No início de dezembro do ano transato, a Meta (anteriormente Facebook) e a AWS (a divisão de cloud da Amazon), anunciaram um acordo de colaboração estratégica, que cobre diversas aplicações e casos de uso de cloud, mas especialmente os que se referem a IA. No anúncio das duas empresas é referido que a Meta expandirá através da AWS as suas plataformas internas, mas também virá a suportar empresas que venha a adquirir na cloud da Amazon
Ou seja: existe, de facto, uma utilização da infraestrutura da AWS por parte da Meta, não se referindo o acordo apenas a otimização de código desenvolvido por esta, por forma a tirar melhor partido das capacidades oferecidas pela AWS. Mas mesmo nesta última vertente, o acordo contempla algo de particular interesse. É dito explicitamente que será feito trabalho adicional para que a plataforma PyTorch, usada por exemplo pela Tesla e pela Uber, seja melhor integrada, por exemplo no Amazon SageMaker, o serviço de machine learning da AWS – presumivelmente para servir não apenas utilizadores externos mas também os próprios investigadores e equipa de desenvolvimento da Meta, que tem um dos melhores laboratórios de IA do mundo. Este anúncio é um prenúncio do que serão algumas das tendências mais relevantes no espaço da cloud no corrente ano e de que três das quais se enunciam a seguir. 1) A cloud continua a crescer e a evoluir com base em cenários de utilização inovadoresDe acordo com previsões da Gartner, espera-se que os gastos globais em serviços na cloud atinjam mais de 482 mil milhões de dólares em 2022, que se comparam com 313 mil milhões de dólares em 2020. A infraestrutura da cloud é hoje a base sobre a qual assentam todos os modernos serviços digitais, englobando desde as redes sociais aos serviços de streaming e aos carros ligados e infraestrutura de Internet of Things. Formas de conectividade que prometem maior largura de banda e menor latência, como as redes 5G (e futuro 6G, de que se começa a falar), assim como Wi-Fi 6 não significam apenas que mais dados chegarão à cloud -- significam também o aparecimento de dados de novas origens, provavelmente com maiores débitos, com maior variação de entrega, com mais exigências de tratamento em tempo real. Esperem-se, por exemplo o aparecimento de mais plataformas de jogos na cloud, como já o são a Vortex, a Boosteroid ou a Amazon Luna. Esperem- -se grandes aumentos de investimento em tais plataformas ao longo de 2022. 2) A evolução em inteligência artificial é indissociável da evolução da cloudA cloud desempenha um papel fundamental nos desenvolvimentos de IA, o que foi descrito pelo CEO da Google, Sundar Pichai, como “mais transformador do que a eletricidade ou o fogo” em termos do efeito que terá na sociedade. As plataformas de machine learning e deep learning requerem uma enorme capacidade de processamento e de largura de banda para treino e processamento estão aí e são incontornáveis. Adicionalmente, longe vão os tempos dos assistentes pessoais com vozes robóticas. É cada vez mais difícil distinguir entre um texto dito por uma voz artificial e uma natural. Tudo isto é fruto do desenvolvimento concertado da IA na cloud. A cloud continuará a aumentar o seu peso na prestação destes serviços aos utilizadores, e esse será decerto um dos mais notáveis desenvolvimentos no ano que decorre. 3) A cloud evolui para prestação de serviços em modo "serverless": é altura para começarmos a entender os impactos desta forma de trabalharA prestação de serviços em modo “serverless” na cloud é um conceito relativamente recente que está a ganhar força no mercado por parte de fornecedores como a Amazon (com AWS Lambda e outros serviços) e Microsoft (com Azure Functions, por exemplo), entre outros. Por vezes referido como “Functions-as-a-Service”, este modo de funcionamento significa que as organizações não estão obrigadas a terem de fazer aprovisionamento prévio de serviços na cloud, lançar e manter máquinas virtuais ou preocupar-se com questões de escalabilidade. Promete um verdadeiro serviço “pay-as-you-go” em que a infraestrutura se dimensiona invisivelmente como uma aplicação o exige. Na verdade, o nome é enganador: existem, evidentemente, servidores, por detrás de tudo. Mas as configurações destes são invisíveis para o utilizador final, o que pode ser uma bênção – ou nem tanto, porque implica toda uma nova forma de pensar e trabalhar, para a qual as empresas não estão necessariamente preparadas. Até por questões de custos de utilização, com modelos diferentes dos tradicionais. Mas é a altura certa para começarmos a entender mais esta tendência e respetivos impactos, uma vez que se está a estender rapidamente a inúmeros serviços disponíveis em cloud, em todos os fornecedores. Na verdade, como indicámos no início, o anúncio conjunto da Meta e da AWS cristaliza, na perfeição, estas tendências, até mesmo a da evolução para “serverless”, uma vez que cada vez mais a AWS, como os restantes fornecedores de serviços de cloud tendem a privilegiar o lançamento de serviços que dispensam aprovisionamentos complexos pelo lado do cliente. Em primeiro lugar porque são, efetivamente, mais simples de usar. Em segundo, e não menos importante na ótica dos fornecedores, porque estes serviços são garantes de que os clientes não mudam com facilidade de fornecedor. Se há uma tendência que será também visível, mais ainda em 2022, é que, na cloud, os casamentos são de longa duração: a quebra de uma tão entrançada ligação entre fornecedor e cliente é de tal forma complexa que o caminho para a cloud – e dentro desta para um fornecedor específico é, praticamente irreversível. Assim, os fornecedores continuem, sem falhas, a manter as respetivas posições competitivas. |