As tendências tecnológicas dos próximos três anos

As empresas devem olhar para os próximos anos como críticos para a sua jornada de transformação digital, à medida que os dados consolidam o estatuto de “novo petróleo”

As tendências tecnológicas dos próximos três anos

O FutureScape mundial da IDC (“IDC FutureScape: Worldwide IT Industry 2018 Predictions”)  aponta caminhos estratégicos para a execução da transformação digital nos próximos três anos. Descodificamos o que significam para os negócios.
 

1- Metade da riqueza produzida em todo o mundo será digital (2021)

Em 2021, pelo menos 50% do PIB mundial será digitalizado, com o crescimento a ser impulsionado por ofertas e operações alicerçadas no digital. As organizações que tardem em incorporar o digital nos seus processos e produtos, nos próximos três anos, competirão apenas por uma pequena fatia do mercado. Gabriel Coimbra realça que “à medida que nos aproximamos de uma economia onde mais de metade de todas as cadeias de valor estão digitalizadas, é natural que a fronteira entre mercados e regiões tenda a desaparecer, o que significa que a s principais tendências do mercado de TIC passam a ser as grandes tendências de todos os mercados, e vice-versa”. Para Susana Soares, diretora de marketing da Fujitsu Portugal, “a inovação e a digitalização de processos dentro das organizações prometem torná-las mais competitivas e eficientes”. No entanto, alerta, o crescimento da digitalização nas organizações depende cada vez mais dos recursos humanos, da aposta nas competências “certas” e numa “liderança forte”, sem esquecer as alianças estratégicas com parceiros tecnológicos “que permitam fazer a co-criação digital”. Para a Fujitsu, o caminho passa pela capacidade de integrar inovação centrada no ser humano – “que passará também por uma força de trabalho apoiada em inteligência artificial e robôs, que combina tecnologias digitais com a criatividade humana”.
 

2 – Plataforma DX: Uma nova arquitetura de IT

 Em 2020, 60% de todas as empresas terão articulada uma estratégia de plataforma para a transformação digital, e estarão no processo de implementar essa estratégia como um novo núcleo central de IT para competir na economia digital. A IDC refere que se tratam das “novas fundações” do IT empresarial, e apelida esta nova arquitetura da “plataforma DX”, que acelerará a criação de produtos, serviços e experiências digitais. No fundo, trata-se de uma plataforma aberta ao exterior, com interfaces aplicacionais que ligam clientes, parceiros e fornecedores que utilizam a informação e os serviços que têm disponíveis. A “plataforma DX” é data driven, sendo alimentada por um ecossistema externo e por informação das próprias empresas.
 

3 – Cloud 2.0 - Mais distribuída e perto do Edge (2021)

A cloud está a evoluir e também a mover-se em direção ao edge da rede. Esta movimentação abrirá novas oportunidades de crescimento para muitas empresas, colocando também novos requisitos ao nível do planeamento e gestão do IT, que se torna- rá (ainda) mais complexo. Mas, sobretudo, alerta a IDC, a adoção da cloud já não será um tema somente de agilidade — está a tornar-se “crítica” para a inovação. “O investimento em cloud está claramente a acelerar e é tendencialmente multicloud e multi-ambiente, num contexto de hybrid IT”, realça António Miguel Ferreira, managing director da Claranet. Em Portugal, diz, “o edge terá uma importância superior a 20%, ainda em 2021, dado o maior conservadoris- mo das organizações nacionais na adoção da cloud, quando comparadas com organizações nos EUA, Inglaterra, França ou países Nórdicos”. A Claranet acredita que dentro de três anos cerca de 90% das organizações nacionais serão multi-cloud. “No futuro, o IT é híbrido e é cloud. Seja em clouds privadas, em clouds públicas corporativas ou compliance-driven (Claranet), até clouds Públicas de grande escala, generalistas (Azure, AWS e Google)”. A IDC prevê ainda que os gastos com cloud (serviços, software e hardware relacionado) mais do que dupliquem até 2021.
 

4 – Inteligência Artificial na base da inovação (2019)

Em 2019, 40% das iniciativas de transformação digital utilizarão serviços de inteligência artificial (IA); em 2021, 75% das apps empresariais comerciais vão utilizar IA. Também por esta altura, mais de 90% dos consumidores vão interagir com bots de apoio ao cliente e mais de 50% dos novos robôs industriais vão ter IA. A IDC prevê que nos próximos 36 meses o recurso a machine learning, deep learning e bots seja imperativo para o desenvolvimento aplicacional.

A cibersegurança será uma das primeiras e mais relevantes aplicações — em dois anos 60% das duas mil maiores empresas do mundo vão ter segurança baseada em inteligência artificial. “Experiências únicas e personalizadas, maior assertividade na tomada de decisões, melhoria da produtividade, mais eficiência ou serviços prestados em tempo real são alguns dos benefícios que a IA apregoa, não conduzindo necessariamente a uma substituição da mão-de-obra humana”, sublinha Fernando Braz, diretor executivo do SAS Portugal. Esta nova realidade não é, porém, isenta de desafios. “De realçar a questão da falta de competências a nível analítico, essenciais para maximizar o valor da IA no nosso quotidiano”. Importa não esquecer a profissão do futuro: os data scientists. “Os dados não param de se multiplicar e há que saber recolher, organizar, tratar e analisar esta informação que, combinada com a IA, promete revolucionar o mercado”. Mas a IA, alerta Susana Soares, da Fujitsu, “é mais do que deep learning e machine learning”.

Nas empresas, antevê o aparecimento de “soluções de IA aumentada”, que vão além do reconhecimento de voz e do reconhecimento de imagem. “Irão surgir novas técnicas de IA combinadas com análise, automatização e dispositivos que irão apoiar as pessoas no seu trabalho, melhorar a informação disponibilizada em tempo real e a qualidade de serviço entregue em diferentes setores de atividade”. A Noesis acredita que nos próximos dois anos todas as empresas tenham que incluir IA nos seus sistemas comerciais para se manterem competitivas. “Os robôs, principalmente aqueles usados na indústria, tanto para fabrico como para logística, incorporam cada vez mais IA para tomada de decisão de algumas tarefas, seja de otimização seja de prevenção de alguns erros que possam ir acontecendo nas suas rotinas diárias”, indica Nelson Pereira, CTO. No entanto, identifica “algumas reticências” na adesão rápida e massiva a esta tecnologia, “visto que a linguagem humana ainda é demasiado complexa, escrita ou falada, para termos nos próximos anos a mesma compreensão de um humano na melhor resposta ao cliente”.
 

5 – Desenvolvimento "hiper-ágil" a despontar (2021)

Os novos serviços criados para a economia digital exigirão um deployment das aplicações mais ágil do que nunca, e que aproveite a escalabilidade, flexibilidade e portabilidade de um conjunto de tecnologias que a IDC denomina de “hiperágeis”: cloud, containers, arquitetura de micro-serviços aplicacionais, gestão de APIs abertas, entre outras. Maior modularidade e melhorias mais rápidas são os principais benefícios. O software open-source será indispensável neste contexto, e abrirá caminho a uma mudança cultural marcada por uma maior colaboração e abertura. A IDC aconselha o recurso a Platform-as-a-service (PaaS) para o deployment de aplicações baseadas em containers e em arquiteturas de micro-serviços.

Nelson Pereira dá o exemplo do Docker, no âmbito dos containers, que tem registado “uma adoção exponencial por parte de todas as empresas, visto que se colocam aplicações a correr sem necessidade de se criarem máquinas específicas para tal. Para Susana Soares, da Fujitsu, as técnicas nativas da cloud, como a arquitetura orientada por eventos e os micro-serviços, vão crescer nos próximos anos, pois são “essenciais” para o sucesso de serviços em tempo real, como as soluções de negócio focadas na IoT. “Acreditamos que os micro-serviços passem a ser vistos pelas vantagens reais que trazem em vez de o serem apenas pelo contexto da tecnologia”.
 

6 – Voz, biometria e Realidade Aumentada: as novas interfaces (2020)

Nos próximos 36 meses, as interfaces humano-digital vão ser diversifi- cadas. A IDC prevê que um quarto dos técnicos de field services e mais de 25% dos information workers utilizem realidade aumentada (RA). Esta última mudará a forma como os colaboradores interagem com os objetos físicos. Nelson Pereira, da Noesis, prevê que a realidade aumentada tenha uma “forte adesão” em mercados industriais, sobretudo na componente de formação, dando o exemplo concreto da engenharia ligada ao setor automóvel ou aeroespacial, “onde um conjunto significativo de engenheiros, para se formarem na manutenção de um novo motor para um carro/avião, teriam que gastar milhões para poderem desmontar/montar as peças individuais que formam um motor”, algo que com a realidade aumentada é dispensado. A IDC aponta a voz como o novo nível de interatividade para uma miríade de novas aplicações móveis, até 2020 — metade devem utilizar a voz como interface principal. “Teremos que assistir a uma evolução maior na IA para interpretação da linguagem humana de forma a vermos as apps, também elas, a adotarem esta forma de interação”, defende Nelson Pereira.

A IDC prevê também que 50% das duas mil maiores empresas mundiais recorram a sensores biométricos para personalizar experiências. “Esta predição está em linha com a evolução atual do mercado”, indica Samuel Silva, partner da Procensus. “O que os dados nos dizem é que os senso- res terão uma evolução significativa, nomeadamente nas áreas da saúde, desporto, bem como no quotidiano. A realidade virtual é outro foco em grande destaque, com o hardware a ficar dispo- nível para desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias como os óculos para visualização, PC’s cada vez mais vos, com uma maior capacidade de processamento e dados em memória”.
 

7 – Blockchain, o selo de confiança do digital (2021)

A maior ameaça à economia digital é a ausência de confiança, diz a IDC. Aumentá-la é imperativo, o que justifica a relevância crescente do blockchain, um registo descentralizado pelo qual as transações de valor são agrupadas de forma sequencial em múltiplos blocos. Do mesmo modo que a cloud beneficiou a disseminação da IA, também deverá ser fundamental para a disponibilização do blockchain. Em 2020, 25% das principais transações bancárias e cerca de 30% dos retalhistas e produtores, bem 20% das organizações de saúde, vão utilizar redes de blockchain na produção. “De facto, até 2021, 25% das empresas a nível mundial estarão já a tirar partido da tecnologia blockchain, até porque as bitcoins estão a superar as previsões e a crescer na sua aceitação como forma de pagamento”, sublinha Ricardo Martinho, enterprise sales executive da IBM Portugal. “Como tal, cada vez mais se tem percebido que o blockchain é um sistema transacional seguro por excelência e que serve e cumpre o intuito para o qual foi criado”.

Segundo a IBM, as empresas estão cada vez mais “a verificar e a certificar a credibilidade deste sistema e a criar proofs of concept em torno desta tecnologia”, com o objetivo de reconhecer “in loco” as suas capacidades e as vantagens. “De facto, algumas das grandes empresas mundiais já têm casos reais em produção, designadamente na área do retalho e do trade finance - sendo que alguns dos maiores bancos mundiais também já entraram na corrida, associando-se a alguns grupos que foram criados especificamente à volta desta área”, revela.
 

8 – Dados como-um-serviço (2020)

Dentro de dois anos, a esmagadora maioria das grandes empresas (90%) vão gerar novas receitas a partir da comercialização de dados-como-um-serviço (data-as-a-service), um aumento de 50% face a 2017. “Todos serão um fornecedor de dados”, pode ler-se no FutureScape. Aliás, as empresas serão cada vez mais avaliadas pelo valor dos dados de que dispõem. Esta monetização da informação exige uma colaboração mais próxima entre IT e linhas de negócio, avisa a consultora. Ricardo Martinho evoca o papel do Big Data, da analítica avançada e dos sis- temas cognitivos para esta evolução — através destes, diz, “é cada vez mais fácil extrair esse conhecimento válido do amontoado de dados não estruturados que são produzidos diariamente - que se estima que sejam 80% dos dados”. Muitas das grandes empresas que geram e analisam grandes quantidades de dados, adianta, “começaram a incluir nos seus business plans casos de negócio de revenda de informação a outras empresas que pudessem estar interessadas”.

Por exemplo, acrescenta, “uma empresa de distribuição que pretende utilizar sistemas de IoT para gerir e otimizar as suas rotas, por forma a maximizar o investimento, pode tirar partido de dados sobre a meteorologia, trânsito, poluição, entre outros, não só para o seu próprio negócio, como também disponibilizá-los a outras entidades que também possam usufruir dessa informação”. Assim, conclui, “esta será cada vez mais uma área de revenue adicional”. Fernando Braz fala numa “grande mudança na forma como lidamos com esta avultada quantidade de informação”, que está a ser utilizada “de forma mais  ágil e diversa do que nunca”. O diretor exe- cutivo do SAS Portugal indica que o data-as-a-service “vem facilitar o uso e manipulação dos dados por parte das empresas” que, muitas vezes, têm do seu lado informação desorganizada, da qual “acabam por não tirar o devido partido”. Samuel Silva, da Procensus, refere que “a prova” de que os dados são cada vez mais valiosos “é o modelo de negócio das empresas detentoras de dados estar em franca expansão, desde a simples disponibilização de dados até ao trata- mento da informação com modelos analíticos complexos”. Assim, defende, “com as bases de dados em tempo real será possível extrair to- das as métricas necessárias para se poder de- finir, quantificar e validar estratégias e, acima de tudo, criar previsões e analisar o impacto das ações, também em tempo real”, algo que “será um dos principais focos de sucesso das empresas”.
 

9 – Low code vai democratizar desenvolvimento de aplicações (2021)

As melhorias nas ferramentas de desenvolvimento low code/no code que se têm registado nos últimos tempos permitem que todos sejam developers — este software acelera o processo de desenvolvimento e possibilita que developers mais associados ao negócio criem inovações digitais que a IDC apelida de “mais sofisticadas”. As empresas mais bem-sucedi- das vão aproveitar o potencial destas ferramentas ampliando o acesso às mesmas e promovendo uma cultura assente nesta premissa. Os developers não tradicionais vão entregar 20% das aplicações de negócio e 30% das ca- raterísticas de novas aplicações nos próximos três anos.
 

10 – APIs abertas ao serviço do desenvolvimento (2021)

O modelo operacional de um nativo digital é a criação de APIs abertas e de ecossistemas de developers em seu redor. Se em 2017 estes ecossistemas tinham perto de zero por cento de penetração, até 2021 um terço das intera- ções com os serviços digitais de mais de metade das duas mil maiores empresas do mundo acontecerão através de ecossistemas de APIs abertas. Deste modo é possível, diz a IDC, dis- tribuir de forma massiva e em escala os serviços e plataformas digitais através de terceiros, e crescer para lá das interações com os pró- prios clientes.

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