Alerta ou oportunidade? DeepSeek está a desafiar a liderança dos EUA no campo da IA

Donald Trump classificou o avanço da DeepSeek como uma “chamada de alerta” para os EUA, mas também como um incentivo à competitividade, sugerindo que é possível reduzir custos sem comprometer a inovação

Alerta ou oportunidade? DeepSeek está a desafiar a liderança dos EUA no campo da IA
Nos últimos dias, o setor da Inteligência Artificial (IA) tem assistido a um movimento que pode alterar o equilíbrio das forças globais em matéria de IA e automação. O foco está na DeepSeek, uma empresa chinesa de inteligência artificial, que tem vindo a ser destacada por diversos meios de comunicação como uma ameaça crescente à liderança tecnológica dos EUA no campo da IA, com o seu modelo de raciocínio a superar o de alguns dos principais players do setor, como a OpenAI, em alguns benchmarks, disponibilizando aparentemente mais stack tecnológico, como bibliotecas auxiliares ou frameworks em open source para aplicações empresariais.
 

Como resposta, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, sublinhou, esta segunda-feira, que este avanço tecnológico da China representa uma “chamada de alerta”. Por outro lado, poderá também representar um impulso à competitividade, uma vez que, como referiu Trump, “em vez de se gastar milhares de milhões, pode gastar-se menos e chegar, esperançosamente, à mesma solução”.

Isto é, esta solução garante um desempenho similar a um custo reduzido, uma vez que a sua rápida adoção resulta da vantagem competitiva das suas versões open source face a outras soluções proprietárias de IA. De acordo com o jornal Politico, que citou a DeepSeek, o seu modelo R1 igualou e, em alguns casos, superou o desempenho do o1, um dos produtos mais avançados da OpenAI.

O DeepSeek 3.5 distingue-se do ChatGPT 3.5 por duas características. Em primeiro lugar, pode explicar o raciocínio por trás das suas respostas ao ativar a funcionalidade DeepThink, apresentando essa explicação em inglês, ainda que a resposta final possa ser fornecida na língua solicitada. Além disso, quando recebe a instrução “go wild”, surpreende com respostas inesperadas e criativas, embora essa funcionalidade possa ter pouca aplicabilidade no contexto empresarial.

Impacto no setor de chips e data center

O surgimento repentino da DeepSeek, que, segundo relatos, foi desenvolvido por menos de seis milhões de dólares, forçou os investidores a questionar se as centenas de milhares de milhões de dólares americanos injetados em startups de IA valeram a pena – acreditando que a tecnologia exigiria hardware e infraestrutura caros.

Este desenvolvimento levou, esta segunda-feira, a uma queda histórica de 17% nas ações da Nvidia, com um impacto significativo também nas ações de outros fabricantes de chips, servidores e nas principais empresas que financiam modelos de IA norte-americanos. No total, o setor de semicondutores perdeu cerca de 600 mil milhões de dólares em valor de mercado, de acordo com dados da CNBC e Reuters.

A principal razão para estas quedas está relacionada com as restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos à China, que proíbem o acesso às GPUs mais avançadas, como os modelos Nvidia A100 e H100. Como consequência, a China é obrigada a recorrer a processadores mais antigos, como o Nvidia V100, ou até a CPUs de menor custo. Este cenário levanta questões sobre a viabilidade de treinar e executar modelos de IA de alto desempenho utilizando hardware menos avançado e economicamente acessível.

Entretanto, existem alegações feitas pela Scale AI, numa entrevista à CNBC, de que a DeepSeek possui 50.000 unidades H100. Estas alegações, contudo, não foram verificadas, e seria altamente improvável que mais de mil milhões de dólares em chips tivessem conseguido ultrapassar o embargo norte-americano sem serem detetados.
 

Desafio para a União Europeia na corrida pela IA

O Politico destaca ainda que a ascensão da DeepSeek não só representa um alerta para a indústria tecnológica dos EUA, mas também reforça os receios de que a União Europeia possa ficar para trás na corrida global pela IA. Apesar dos investimentos europeus de cerca de 750 milhões de euros em supercomputadores para apoiar startups do setor, permanece a incerteza sobre a capacidade de gerar retorno suficiente para justificar os elevados custos iniciais, um desafio que já afeta empresas consolidadas na área.

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