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Como re-imaginar uma nova economia

A pandemia ainda não passou, mas esta é a altura de apostar no futuro. As empresas que começarem agora a investir terão uma maior chance de sucesso. A transformação digital das organizações é a chave para o futuro

Como re-imaginar uma nova economia

No terceiro trimestre de 2020, acreditava-se que 2021 seria um ano de voltar ao passado, a pré-2020, em que tudo voltaria aos poucos ao antigo normal. Em Portugal, o crescimento exponencial do número de infetados e mortos levou o Presidente da República e a Assembleia da República a decretar uma vez mais o Estado de Emergência.

Assim, a recuperação que se esperava teve de ser adiada. Os negócios de venda direta ao público voltaram a fechar ou a trabalhar sobre estritas limitações e – na altura de fecho desta edição – ainda não existe data para que voltem a abrir.

Tecnologia e digitalização

Há alguns anos que a tecnologia tem vindo a conquistar uma importância cada vez maior dentro das organizações. O atual estado mostra exatamente isso: é a tecnologia que há muito existia que permitiu que os colaboradores continuassem a trabalhar a partir de casa, por exemplo. Milton Cabral, Sales Manager na Axians, afirma que, “de um modo geral, todos os setores – económicos e sociais – sofrerão alterações profundas”. As alterações que vão existir estão relacionadas “com os nossos hábitos, pessoais e profissionais”. O teletrabalho – “que veio certamente para ficar” – é uma dessas alterações; outro são os hábitos de consumo que foram acelerados com a pandemia.

Clara Raposo, Dean do ISEG, indica que há algumas lições que já se aprenderam: “a tecnologia e a digitalização vão ter de chegar a todos os setores de atividade e que os modelos de trabalho mais flexíveis”, como o trabalho remoto ou um modelo de trabalho híbrido, “têm de ser bem desenhados, à medida da natureza da função de cada colaborador e da sua própria vida pessoal”.

Nuno Vieira da Silva, Head da Google Cloud em Portugal, acredita que “a tecnologia tem sido essencial para muitas empresas e pessoas”, indicando que “foram necessários investimentos que levaram a uma digitalização e inovação de diferentes processos que vão desde os modelos de negócio, reconfiguração de espaços físicos, à transformação do ponto de trabalho com a adoção crescente do home office”.

Na mesma linha, José Esfola, Diretor-Geral da Xerox em Portugal, afirma que “a alteração do local físico de trabalho” é um dos paradigmas que está em mudança. Ao mesmo tempo, “os conceitos de mobilidade e digitalização são um caminho que as empresas estão a entender que ainda não está tudo feito e a perceber que a digitalização é uma coisa, e a alteração de processos e eficácia dos mesmos é outra”.

Independentemente do foco das organizações, a cloud tem tido um papel crucial para todas as organizações, independentemente da sua estrutura ou tamanho. Carlos Carús, Diretor de Tecnologia da Amazon Web Services para Portugal e Espanha, explica que a AWS está a “testemunhar como a cloud está a ajudar os nossos clientes a executar planos fiáveis de continuidade de negócio, permitindo o recurso ao teletrabalho, enquanto lançam novos serviços que servem as necessidades reais na otimização dos fluxos de caixa e até mesmo na redução dos custos associados à diminuição da procura.

Centrado no cliente

Com base num estudo do IBM Institute for Business Value (IBV), José Manuel Paraíso, Presidente da IBM Portugal, refere que “os CEO salientaram que se tornou num imperativo focar no que é necessário para se ser essencial para os seus clientes, os seus colaboradores e a sua comunidade”, sendo necessário “centrar no que há de mais crítico no próprio negócio, no que realmente diferencia as organizações e permite a entrega de maior valor”.

José Tavares, Diretor de Inovação e Soluções da SAP Portugal, refere que há uma necessidade “de se passar além de uma visão única de Business-to-Business e Business-to-Consumer e ter-se também uma cultura – quiçá preditiva – de Business-to-Me, ou seja, um enfoque centrado no cliente”.

Depois de uma primeira fase de resposta imediata à pandemia e uma segunda assente na fase de recuperação, de arrancar novamente com a economia ao mesmo tempo que se gere a incerteza, é preciso entrar na re-imaginação. Abel Aguiar, Diretor Executivo para Parceiros e Pequenas e Médias Empresas da Microsoft Portugal, afirma que “temos de preparar hoje o momento pós-pandémico, enquanto gerimos a situação atual. Esta é a fase que começa a ganhar importância neste momento com as vacinas e tratamentos a serem disseminados, mas com taxas de adoção progressivas e distintas, país a país, com novas variantes e estirpes a aparecer mantendo uma estrutura de incerteza latente”.

Re-imaginar, explica o executivo da Microsoft, significa “rever a visão, a estratégia, os processos, as ferramentas e as skills – da economia e das organizações – com um claro foco no crescimento para identificar vantagens competitivas e tomar, desde já, as ações necessárias para as garantir no pós-pandemia”.

Desafios

Milton Cabral menciona alguns dos desafios que as empresas vão enfrentar. O primeiro é “a volatilidade e a indefinição à volta do seu futuro”, uma vez que “as variáveis que determinam os comportamentos são imensas”. Outro é a “dificuldade de mudança da cultura organizacional”.

A incerteza também é um tema referido por José Tavares, da SAP Portugal, para além da resiliência, da agilidade e da flexibilidade, que, diz, “têm de estar baseadas num conhecimento, que não põe em risco os objetivos da nossa empresa, da nossa margem, da nossa rentabilidade. É necessário pegar nesta informação e integrá-la nos processos de negócio, ao longo de toda a cadeia de valor e de todas as áreas de negócio”.

José Manuel Paraíso refere que a “agilidade organizacional”, ou seja, “a capacidade que uma organização tem para responder rapidamente, com um propósito e capacidade de desempenho” é um dos grandes desafios das organizações, até porque “o contexto empresarial em 2020 viu planos e regras de longa data a serem substituídos por urgências do momento”.

“As organizações já estão a ser bem testadas ao limite com esta pandemia”, afirma Clara Raposo, explicando que “muitos dos novos desafios que teríamos de enfrentar no futuro foram antecipados e acelerados com a pandemia, na verdade. Temos o grande desafio do upgrade tecnológico essencial num mercado internacional competitivo. Isto implica capacitar os quadros das empresas e ter visão quanto à utilização de nova tecnologia de forma inteligente”.

Sustentabilidade do negócio

Nuno Vieira da Silva relembra que “muitas organizações investiram em medidas temporárias” e essa situação “não será sustentável pois os modelos de negócio dos consumidores, clientes e fornecedores também evoluíram e tiveram de se adaptar”. Assim, “neste mundo mais competitivo, as organizações têm de ser criativas e descobrir novas formas de encontrar e manter os seus clientes. A diferenciação pode ser através de serviços como: melhorar a experiência na aquisição de bens e serviços, processos de pós-venda, recomendações e incremento da receita por cliente e programas de fidelização”.

Carlos Carús explica que “os maiores desafios na mudança e adoção de novas tecnologias não são técnicos, mas sim desafios relacionados com as pessoas e culturais”. O executivo da AWS refere que “a equipa de liderança sénior precisa de estar alinhada e verdadeiramente comprometida com o desejo de acelerar a transformação digital e a adoção da cloud”. Só assim é que “essa mesma equipa terá de definir uma direção e expectativas claras com a restante organização para que todos os elementos estejam em sintonia e trabalhar para um bem comum”.

Abel Aguiar refere que os desafios estão espalhados por quatro áreas: a capacitação dos colaboradores, a otimização das operações, o relacionamento com os clientes e a transformação de produtos e serviços. Na área da capacitação dos colaboradores, explica, esta foi “uma das maiores áreas de mudança para as organizações e será crítica para o desenho do futuro. Nunca como hoje se falou da dependência das organizações dos seus colaboradores, mas também do seu bem-estar”.

José Esfola acredita que o “maior desafio são as pessoas” e reforça que “para as organizações e para o país como um todo, há que agregar a sociedade num esforço conjunto e conseguir uma articulação efetiva entre as pessoas, as empresas e o Estado”.

Papel da tecnologia

Se a “recuperação vai ser longa e desafiante”, como diz Nuno Vieira da Silva, também é verdade que “a tecnologia é uma das forças externas de maior importância e com maior impacto em qualquer área de negócio”, como referiu José Manuel Paraíso.

Carlos Carús reafirmou que “a tecnologia tem vindo a desempenhar um papel fundamental durante a pandemia e será certamente uma preciosa ajuda na retoma da economia. A crescente adoção da computação na cloud, por diferentes tipos de organizações, irá promover a digitalização e o desenvolvimento económico de Portugal”.

Milton Cabral acredita que “o investimento em IT irá acompanhar a tendência” da evolução económica, que apontam para uma retoma. “A transição digital está ainda em curso, Portugal (e a Europa) têm ainda níveis de maturidade digital relativamente baixos e com um potencial de crescimento significativo, acrescendo ainda o facto de que entrará já este ano, e mais fortemente em 2022, o efeito da injeção dos fundos comunitários que, como sabemos, colocam bastante relevância na transição digital”, explica

Nuno Vieira da Silva explica que “A tecnologia irá acompanhar as organizações na sua jornada de transformação e adaptação a esta realidade, mas é também um facto que, para as organizações terem sucesso, têm que ter uma cultura de diálogo, cooperação e colaboração, assegurando que a transformação não é uma barreira, mas sim parte do seu processo evolutivo”. No entanto, acrescenta, “um dos fatores de sucesso prende-se com a capacidade de as empresas usarem diferentes serviços com elevada disponibilidade, mas garantindo toda a segurança. Integridade nos negócios é chave, principalmente quando os mundos digitais e físicos finalmente convergiram”.

“As empresas devem investir na digitalização e acelerar os seus processos de inovação”, afirma José Manuel Paraíso. Isto significa que as organizações devem, por um lado, “caminhar para um modelo tecnológico mais ágil, inclusivo e flexível, que é aquele que facilita a cloud híbrida e, por outro, que devem usar de forma mais intensa as capacidades diferenciadoras de tecnologias-chave como a inteligência artificial, automação ou blockchain. Atualmente, apenas cerca de 20% dos workloads foram atualizados para um modelo de cloud e apenas cerca de 14% das empresas começaram a integrar inteligência artificial nos seus processos de negócio”.

Clara Raposo relembra que o pacote de medidas e incentivos públicos vão na direção da transformação digital, “o que coloca a tecnologia no centro da economia”. Para além disso, as organizações já estavam a fazer “o seu caminho nesta transformação tecnológica”, algumas fruto da pandemia, outras que já tinham iniciado o seu percurso. A Dean do ISEG refere que “as organizações retirarão valor do seu conhecimento e investimento em tecnologia, em primeira instância, por ser a forma de competirem com sucesso em negócios globalizados e/ou altamente concorrenciais. Isto aplica- se, claro, a setores de serviços que se prestam em '2D' pela sua natureza, mas também se aplicará a outros setores de atividade que se transformaram por causa da pandemia”.

Admitindo que “a tecnologia terá um papel relevante no relançamento económico”, Abel Aguiar refere, no entanto, que esta “será apenas um enabler”. “Para que as organizações possam retirar valor da tecnologia, é crítico que olhem para ela como parte de uma transformação digital. (…) Qualquer transformação digital é uma transformação de negócio suportada em tecnologia, pelo que a criação de valor sustentável passará sempre pela estratégia e cultura da organização”.

José Tavares concorda que as tecnologias emergentes e inovadoras “serão certamente um facilitador para a transformação digital e para a sustentabilidade das empresas, abrangendo inúmeras áreas”. No entanto, explica, “necessitam de estar embebidas nos processos de negócio que suportam integralmente a cadeia de valor das organizações". O representante da SAP acrescenta que “todas as tecnologias têm uma função fundamental, cada qual de acordo com o seu perfil”, mas que todas “visam um objetivo, que é serem capazes de facilitar e capacitar a estratégia das organizações”.

José Esfola concorda que a tecnologia terá um papel determinante; no entanto, tão importante quanto as questões da tecnologia são as questões do capital humano “para tornar efetiva a utilização da tecnologia no relançamento da economia”. “O desafio está na capacidade de realizar as mudanças necessárias para que o atual local de trabalho seja o centro da transformação tecnológica que as empresas necessitavam para se manter competitivas”, conclui.

Transformação digital

Um dos pontos mais importantes para a economia nacional será a transformação digital das empresas. Os vários entrevistados concordam que este tema é vital para o relançamento económico.

Nuno Vieira da Silva explica que “Portugal cria uma vantagem ao ser um país aberto às colaborações e à cooperação internacional, capaz de atrair investimentos e acelerar o processo de recuperação económica”. Além do mais durante o último ano “quase todas as organizações tiveram de se transformar e criar uma identidade digital para se poderem distinguir da concorrência”. Neste sentido, “muitas das empresas portuguesas também já têm uma forte presença em diferentes países, por isso, fatores como escalabilidade, agilidade, eficiência operacional e financeira, produtividade e sustentabilidade serão pilares fundamentais no processo de transformação digital”.

Clara Raposo refere que, “se já antes da pandemia falávamos abundantemente de transformação digital, atualmente é inconcebível uma economia pós-pandemia que não abrace esta transformação”.

José Esfola mostra-se “plenamente convicto de a que a transformação digital, ou a aceleração dos processos de transformação digital, é absolutamente crítica para o relançamento da nossa economia”. Assim, o desafio que teremos será “o de mitigar as grandes diferenças que temos entre negócios e empresas altamente digitalizadas e as empresas que estiveram e estão mais expostas aos efeitos da pandemia”.

Milton Cabral relembra que “quase 70% da riqueza em Portugal é gerada por PME”. Um estudo da AEP Link aponta que “25% das PME indicam como principal dificuldade na sua digitalização, a falta de know-how específico, 21% aponta o tempo para inovar, 17% a falta de uma estratégia e apenas 12% a falta de capital. Portanto, além dos necessários e importantes recursos financeiros, é necessário sensibilizarmos e apoiarmos as empresas a compreenderem como podem tirar partido das ferramentas digitais, apoiando- as no desenvolvimento de um plano estratégico de transformação digital construído à medida das suas necessidades”.

Carlos Carús acredita que “Portugal está no caminho certo para acelerar a transição digital no país”. “Com um claro foco em ajudar a acelerar a transição digital como motor de recuperação económica e promover a liderança europeia na inovação digital e na economia digital, Portugal está numa posição muito favorável”, explica.

José Manuel Paraíso afirma que “a transformação digital tem tudo a ver com o aproveitamento de tecnologias para reinventar e melhorar os negócios. Sabemos que a tecnologia é agora uma base estratégica central para a maioria das empresas e pode ser um fator determinante para a sua sobrevivência e o sucesso futuro”. Ao mesmo tempo, o Presidente da IBM Portugal acrescenta que “a economia nacional pode beneficiar muito com toda esta adaptação e transformação digital”.

José Tavares explica que “a transformação digital também deve ser aproveitada para criar novas vantagens competitivas, para apoiar o constante crescimento e gerar maior rentabilidade, assim como deve considerar a implementação de novos modelos de negócio, em busca de mais sustentabilidade”.

Abel Aguiar acredita que “se há algo que nos mostraram estes últimos meses, é que a transformação digital é mais urgente do que nunca”, até porque “vivemos dois anos de transformação digital em dois meses”. No entanto, “este caminho está longe de ter terminado”.

Em suma, Clara Raposo afirma que “o relançamento da economia nacional vai exigir que as empresas e outras organizações estejam atualizadas nas suas competências digitais”.

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