Inovar é um desafio? Aja como uma startup

As grandes empresas estão a ser cada vez mais desafiadas pela agilidade das startups. A Beta-i faz o scouting, realiza o casting e promove o ‘matrimónio’ entre as necessidades das primeiras e a oferta das segundas, através de programas de aceleração da inovação

Inovar é um desafio? Aja como uma startup

A lógica aberta, ágil e fortemente colaborativa das startups produz novas ideias e aplicações a um ritmo superior ao das grandes empresas. Estas, para acompanharem a evolução permanente do mercado e evitarem ser surpreendidas pela Uber da sua área de negócio, não podem dar-se ao luxo de negligenciar a inovação. O problema até nem é a falta de predisposição, segundo Manuel Tânger, Co-founder e Head of Innovation na Beta-i, incubadora e aceleradora de startups sediada em Lisboa. “As grandes empresas já estão atentas e querem transformar-se, de dentro para fora, mas não sabem bem como”. É neste momento que intervém a Beta-i, assumindo o papel de mediador, promovendo uma profícua colaboração entre startups e empresas estabelecidas. “Acreditamos muito nesta disrupção das startups vindas de novos modelos de negócio, de novas tecnologias, de novos processos de gestão. Mas não queremos que sejam exclusivos das startups. Queremos que as empresas estabelecidas tenham também estas caraterísticas e não se fechem nos processos mais antigos”.

 

Aceleradores Internos

A Beta-i recorre a duas abordagens para ajudar as empresas a abraçar a inovação. Numa implementa um acelerador interno: elege temas que estejam já em cima da mesa e inicia um processo que lhes permita começar finalmente a concretizar a(s) ideia(s) – o mesmo que aplicariam a uma startup. “É o que apelidamos de facilitação de inovação ou programas de intrapreneurship”, explica Manuel Tânger. “É um processo bem-sucedido porque são ideias que nascem dentro das empresas. O problema é que tendem a ficar-se pela ideia. O nosso papel é dizer por onde começar”.

 

Programas com startups

A Beta-i dispõe ainda de programas temáticos pelos quais atrai startups que façam sentido na cadeia de valor das organizações. Desaprender é frequentemente mais difícil do que aprender e o elemento de imprevisto adicionado por uma startup pode revelar-se determinante para uma empresa que esteja a passar ao lado do rumo que o seu negócio realmente necessita. Assim, a Beta-i opta frequentemente por aceitar candidaturas de startups que não respondem diretamente aos desafios da empresa. “Por vezes as melhores propostas são as de startups que não pertencem à indústria em questão. Desenvolveram a solução para outro fim, mas acaba por encaixar perfeitamente naquele negócio”, nota Hugo Vaz Oliveira, Head of Media & Partnerships. “As startups não têm tanto receio de comprometer valores de marca. Não sentem que seja um problema chegar ao mercado de forma completamente diferente daquela que tem sido a norma para aquela empresa”.

 

CASE STUDIES BETA-I

DOIS ACELERADORES VERTICAIS COM A DELOITTE E A FIDELIDADE

A Beta-i tem a decorrer dois aceleradores verticais, para a Deloitte e para a Fidelidade. Ambos dedicados à área dos seguros, com o segundo a centrar-se também em saúde.

O Processo

Tudo começa com a identificação de um conjunto de oportunidades para o mercado em questão e com um “casting call” à rede de startups da Beta-i. “Tivemos cerca de 200 candidaturas. A seleção foi feita com a Deloitte e a Fidelidade. Com este trabalho conjunto conseguimos chegar a boas soluções”, aponta Manuel Tânger. O grupo inicial fica reduzido a 25 startups, que integram o programa. Segue-se uma semana na Beta-i, de “Boot Camp”, durante a qual as startups atravessam um processo de adaptação do modelo de negócio da Deloitte ou da Fidelidade. “Esse trabalho de aproximação é desde logo muito importante, porque das 25 ficam apenas as 15 que conseguem demonstrar o maior valor possível para o cliente”. Ao longo das 9 a 10 semanas de aceleração, as startups finalistas são dotadas de toda a informação e ferramentas necessárias. Semanalmente, a Beta-i promove encontros entre as startups e as empresas, solicitando-lhes feedback. Tanto a Deloitte como a Fidelidade tiveram que adquirir rapidamente competências, de modo a produzir valor com as startups. “É um exercício fundamental. Deixamos desde o início o alerta às empresas: não podem comprar esta inovação, no sentido de que não podem pagar, simplesmente. Tem de existir um envolvimento muito profundo”, realça Hugo Vaz Oliveira.

 

Deloitte Digital Disruptors

Este programa envolveu as outras subsidiárias europeias, além da portuguesa. O objetivo era chegar a três startups e a Deloitte está a integrar dez, graças também à sua agilidade e a bons tempos de reação. Destas, oito estão a seguir um caminho internacional: do Reino Unido à Suíça e países nórdicos, passando pelo Canadá. Uma das startups eleitas permite realizar uma avaliação do perfil de risco do cliente com base no perfil de Facebook, permitindo que a sua relação com a seguradora seja mais ou menos premiada. Assim, um utilizador que apresente um comportamento conservador, por oposição a um que tenha no seu perfil fotografias a praticar desportos ao ar livre, usufruirá de um desconto no seu prémio.

 

Protechting

O programa da Fidelidade produziu já um piloto, a decorrer com a Luz Saúde. A solução passa pela minimização de infeções hospitalares provocadas pelo incumprimento dos protocolos de higiene: os profissionais que lidam com doentes de maior risco utilizam uma etiqueta RFID, que comunica com as etiquetas presentes nos diversos equipamentos de limpeza e higiene, medindo o cumprimento de todos os passos. Se tal não se verificar, é emitido um alerta que, sem identificar quem cumpre ou não o protocolo, permite avaliar, em percentagem, o desempenho global de cada equipa. É assim possível, em tempo real, emitir avisos e contribuir para a motivação pessoal de cada profissional.

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