O Barcelona Supercomputing Center já foi considerado o supercomputador mais bonito do mundo, mas não é o facto de estar localizado numa antiga capela que o torna especial; é o seu trabalho na ciência que faz com que o seu trabalho seja importante para a humanidade
Estávamos em 2005 quando foi criado o Barcelona Supercomputing Center – Centro Nacional de Supercomputação (BSC-CNS). O objetivo era simples: criar o supercomputador mais poderoso da Europa. O MareNostrum, o supercomputador, que já vai na sua quarta versão, presente neste centro, já não é o mais poderoso do velho continente – aparece na segunda posição –, mas ainda tem uma palavra a dizer na indústria. O MareNostrum já teve três versões anteriores. Atualmente, conta com 3.400 nós a trabalhar como um só computador. No total são 11,1 petaflops de poder de computação, o que significa que este computador consegue fazer o equivalente a mais de 11 milhares de biliões de cálculos por segundo, resultando numa máquina dez vezes mais rápida do que a anterior. O hardware deste supercomputador é baseado no ThinkSystem da Lenovo, que convidou a IT Insight a visitar o centro de supercomputação, e conta com a familía de processadores Intel Xeon Platinum. A missãoMuitos de nós consideram a visão como certa, mas, segundo a Organização Mundial de Saúde, a deficiência visual afeta quase uma em cada 20 pessoas. Atualmente, cerca de 253 milhões de pessoas no mundo vive com algum tipo de deficiência visual. Mas o facto é que perto de 80% dos casos podem ser evitados. Como em todos os problemas de saúde, quanto mais cedo a doença for diagnosticada, melhor será o resultado do paciente. Apesar do impacto positivo que o diagnóstico precoce pode ter na vida dos pacientes, as inovações no processo de triagem de doenças da retina têm sido poucas e distantes entre si. É aqui que entra o BSC-CNS. Os investigadores deste centro estão a investigar se as tecnologias de Inteligência Artificial (IA) podem ajudar os oftalmologistas a detetar doenças na retina com uma maior eficácia. O Barcelona Supercomputing Center trabalha, também, com a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) na missão Gaia. Esta missão tem como objetivo traçar um mapa tridimensional da galáxia para que seja possível revelar a composição, formação e evolução da Via Láctea. O centro de supercomputação recebe a informação, faz uma análise e, depois, publica o que foi descoberto. Utilização gratuitaSergi Girona, diretor de operações do Centro Nacional de Supercomputação, explica que a utilização do MareNostrum 4 é totalmente gratuita. Quem precisa deste poder de computação faz uma candidatura onde explica os seus objetivos e os resultados esperados. Um grupo independente analisa, depois, esta candidatura e faz a recomendação ao centro de se deve dar ou não acesso ao poder de supercomputação. Deste modo, explica o diretor, o processo é totalmente transparente e permite que os projetos mais promissores tenham acesso ao poder de computação necessário para a sua investigação. Supercomputador como facilitador para a ciênciaOs serviços de supercomputação estão disponíveis para os investigadores não só espanhóis, mas também da União Europeia. No total, trabalham 605 pessoas de 48 países neste centro, sendo que 460 é pessoal científico. Destas 460 pessoas, 220 estão dedicadas a Computer Sciences, 90 para Computer Applications in Science and Engineering, 83 em Earth Sciences e, por fim, 67 em Life Sciences. Os supercomputadores ajudam a descobrir problemas e soluções nas mais diversas áreas científicas. Medicina, Química e Nanociência, Engenharia e Física são apenas algumas das áreas que já estão a aproveitar estas capacidades de computação que estão a levar a avanços a um melhor sistema de saúde, a uma melhor previsão climática, a materiais superiores e, em termos gerais, a uma indústria mais competitiva. Também a indústria pode aproveitar estas capacidades. A Repsol e a Iberdrola são apenas duas das entidades que estão a trabalhar com o Barcelona Supercomputing Center. A Repsol está a utilizar a capacidade de computação para investigar tecnologias avançadas para a exploração de hidrocarbonetos e modelação de reservas subterrâneas e subaquáticas. Já a Iberdrola está a investigar como é pode otimizar os parques eólicos e onde deve colocar os moinhos eólicos para um maior aproveitamento do vento e da energia produzida a partir daí. O mercado de supercomputaçãoDe acordo com a Intersect360 Research, uma empresa independente que analisa o mercado de computação de alta performance (HPC, na sigla em inglês), o mercado de supercomputação vale cerca de 35,4 mil milhões de dólares e espera-se que chegue perto dos 50 mil milhões de dólares em 2022. A maior fatia de utilização deste tipo de produtos (56,6%) são as próprias empresas que precisam de descobrir maneiras de inovar os seus produtos. Addisson Snell, CEO da Intersect360 Research, dá como exemplo os pods de detergente da Tide. “A Tide precisava de um plástico que se dissolvesse da mesma maneira em contacto com a água fria e com a água quente, mas ao mesmo tempo que não se dissolvesse com o líquido que o próprio produto traz”. Foi através de supercomputadores que a empresa chegou à conclusão do que devia fazer. Depois, são os próprios governos, através de laboratórios de investigação e agência nacionais, os principais utilizadores no mercado de HPC. Por fim, a academia e as organizações sem fins lucrativos, utilizam os supercomputadores habitualmente para investigações. Neste mercado, a Lenovo é a empresa que mais cresce, registando um aumento de 8,5%. No entanto, a empresa está apenas na terceira posição deste mercado que é liderado pela HPE, seguida da Dell EMC. O MareNostrum 4 em números
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