"Todas as empresas têm de ser digitais"

Como pode a Cisco ajudar as organizações a reinventarem-se e a encontrarem o seu rumo na era da conectividade plena? Sofia Tenreiro, diretora-geral da subsidiária portuguesa, revela-nos a estratégia para os próximos tempos.

"Todas as empresas têm de ser digitais"

IT Insight - Como se posiciona a Cisco nesta era de transformação digital?

Sofia Tenreiro - A Cisco tem estado a acompanhar e a antecipar toda a transformação digital. Temos vindo a liderar as várias fases da Internet, que designamos de Internet of Everything (IoE), que é mais do que a Internet of Things – deste modo, juntamos as pessoas, as coisas, os processos e a informação. Isto porque acreditamos que todas as empresas têm de ser digitais. Sabemos que daqui a uns anos a maior parte das empresas atuais já não vão existir, e por isso as organizações têm de reiventar-se, caso contrário irão desaparecer, porque vão deixar de ser competitivas.

Essa reivenção passa, precisamente, pela digitalização das empresas, que têm de aproveitar o que a tecnologia tem para lhes oferecer, para aumentarem a sua eficiência, competitividade e para se adaptarem, por exemplo, aos millennials, que têm uma forma de viver completamente diferente das outras gerações.
No fundo, todas estas transformações, quer internas quer externas, obrigam a olhar para tendências que já não são novas, são uma realidade. Estamos a falar da Internet of Everything, de cibersegurança, da segunda fase de cloud, do fog computing. Sem estas tendências as empresas não vão conseguir reiventar-se e tornar-se mais competitivas.

A Cisco também empreendeu a sua própria mudança…

É notável pensar que a Cisco é uma empresa com tantos anos e que tem conseguido reiventar-se, passando de uma empresa de hardware para uma empresa que atualmente conta com um grande portfólio de software, de soluções e serviços, ou seja, conseguiu também reiventar-se.

O que devem as empresas começar por fazer?

Há um conjunto de tendências que mostram que todas as empresas, independentemente da área de negócio, da dimensão e da indústria, vão ter de ser empresas tecnológicas.
Estimamos que atualmente existam cerca de 5 milhões de equipamentos, “coisas”, conectados, mais 30 por cento do que o ano passado. Ou seja, todas as empresas vão ter equipamentos, coisas, objetos, que vão estar ligados entre si, com os seus colaboradores,  com os seus clientes, e esta informação tem de ser trabalhada para que possam ser tomadas as melhores decisões. É necessário colocar essa informação ao serviço da empresa, da sua eficiência, da sua produtividade e competitividade. O tratamento dos dados tem de ser feito rapidamente e de forma automática, para que possam ser tomadas as melhores decisões possíveis.
É importante não esquecer a cibersegurança. Independentemente da indústria onde a empresa esteja a operar, existem ataques cada vez mais sofisticados.

Sofia Tenreiro, diretora-geral da Cisco Portugal.

A cibersegurança é um dos maiores desafios?

Sim, porque é uma ameaça real e cada vez maior. A Cisco tem estado a apostar muito nesta área. Temos, aliás, cinco mil colaboradores dedicados e a maior parte das aquisições que temos feito têm sido em cibersegurança, com o objetivo de completarmos o portfólio e de melhorar as nossas ofertas neste campo.

Como avalia o nível de maturidade digital das empresas portuguesas?

As empresas portuguesas têm uma grande curiosidade. As pessoas estão sempre a tentar perceber o que se passa noutros países e noutras indústrias, e a procurar aprender. Sentimos no último ano uma retoma e mais dinamismo por parte do mercado. As empresas procuram cada vez mais adotar soluções tecnológicas e acelerar a sua digitalização.
Em relação à cibersegurança, notou-se no último ano uma mudança total no comportamento das empresas. Atualmente há muito mais a noção de que cada empresa tem vários bens preciosos, quer seja a informação dos clientes, a informação da própria empresa, a sua rede ou as suas lojas. Se estes forem danificados ou roubados, a empresa pode ter danos irreparáveis, até de reputação, que são muito difíceis de recuperar.

A Cisco tem, então, notado que as empresas estão mais preocupadas em digitalizar-se?

Sim, todas as empresas, de várias dimensões. Grandes empresas, PMEs e setor público, que também procura modernização, simplificação de processos e melhorar a colaboração entre departamentos. Hoje em dia é muito fácil, graças às ferramentas ao dispor, acabar com os silos no seio das organizações.

Qual a estratégia da Cisco para ajudar os CIOs na transformação digital?

Procuramos ser um trusted advisor. Através da nossa rede de parceiros, queremos ganhar a confiança dos CIOs e partilhar o nosso know-how, para respondermos melhor às suas necessidades e acelerar a sua transformação, preparando-os para o futuro.
Temos um programa que se chama “Cisco on Cisco”, onde partilhamos como é que internamente implementamos estas soluções, porque toda a tecnologia ao dispor dos clientes é adotada por nós internamente.
Procuramos partilhar como o fazemos, as nossas experiências e, por outro lado, mostramos reference cases, de outros clientes e países. Acreditamos que com estas experiências e trocas de aprendizagens conseguimos ajudar tanto os nossos parceiros como os nossos clientes a encontrarem a melhor solução para eles.
Por outro lado, estamos constantemente a atualizar o nosso portfólio, muito através de aquisições, com o objetivo de complementar as nossas ofertas e de sermos mais ágeis nestas novas áreas.

Em que tecnologias está a Cisco a apostar mais?

A Cisco tem o seu core na infraestrutura, no qual vai continuar a apostar, porque é em cima desta que vivem todas as outras soluções e é da inteligência dessa infraestrutura que se consegue tirar um maior partido. Tendo como base a infraestrutura, temos algumas apostas estratégicas. Na cibersegurança temos estado a fazer algumas aquisições para ter um portfólio de continuidade, que protege antes do ataque, durante e depois. A ciberegurança é claramente uma das nossas grandes apostas.
Toda a questão do Wi-Fi e de mobilidade também, porque atualmente é uma commodity: as pessoas entram em qualquer local e estão à espera que lhes seja dado o acesso à rede. Por outro lado, estamos ligados 24 horas por dia, em trabalho ou lazer, e sobretudo as camadas mais jovens esperam poder trabalhar em qualquer sítio.
Há um segundo ponto muito importante na mobilidade e no Wi-Fi, que diz respeito a um conjunto de serviços assentes sobre a rede. Permite, por exemplo, saber a localização do cliente dentro de uma loja, o tráfego de clientes e até enviar mensagens personalizadas.
Outra área importante é a IoE, que se relaciona com a ligação de todos os equipamentos, pessoas e processos de informação. Nas smart cities, por exemplo, como é que conseguimos transformar a vida do cidadão e que a cidade seja muito mais eficiente?
Temos implementado muitos projetos em cidades do mundo inteiro. Relacionadas com tudo isto estão as ferramentas de analytics e automation, porque há muita informação proveniente destes equipamentos. Precisamos de a tratar e de ligá-la ao fog computing.
A cloud é inerente a tudo isto – como estamos sempre ligados precisamos de aceder rapidamente à informação.
Na Cisco não concorremos com as clouds públicas, somos complementares, e trabalhamos com um conceito de “confederação de clouds” – trabalhamos com todas e garantimos que o acesso é o mais rápido e seguro possível.


Que conselho daria a um CIO que está agora a iniciar um processo de transformação digital?

Deve estar muito desperto para a necessidade de atualizar-se e adaptar-se ao que a tecnologia disponibiliza para impactar o seu negócio, as suas necessidades e desafios. Os CIOs têm um trabalho muito desafiante, porque têm de estar constantemente a par da última tecnologia, das últimas ameaças, e perceber qual a solução que melhor se adapta à sua empresa. Neste caso, o CIO deve sempre escolher pela confiança, pela qualidade das soluções à disposição, olhando muito para o futuro da empresa e para o modo como estas vão poder acompanhar a organização nos póximos 10 a 15 anos. Apesar de haver uma grande alteração nas tecnologias ao dispor, não é possível estar sempre a mudar de soluções. Tem de existir uma base que permita uma evolução posterior, através de upgrades e de saltos tecnológicos.
Os CIOs devem manter-se muito atualizados, tentar perceber quais as melhores soluções do mercado e estarem muito recetivos a outros casos, quer de outros países quer de outras indústrias. É também importante que toda esta transformação digital seja acompanhada de uma transformação cultural no seio da empresa.

Em que sentido?

É muito importante a própria educação dos colaboradores, bem como a adoção que estes fazem da tecnologia. No caso da segurança, por exemplo, muitas vezes as ameaças começam internamente, e se o utilizador estiver mais esclarecido sobre o que pode ou não fazer acaba por dinamizar-se.
Acredito que a tecnologia é o grande fator diferenciador das empresas, porque aumenta a competitividade, mas isso tem de ser visto sempre em conjunto com o fator humano.
As pessoas estão habituadas a ferramentas de instant messaging na sua vida pessoal, por exemplo, pelo que a empresa tem de disponibilizar o mesmo tipo de soluções, de modo a que os colaboradores mantenham os seus níveis de produtividade. Deve, também, envolvê-los em toda esta adoção, porque o resultado será diferente.

 

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