, para a SAP, estão na génese da inovação dos nossos tempos, desenhada em torno dos dados e das novas experiências que estes permitem criar. Na economia digital e de partilha, comercializar um produto, por melhor que este seja, não chega para conquistar clientes e mercado. Martin Wezowski deu outro exemplo, o da norte-americana UnderArmour. Apesar de ser conhecida pelas suas t-shirts desportivas, que produz há mais de 20 anos, a UnderArmour já não é, hoje, um produtor de vestuário: em setembro do ano passado, a empresa tornou-se na maior plataforma (e comunidade) de saúde digital e fitness do mundo, fruto de um processo de transformação digital que tem por base a visão de que as roupas e os acessórios que usamos para praticar desporto são os dispositivos de IoT perfeitos para ler e comunicar o que se passa no nosso corpo.
 

Produto-como-um-Serviço será modelo de negócio standard

As empresas que continuarem a apostar num modelo de negócio assente na venda de um bem ou produto devem considerar evoluir o seu modelo de negócio do CAPEX para o OPEX, onde o pagamento é feito por utilização. “Estamos a mover-nos para um mundo de produto-como-um-serviço”, afirmou Tom Raftery, Global VP, futurista e evangelista de IoT na SAP.

Tom Raftery, Global VP, futurista e evangelista de IoT na SAP.

“À medida que mais e mais produtos são comercializados neste modelo, as empresas vão enfrentar concorrência vinda de onde nunca imaginaram”, disse à IT Insight. “Este será o standard para a esmagadora maioria das indústrias”. Neste modelo, o alinhamento entre produtor e cliente “será muito forte”. A grande tendência, referiu, é a personalização e a individualização crescente dos produtos, possível pela digitalização do relacionamento com o cliente e das cadeias de produção e pela emergência de tecnologias como a impressão 3D, que permite um fabrico “on-demand”.
 

Nanotecnologia e interfaces cérebro-computador 

Raftery sublinhou que a IoT e a transformação digital serão designações que, progressivamente, deixaremos de utilizar, porque “estarão por toda a parte”. A IoT, em concreto, está a tornar-se ubíqua, porque tudo está a ficar conetado. Dentro de dez anos não falaremos mais de inteligência artificial ou blockchain. A disrupção virá, segundo o analista da SAP, da nanotecnologia. “Existe muita investigação nesta área, ao nível da miniaturização de robôs, que serão implantáveis no nosso corpo e que vão percorrer a nossa corrente sanguínea”.

Outra área promissora diz respeito à interface cérebro-computador, e os desenvolvimentos podem levar-nos a ter óculos que conseguem ler as nossas ondas cerebrais e comunicar com outros dispositivos ou que projetam os nossos pensamentos em hologramas. “Tal como no Matrix, onde o protagonista “aprende” a arte do Kung Fu através de um download, conseguiremos descarregar informação da internet diretamente para os nossos cérebros”, preconizou. Uma realidade que poderá acontecer dentro de 15 anos, segundo Tom Raftery, até porque esta é uma das áreas em que Elon Musk, o “pai” da Tesla, está a investir, através da Neuralink, empresa criada em 2016 com o objetivo de decifrar as ligações cérebro-computador.

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