Edifícios no mundo moderno: “a Internet é o oxigénio que os negócios respiram”

William Newton, presidente e diretor-geral da Wired Score, partilha em entrevista de que forma é que a empresa ajuda a tornar os edifícios empresariais mais conetados, sustentáveis e inteligentes, no âmbito da sua recente expansão para Portugal e Espanha

Edifícios no mundo moderno: “a Internet é o oxigénio que os negócios respiram”

A WiredScore, empresa dedicada a avaliar e promover melhorias na conectividade digital e tecnologia inteligente em casas e escritórios em todo o mundo, vai lançar a sua plataforma de certificação de edifícios inteligentes em Espanha e Portugal, como parte do seu plano de expansão europeia.

Neste contexto, William Newton, presidente e diretor-geral da WiredScore, detalha a história e atividade da empresa e de que forma é que ajudam a tornar os edifícios empresariais mais conetados, sustentáveis e inteligentes. 

 


"No quotidiano, a internet é o oxigénio que os negócios respiram, e é prioritário garantir que a conetividade dentro dos edifícios seja fenomenal"


 

Podia dar-nos uma visão geral da história e atividade da WiredScore?

A WiredScore foi fundada em 2013, em parceria com o Mayor de Nova York, Michel Bloomberg. Bloomberg estava a ficar cada vez mais preocupado com a discrepância entre, por um lado, a crescente importância da internet para os negócio, e por outro o facto de que a maioria dos negócios não sabia quão boa era a conetividade de um edifício para o qual de estavam a mudar – e a maioria dos proprietários também não, e se sabiam não tinham uma forma fiável de o comunicar aos seus arrendatários. 

Como tal, o nosso fundador, Arie Barendrecht, concebeu uma solução; um sistema de classificação para a conetividade digital nos edifícios empresariais. Já existiam sistemas de classificação para a sustentabilidade dos edifícios mas, no quotidiano, a internet é o oxigénio que os negócios respiram, e é prioritário garantir que a conetividade dentro dos edifícios seja fenomenal.

Desde então alargámos o nosso negócio para 10 países, e estamos a trabalhar com escritórios no Canadá, no Reino Unido, em França e na Alemanha; trabalhamos também na austrália, Itália e, agora, Portugal e Espanha. Certificámos até agora mais de 16 milhões de metros quadrados, e existem mais de 6 milhões de pessoas a trabalhar em edifícios classificados por nós. 

Um exemplo que julgo ser muito ilustrativo da importância da conetividade no mundo moderno é o caso de um famoso grande espaço de co-working em Nova York, que no primeiro mês depois de se instalar num edifício não certificado teve um primeiro mês terrível. Na primeira semana o ar condicionado parou de trabalhar, o que é muito desagradável no verão em Nova York, mas todos continuaram a trabalhar nas suas secretárias. Na segunda semana, a canalização começou a entupir, o que foi repugnante, mas todos se mantiveram nas suas secretárias. Na terceira semana nada aconteceu, mas na quarta um operário num edifício adjacente em construção acidentalmente cortou o cabo de fibra ótica com a escavadora, e todas as pessoas no espaço de co-working, sem exceção, se levantaram e foram trabalhar para os bares e cafés da zona. Isto porque se aperceberam que podiam trabalhar sem ar condicionado ou canalização funcional, mas não sem internet.

Levando tudo isto para o mundo moderno, lançámos há cerca de mês e meio o nosso novo produto, ao qual chamamos SmartScore, que avalia quão inteligente um edifício é. E quando falamos em inteligência, não estamos a falar de quanta tecnologia existe num edifício, mas sim quão bem essa tecnologia está a ser usada para oferecer benefícios aos utilizadores – com sorte, benefícios que oferecem uma experiência de utilizador inspiradora, são cost-efficient, sustentáveis e future-proof.

É importante oferecer clareza sobre o que os proprietários devem fazer, e também colocar o foco no utilizador em vez do tecnólogo, e esperamos poder ajudar a criar um mundo mais conectado e inteligente. Como tal, lançámos este novo produto em parceria com quase 50 proprietários em sete países diferentes, e estamos impressionados com o crescimento que vimos no último mês.

Estamos agora a lançar em Portugal e Espanha, pela primeira vez, ambas as cerificações em simultâneo, e penso que isto é ilustrativo do facto que, nestes países, a internet se tornou ainda mais importante durante a pandemia. À medida que entramos numa fase de trabalho híbrido, os escritórios têm de demonstrar que são um local fantástico de forma a atrair utilizadores, e entregar uma experiência de conetividade impecável é uma forma muito eficaz de o fazer.

Assim, o facto de já termos a adesão de 13 proprietários para certificar 34 edifícios na Península Ibérica é indicativo de que existem proprietários progressivos que levam a sério as necessidades e requisitos dos utilizadores neste novo mundo.

 


"À medida que entramos numa fase de trabalho híbrido, os escritórios têm de demonstrar que são um local fantástico de forma a atrair utilizadores, e entregar uma experiência de conetividade impecável é uma forma muito eficaz de o fazer"


 

Que critérios usam na avaliação de um edifício?

Quando avaliamos um edifício para WireScored estamos a avaliar a coletividade digital. Para tal, temos em consideração quatro fatores: quão rapidamente o utilizador se pode ligar à internet quando chega ao edifício, quão provável é que a internet possa ir abaixo, o preço pago pela velocidade da internet – uma vez que a velocidade é um fator no preço na maioria dos ambientes comerciais – e, por último, qual é a experiência de conectividade celular móvel dentro do edifício. 

No que toca à avaliação SmartScore, é ligeiramente diferente. As características desejáveis são uma experiência de utilizador inspiradora e que o edifício seja cost-efficient, sustentável e future-proof. Subjacente a isto existe um conjunto de de funcionalidades e de fundações tecnológicas.

Em termos de funcionalidades, avaliamos a produtividade individual e coletiva, saúde e bem estar, sustentabilidade, segurança, manutenção, otimização e serviços. Isto é possibilitado por um conjunto de alicerces tecnológicos que incluem sistemas de gestão de edifício, sistemas e redes integradas, políticas de governance e partilha de dados. Contudo, enquanto tudo isto é importante, o foco está em como é que isto se traduz para o utilizador, e nós tentamos garantir que, quando falamos com os proprietários, falamos em termos do que vai ser entregue ao utilizador. Por exemplo, se perguntarmos a um proprietário se gostaria de ter um edifício inteligente, este pode não saber o que isto significa, e como tal não demonstrar interesse; contudo, se lhe perguntarmos se gostaria de ter um edifício com uma experiência de utilizador excelente, que é cost-effective e sustentável, a resposta será totalmente diferente – e a nossa resposta é que tudo isso pode ser alcançado através da SmartScore. 

 


"A tecnologia é muito importante, mas o foco está em como é que isto se traduz para o utilizador, e nós tentamos garantir que, quando falamos com os proprietários, falamos em termos do que vai ser entregue ao utilizador."


 

Como é geralmente realizado o processo de avaliação?

O que geralmente acontece é que mandamos um inspetor ao local, onde passará cerca de meio dia, ou, se o edifício ainda estiver em desenvolvimeto, ser-nos-ão enviadas as plantas e esquemáticas que nos permitam fazer a avaliação. 

Com base nos critérios já mencionamos, atribuímos ao edifício uma classificação de até 100 pontos, e oferecemos ao proprietário uma explicação de onde falharam e como podem melhorar a sua avaliação. Tipicamente, o proprietário vai eleger trabalhar nessas melhorias, e acabará por melhorar a sua avaliação ao longo do tempo.

Às vezes, pequenas coisas podem fazer uma enorme diferença. Exemplo disto é o costume popular de alojar o bastidor de telecomunicações no mesmo armário que os materiais de limpeza, e obviamente não se devem manter esfregas e lixívia juntamente com equipamentos de fibra ótica extremamente importantes. Assim, a melhoria da avaliação pode ser tão simples como mover e securizar os equipamentos de telecomunicações.

 


"Pequenas coisas podem fazer toda a diferença – a melhoria da avaliação pode ser tão simples como mover e securizar os equipamentos de telecomunicações"


 

Como diria que é um caso típico de avaliação pela WiredScore? Qual é a classificação média de um edifício após a primeira avaliação?

Nós temos cinco níveis de certificação: Uncertified, Certified, Silver, Gold e Platinum, e a média dos edifícios a nível global fica no escalão Uncertified. Contudo, a maioria dos proprietários que nos contactam já têm à partida uma mentalidade progressiva, e os seus edifícios tendem a conseguir, no mínimo, o escalão Certified – e, com base nas guias que lhes fornecemos depois da avaliação, tendem a conseguir pelo menos Silver ou Gold na segunda avaliação, e por vezes mesmo Platinum.

Nós trabalhamos com uma rede de profissionais acreditados que treinámos para poderem fornecer serviços de consultoria aos proprietários sobre como podem melhorar a sua avaliação, oferecendo conselhos mais detalhados de forma a que possam passar de Uncertified para Certified, ou de Silver para Gold.

 


"A indústria imobiliária tem um papel extremamente importante na criação de um mundo melhor e mais inteligente; mais que nunca, os senhorios podem impactar fortemente os seus arrendatários"


 

Que mensagem gostaria de deixar os proprietários de edifícios em Portugal?

A coisa mais importante para toda a indústria imobiliária é que devemos ter em mente que temos um papel extremamente importante na criação de um mundo melhor e mais inteligente, e que, mais que nunca, os senhorios podem impactar fortemente os seus arrendatários, ou os colaboradores dos seus arrendatários. Neste mundo pós-pandémico, vai haver uma bifurcação entre os ativos que motivam mas pessoas a sair de casa e trabalhar em espaços colaborativos, e os que ficam para trás e caem em desuso, porque não estão a oferecer aquilo que os utilizadores querem.

Portanto, estou muito otimista que a indústria imobiliária no seu todo pode encontrar formas de oferecer produtos melhores que nunca. Se olharmos para trás, tantos aspetos das nossas vidas mudaram por causa da tecnologia, e as coisas que podemos fazer a partir de um smartphone seriam inconcebíveis há 15 anos, quase como magia. E até agora estas tecnologias ainda não tinham entrado adequadamente no mercado da imobiliária, pelo que estou muito feliz por ver proprietários progressivos a tentar trazer alguma dessa magia para o mercado.

 

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