2019 é o ano do novo standard de Wi-Fi, o 802.11ax, mais conhecido como Wi-Fi 6. Mas quais são as verdadeiras diferenças entre o Wi-Fi 6 e o Wi-Fi 5 (802.11ac) e de que forma se relaciona com as redes 5G? Nuno Marques, co-CEO da Wavecom, explica as diferenças
Quais são as grandes diferenças entre Wi-Fi 6 (802.11ax) e o Wi-Fi 5 (802.11ac)? Para além da velocidade (que poderá aumentar em cerca de 40%), poderemos passar a utilizar oito streams de dados em simultâneo, tanto em download como em upload e a tecnologia de transmissão é baseada em OFDMA (a mesma que é utilizada nas redes LTE) e que permite uma gestão muito mais eficiente do canal rádio de transmissão. No entanto, enquanto utilizador final, não haverá qualquer tipo de problema a nível de retro compatibilidades, continuando os dispositivos atuais a funcionar da mesma forma. Apenas não irão tirar partido destas novas velocidades que o Wi-Fi 6 irá permitir. Quais são as principais novidades do Wi-Fi 6, para além da velocidade? Para além da velocidade, um dos outros pontos importantes é a performance em ambientes congestionados, melhorando a experiência do utilizador em cenários como estádios, auditórios, eventos com grande concentração de pessoas, etc.. Para além disso, a eficiência dos rádios permitirá uma poupança energética aos clientes finais, aumentando assim o tempo de vida das baterias. O Wi-Fi 6 chega praticamente ao mesmo tempo que o 5G ao ecossistema tecnológico global. Devem ser entendidas como redes concorrentes ou simbióticas? Porquê? Simbióticas, sem dúvida. O aumento da capacidade dos vários sistemas permitirá a criação de novas soluções e de novos negócios. A utilização de ambas em concordância levará, sem dúvida, a uma revolução tecnológica como já não vemos há algum tempo. Esta questão sempre se colocou a cada vaga de uma nova geração de tecnologia de operador, no entanto os sistemas Wi-Fi sempre evoluíram de forma a serem sempre, e cada vez mais, uma tecnologia obrigatória. O facto de o 5G servir também para uma utilização doméstica, à semelhança da tradicional utilização do Wi-Fi, fará com que o Wi-Fi perca valor? O que as pessoas procuram hoje em dia é ter ligações seguras e estar conectados a todo o momento, seja nas empresas, em casa ou na rua. Não penso que o Wi-Fi irá perder valor dado que em termos empresariais a sua importância continuará a ser grande e, eventualmente, crescerá. O acesso seguro aos conteúdos e aplicações internas assim como a volatilidade do local do posto de trabalho (seja por mudança geográfica, reuniões, etc.) faz com que o Wi-Fi continue a ser muito importante na vida quotidiana das pessoas. Não nos podemos esquecer que o Wi-Fi é uma rede privada e o 5G pertencerá aos operadores, fazendo com que muitas vezes o gestor da rede não tenha o mesmo controlo. Além disso, em muitos locais, o 5G tardará a chegar e o Wi-Fi continuará a ser uma rede privada de eleição. Há ainda uma outra dimensão na adoção dos sistemas Wi-Fi em detrimento da rede do operador: são os terminais e a forma como escolhem automaticamente a sua ligação à Internet. Cada vez mais, a quase totalidade dos fabricantes de equipamentos e sistemas operativos de smartphones colocam como ligação de dados preferencial a rede Wi-Fi e muitas atualizações dos mesmos só são feitas quando ligados a redes Wi-Fi. Este é, obviamente, um driver importante da utilização massiva de Wi-Fi. 2019 será o ano do Wi-Fi 6 a nível mundial. Portugal também vai sentir a chegada desta tecnologia, ou a sua adoção ficará para 2020? Estamos agora mesmo a instalar o primeiro projeto Wi-Fi 6! É apenas um, mas penso que com o final do ano chegarão muitos mais. A entrada deste novo standard penso que será tão rápida quanto os anteriores. Tipicamente, sempre que se faz uma atualização tecnológica a uma infraestrutura existente, opta-se pelo standard mais atual, neste caso Wi-Fi 6 e, por isso, faz sentido adotar esta tecnologia até porque garante uma maior longevidade da nova solução. Quais as principais diferenças nos custos associados à implementação de uma rede Wi-Fi 6 e de uma rede 5G? Não são comparáveis, dado que se destinam a fins muito diferentes. As redes 5G cobrirão de forma continuada uma determinada área geográfica, indoor e outdoor, enquanto que os sistemas Wi-Fi servem determinados espaços, como a nossa casa, o nosso local de trabalho ou uma praça no nosso município, ou seja, pontos descontínuos. Além da cobertura ainda existem os sistemas de autenticação de rede que, no caso do 5G, são sistemas preparados para suportarem milhões de utilizadores em simultâneo e em Wi-Fi, tipicamente algumas dezenas ou centenas… Assim sendo, é muito difícil comparar os preços destas duas tecnologias. De referir, no entanto, que quando comparamos os custos do Wi-Fi 6 com o Wi-Fi 5, a diferença tende a ser muito pequena, enquanto que uma cobertura 5G é muito mais cara do que as coberturas feitas por 4G e isto porque, para além do preço de uma tecnologia nova, tem a ver com o número de estações base necessárias, que na tecnologia 5G pode ser até quatro vezes maior, quando comparada com a tecnologia 4G. Em relação à fatura dos clientes, o que se prevê que mude com a adoção do Wi-Fi 6? Os custos no Wi-Fi 6 são aproximadamente os mesmos comparativamente ao Wi-Fi 5. Em sistemas empresariais, existem três níveis de custos associados à implementação de uma rede Wi-Fi, a controladora Wi-Fi e sistemas de autenticação da rede, os quais não têm qualquer alteração de preço, as cablagens e switches que suportam a rede Wi-Fi e, aqui, dependendo da performance que se pretenda retirar da rede Wi-Fi 6, poderá existir um acréscimo do preço da solução e finalmente os pontos de acesso Wi-Fi propriamente ditos, os quais nesta altura são uma pouco mais caros do que os Wi-Fi 5. A evolução tecnológica é natural e para os "early-adopters" pode ter um custo inicial um pouco mais elevado como é normal. No entanto, esse custo tem tendência a normalizar com a disseminação da tecnologia no mercado. O que é que os clientes devem ter em conta para a adoção de Wi-Fi 6? Um dos fatores a ter em conta nesta 6ª geração em relação ao Wi-Fi 5 e gerações anteriores, são os requisitos da infraestrutura (switching e cabos). Provavelmente a infraestrutura existente não servirá e esta poderá ter de ser alterada ou substituída para se conseguir tirar o verdadeiro partido do Wi-Fi 6. Em termos de terminais e numa fase inicial, os clientes poderão continuar a usar os seus terminais de Wi-Fi 5 ou anteriores. Ainda assim, e com o tempo, esses terminais vão sendo atualizados para que possam tirar partido de toda a nova tecnologia e das suas funcionalidades. |