O desenvolvimento de agentes de software nas empresas não surgiu de uma evolução recente e isolada, mas sim de décadas de investigação científica em Inteligência Artificial (IA), sistemas multiagente e automação
Estes agentes, capazes de realizar tarefas de forma autónoma, complexa e adaptativa, estão agora a transformar o ambiente empresarial, uma mudança que tem profundas raízes na investigação académica e industrial. Os agentes de software são sistemas autónomos que, historicamente, foram estudados no campo dos sistemas multiagente (MAS), uma área de IA que explora a coordenação entre agentes independentes para resolver problemas distribuídos. Há décadas que os investigadores têm estudado o comportamento destes agentes em ambientes colaborativos e competitivos. Os respetivos trabalhos demonstraram como estes agentes podem funcionar em equipa para alcançar objetivos comuns ou agir de forma independente em cenários mais complexos, como a otimização de redes logísticas ou o controlo de tráfego aéreo. Estes estudos criaram as bases para a aplicação prática que hoje vemos em agentes como o modo Computer Use do Claude 3.5 Sonnet da Anthropic e o Microsoft Copilot Studio. A evolução de agentes de software no setor empresarialCom a evolução da IA e o aumento das capacidades computacionais, os agentes de software ganharam uma nova relevância. A partir de investigação que focou a interação entre agentes em ambientes distribuídos, a ideia de agentes autónomos capazes de aprender e adaptar-se foi trazida para a indústria, especialmente no contexto da automação de processos empresariais. Em outubro de 2024, a fronteira entre assistentes digitais e agentes verdadeiramente autónomos foi finalmente ultrapassada. A Anthropic marcou este momento ao introduzir no Claude 3.5 Sonnet uma capacidade notável: a utilização direta de computadores da mesma forma que os humanos — observando o ecrã, movendo o cursor, clicando em botões e digitando texto. Esta funcionalidade, ainda em beta público e disponível através da API, representa mais do que uma simples evolução técnica. É a primeira vez que um modelo de IA de fronteira consegue interagir diretamente com sistemas computacionais, marcando uma mudança fundamental na forma como os agentes de IA podem operar no mundo digital. Embora ainda experimental e por vezes propensa a erros, esta capacidade abre horizontes inteiramente novos. Os agentes podem agora gerir tarefas complexas e monitorizar infraestruturas de TI de forma independente, não através de integrações predefinidas, mas interagindo com os sistemas exatamente como um operador humano faria. A decisão da Anthropic de lançar esta funcionalidade numa fase inicial do seu desenvolvimento, procurando feedback ativo dos utilizadores, sugere uma abordagem pragmática à evolução desta tecnologia. As limitações atuais — a natureza por vezes desajeitada das interações e a ocorrência de erros — são reconhecidas abertamente, com a expectativa de rápidas melhorias através da aprendizagem em ambiente real. O impacto desta capacidade não pode ser subestimado: significa que empresas podem agora confiar em agentes que não só automatizam processos, mas também aprendem e se adaptam a novos desafios, com base em dados e contexto em tempo real. A perspetiva da Microsoft e o legado dos agentes multiagenteA Microsoft, por outro lado, expande o conceito de agentes de software com o lançamento do Microsoft Copilot Studio. Esta plataforma permite que as empresas desenvolvam os seus próprios agentes personalizados, com a capacidade de aprender, raciocinar e adaptar-se às necessidades específicas de cada organização. Estes agentes, que operam de forma semelhante aos agentes estudados na literatura científica, são capazes de gerir fluxos de trabalho, tomar decisões inteligentes com base em grandes volumes de dados e otimizar processos end-to-end, como o cumprimento de ordens ou a gestão de suporte ao cliente. A ponte entre a investigação e a prática empresarial é clara. A lógica que orienta o design de agentes na Microsoft e na Anthropic está enraizada na tradição científica de agentes racionais e adaptativos, um campo de estudo que continua a evoluir. O trabalho de pesquisa sobre algoritmos de planeamento e raciocínio em agentes autónomos, iniciado há décadas, é agora implementado de forma concreta para resolver problemas reais nas empresas. Desafios e oportunidades a investigação científica em açãoApesar dos avanços, os desafios permanecem. Questões sobre a segurança e a ética na automação total ainda estão a ser debatidas, tanto na academia quanto na indústria. Os investigadores continuam a explorar como os agentes podem operar de forma segura em ambientes críticos, garantindo que decisões autónomas não comprometam a integridade dos sistemas ou os dados sensíveis. O uso de agentes em áreas de cibersegurança, por exemplo, está a ser fortemente explorado, com novos modelos baseados em agentes para deteção de anomalias e resposta a incidentes de segurança. A capacidade de os agentes aprenderem e adaptarem-se também levanta questões sobre a supervisão humana. A investigação em teoria da agência e algoritmos de supervisão está a evoluir para garantir que, mesmo em cenários altamente automatizados, há mecanismos que garantam que os agentes operem de acordo com as normas éticas e procedimentais da organização. Conclusão: a convergência de ciência e indústriaO que vemos hoje com o Claude 3.5 Sonnet da Anthropic e o Microsoft Copilot Studio é o resultado direto de décadas de investigação científica. Estes sistemas não surgiram de forma isolada, mas são o culminar de avanços na compreensão dos sistemas multiagente, machine learning e raciocínio autónomo. Empresas que adotem estas tecnologias podem contar com sistemas baseados em princípios científicos sólidos, capazes de transformar não apenas operações individuais, mas todo o ecossistema empresarial. O futuro da automação inteligente está cada vez mais alinhado com as descobertas e avanços da comunidade académica, e as empresas que conseguirem integrar estas tecnologias com sucesso estarão preparadas para enfrentar os desafios e oportunidades da próxima década. |