Carlos Paulino, Managing Director da Equinix Portugal, aborda o aumento exponencial dos dados como um dos fatores impulsionadores para o desenvolvimento do mercado de data centers e apresenta a sua visão sobre as características e posição privilegiada de Portugal como um hub para a zona do hemisfério sul-atlântico.
Fale-nos um pouco da Equinix. Equinix surgiu em 1998 e, desde o seu início, o objetivo passou sempre por dinamizar e conectar os diversos parceiros e players do mercado das telecomunicações e do IT, de forma a construir locais no qual os ecossistemas conseguissem crescer e interligar-se entre si. É, sem dúvida, uma empresa que teve um crescimento extraordinário ao longo destes 25 anos. Neste momento contamos com mais de 250 IBX – International Business Exchange – como a ideia de um ponto no qual os negócios se ligam e criam ecossistemas. Hoje, cada vez mais, vemos que realmente os sistemas estão ligados entre si, as indústrias estão ligadas entre si, já não há apenas aquela cadeia linear de supply chain, na qual eu tenho o meu fornecedor único que me dá a minha matéria-prima e eu produzo o produto. Isso é de um classicismo inexistente, e a verdade é que hoje cada empresa tem múltiplas ligações e múltiplos stakeholders, com os quais tem necessidades de interagir e cada vez mais em tempo real. É aí que a Equinix desempenha um papel fulcral porque não só cria este ambiente no qual todos conseguem ligar com todos, como tem a capacidade, através de serviços, de interligar as diversas localizações que tem à volta do mundo. Dentro do que são os nossos serviços, dentro do que é o alojamento, a segurança para servir negócios de alta criticidade, o modelo mais clássico, até toda esta nova evolução dentro do que são os serviços digitais, a Equinix está realmente a fazer esse caminho de mão dada com os clientes. Qual é a vossa segmentação de serviços? Qualquer empresa que opera hoje em Portugal, e que queira a capacidade de latência mais baixa e a maior largura de banda à conexão troncal da internet, o local é a Equinix, em Lisboa. É, indiscutivelmente, o ponto de interligação. Esse é o serviço mais tradicional de alojamento da sua infraestrutura informática. Ao estar dentro desta instalação, qualquer ambiente, seja meramente on-site de computação própria no nosso data center, seja uma solução de cloud híbrida, seja em multicloud, os fornecedores de cloud são alcançáveis diretamente a partir daqui; é o ponto de maior proximidade. Portanto, tem automaticamente a capacidade de criar ambientes híbridos e multicloud dentro de uma mesma localização, com as latências mais baixas que são possíveis em Portugal, e colocar automaticamente o seu negócio a ser competitivo com qualquer outra localização da Europa porque tem exatamente o mesmo nível de qualidade de serviço e de capacidade de entrega. Esta parte de ligação a cloud é, sem dúvida nenhuma, fulcral. Depois, a parte de ligação a todos os operadores que existem, porque se falarmos de uma entidade nacional ou de qualquer empresa dentro do nosso mercado, no qual tem uma distribuição geográfica pelo país, ao estar com o seu centro de processamento principal aqui, tem acesso a todos os operadores. Consegue, automaticamente, comparar propostas de interligação a todos os locais de forma muito mais transparente. Aqui são todos comparáveis e a diferença entre eu estar a usar o operador A ou o operador B passa apenas por dizer à Equinix “mudem-me a porta 27 para a porta 29” e está, automaticamente, num novo operador. Quer empresas com objetivos de internacionalização, quer empresas que já estejam presentes em múltiplas localizações à volta do globo, a Equinix não só tem a capacidade de também fazer alojamento lá, segundo o mesmo contrato e o mesmo modelo, através de um fornecedor único, como tem capacidade de lhe dar interligação entre os diversos data centers. Isso é algo que, ao dia de hoje, é uma característica absolutamente distintiva dentro da oferta da Equinix. Porquê a escolha de Portugal para a instalação e desenvolvimento destas infraestruturas de data centers? Inicialmente, vimos os grandes players de cloud a desenvolverem competências e capacidades e a instalarem-se em localizações extraordinariamente centrais na Europa que, a partir daí, serviam todos os países à volta. Posteriormente, vimos que essa circunferência tem vindo a alargar: há coisa de oito anos, dez anos, vê-se um ramp-up extraordinário, por exemplo, em Madrid, e cá em Portugal ainda não se sentia tanto. Desde há cinco anos para cá vê-se realmente que os grandes players globais estão a deslocar-se para cada vez mais próximo do edge, a um nível de capilaridade maior. Nós estamos a assistir neste momento em Portugal a este novo hype, um novo salto de necessidades. Sem dúvida nenhuma de que a nossa posição geostratégica é absolutamente única, e se nós somos periféricos para a Europa, somos absolutamente centrais para o Atlântico. Portanto, não é de agora, não foi com a revolução digital, é algo que desde o início das comunicações é claramente identificado: Portugal é um dos pontos que permite toda a interligação a nível da zona Atlântica e, conhecendo as economias neste momento em desenvolvimento, quer seja em vias de desenvolvimento em África, quer seja também muito dentro do que é o desenvolvimento da transformação digital da América Latina, estamos num ponto absolutamente nevrálgico para poder servir ambos os mercados e poder ter a capacidade de interligação entre a Europa e tudo o que é o hemisfério sul-atlântico a partir de Portugal. Antes, o número de fibras óticas que cobrem a costa oeste de África estava em quatro; agora com a entrada em serviço do Equiano e do ATU Africa ficou em seis. Todas elas ou começam ou têm aqui o seu ponto principal antes de entrar em África. Lisboa, Portugal, no seu todo, torna-se, sem dúvida, nesse ponto absolutamente de suma importância para o processo. Lisboa acaba por servir um pouco como um hub entre, por um lado, a América e, por outro lado, África... Neste momento, com a ligação a toda a parte mais oeste, direta à América do Norte, conseguimos visualizar tudo o que é o Atlântico para qualquer empresa que, a partir da Europa, queira chegar a estas geografias. Automaticamente, esta posição geográfica é um ponto absolutamente fulcral. Notam-se cada vez mais investimentos avultados em tudo o que é o reforço de fibra em capacidade terrestre para o centro da Europa, que era outro ponto no qual eu creio que passámos por um período de “excessiva calmia”, e que, de facto, nos deixou um pouco atrás, mas que, neste momento, com investimentos dos mais diversos players, maioritariamente investimento privado, estão-se a construir verdadeiras autoestradas digitais que atravessam toda a Península [Ibérica] e ligam aos pontos centrais da Europa. Ao transformarmo-nos neste hub, pode haver uma maior procura por mais capacidade global de data centers em Portugal? Eu creio que, pela primeira vez, estamos a reunir todas as condições que são necessárias para que tal aconteça. Na verdade, nós sempre tivemos a parte da componente de conetividade submarina; estamos a desenvolver a parte da componente terrestre. Temos neste momento um investimento significativo em energias renováveis e a energia é, sem dúvida, um ponto fulcral para o desenvolvimento de toda uma indústria de data centers. Temos investimento que a Equinix está a fazer, com expansão de capacidade, e que muitos outros players que estão a entrar no mercado português estão a desenvolver, para que realmente exista em Portugal o centro logístico de dados, como um repositório de dados e capacidade computacional de processamento e tratamento de dados. Creio que estão reunidas as principais condições. Há, sem dúvida, um caminho ainda a fazer no sentido de tudo o que é a regulamentação para esta indústria, e tudo o que é a celeridade em termos de licenciamentos de todo o processo que sempre foi extraordinariamente burocrático, pesado e muito demorado e, muitas vezes, incompatível com a indústria onde estamos. Necessita, sem dúvida, dessa aceleração para competir. Os data centers e, por sua vez, obviamente, toda a conectividade submarina e terrestre, são fatores multiplicadores de PIB. Não estamos a falar só no que é o investimento direto; estamos a falar de toda a capacidade multiplicadora que podem ter sobre o produto interno. Que setores da economia portuguesa estão a liderar a procura por maior capacidade de armazenamento e processamento de dados? À medida que a transformação digital opera em cada uma das indústrias, vemos o aumento exponencial do número de dados e a necessidade de tratamento e de armazenamento. Obviamente que dentro do que foram as tecnologias de informação e toda a capacidade de cloud é, sem dúvida, um dos impulsionadores do desenvolvimento do mercado de data centers. Vemos hoje o setor público a ser um ativo participante dentro do ecossistema dos data centers; áreas como a saúde, por toda a parte dos grandes volumes de informação; e, sem dúvida, com toda a revolução que todos esperamos que a inteligência artificial traga também a este domínio, acreditamos que vai ainda sofrer uma aceleração maior do que já vimos. Nos mercados que são early adopters em tecnologia – e o mercado financeiro normalmente está na linha da frente com a nova tecnologia – vemos que há uma predisposição instantânea para testar ao nível da inteligência artificial. E depois, obviamente, toda a parte a que já nos habituámos do retalho e do comércio eletrónico. No streaming, por exemplo, um consumidor final está a consumir conteúdo que, neste momento, está, de alguma forma, em Portugal? Sem dúvida. Em termos de plataformas de streaming, o que designamos de um CDN – Content Distribution Network – são redes que, de facto, têm repositórios espalhados à volta do globo e, na verdade, com a conectividade de grande largura de banda entre esses diversos repositórios estão sempre associados a algoritmos que, de alguma forma, avaliam a predisposição de cada um dos mercados no consumo de determinados conteúdos e criam o buffer adequado para o mercado português, para o mercado espanhol, para o mercado no qual estão a servir. No início era tudo servido a partir dos Estados Unidos da América; agora, cada vez mais, os utilizadores são sensíveis à ideia de carregar no play e não ter de esperar dez segundos para que a rodinha pare de rodar e me apareça o conteúdo. Portanto, há uma experiência do utilizador a que todos nós nos tornámos progressivamente mais exigentes e à qual, obviamente, os prestadores de serviço são sensíveis e respondem de acordo. Há automaticamente a necessidade de trazer os conteúdos mais consumidos em cada um dos locais para o local mais edge que os possa servir. Isto é uma tendência a nível global, e Portugal aí não é exceção. Vemos cada vez mais que deixámos de ir buscar a Dallas, nos EUA, para passarmos a ir buscar a Amsterdão ou a Dublin e hoje, provavelmente, ainda estamos a ir buscar a Espanha e, seguramente, amanhã vamos buscar a Lisboa, Porto, Sines, Coimbra, algum local diretamente a servir já à comunidade, em proximidade. Acho que todos perseguimos a latência zero desde que nos juntámos ao mundo das tecnologias de informação. Como é que a inteligência artificial está a moldar as necessidades dos Data Centers? Quando tento refletir sobre a evolução do mundo das tecnologias de informação, nós voltamos para trás: surgem os primeiros computadores com uma configuração completamente mainframe e, de facto, a computação era completamente centralizada e tudo o que tinha à volta eram terminais que acediam a um computador central. Vem todo o novo fenómeno, principalmente alavancado pela Microsoft e pela IBM, através dos computadores portáteis, dos PC, e começamos a ver um ambiente puro de computação distribuída. Os mainframes foram praticamente erradicados, tirando alguns setores como o financeiro, mas foram praticamente erradicados e a computação completamente distribuída. Vemos na década 2010/2020, com o levantar da capacidade de cloud, novamente uma centralidade. Há aqui, de facto, este efeito bastante cíclico; é pendular, andamos entre um lado e outro. Eu creio que a inteligência artificial, pela primeira vez, vai aproveitar o melhor dos dois mundos, porque se nós necessitamos de capacidade de processamento, e de processamento como nunca vimos para toda a parte de treino, e no qual a latência não é um fator tão crítico, eu diria que cada vez mais se vê esta noção de location agnostic. Eu preciso desta capacidade computacional. É-me quase completamente indiferente se está em Lisboa ou se está em Helsínquia. Eu preciso desta capacidade e esta capacidade é central. Depois temos todos os modelos de inferência que têm de estar próximo do utilizador final. Porque eu quando faço a pergunta ao ChatGPT o algoritmo já foi todo treinado e eu não quero ver a rodinha a rodar; eu quero a resposta à minha pergunta e quero-a rapidamente. A inteligência artificial traz pela primeira vez esta noção de que ambos são necessários, em simultâneo, e em perfeita sintonia. Portanto, nós vamos ver o desenvolvimento de data centers de grande dimensão para toda a capacidade de treino de algoritmos, e depois vamos ter toda esta dispersão por tudo o que é mais edge no que é capacidade realmente de inferência junto ao utilizador final. Creio que tudo o que consigamos, quer a nível governamental, quer a nível público, que possa ser um apoio ou, pelo menos, uma diminuição de entraves e de atrasos no processo, será automaticamente uma fonte de atração para os grandes players globais para se instalarem em Portugal e, a partir daqui, conseguirem entregar valor. Portanto, esse é um dos vetores no qual mais deveríamos investir e estar sensíveis. Fazendo uma ponte para a Associação Portuguesa de Data Centers, criámos comités técnicos de trabalho e, além de termos os comités típicos, que são fulcrais para toda a indústria de data centers, temos o da parte da engenharia, construção e operação de data centers, mas depois temos dentro de outro comité de trabalho, que é totalmente vocacionado na conectividade, para continuar a garantir que Portugal continua a ser este ponto onde tudo converge - é um grupo de trabalho de extraordinária importância. Temos outro comité técnico só focado no tema da energia, a tentar aprender com os erros dos outros, e a tentarmos evitar que em Portugal aconteça algo, como estamos a ver em muitas outras geografias, em que não há potência disponível ou, pelo menos, não há nos locais onde seria desejável para poder continuar a crescer a indústria. Temos um comité técnico que, tendo em consideração todas as variáveis desta indústria no mercado português, é dos comités técnicos mais fulcrais que é o da regulamentação, que dentro desta indústria é absolutamente mandatório. Hoje continua a ser difícil o enquadramento de um data center, seja a nível económico, seja a nível do código de atividade económica. O processo é complexo e isso não pode acontecer, temos de ser mais rápidos. Depois temos mais outros dois comités técnicos, um deles o da sustentabilidade. Os data centers são necessários, a sociedade necessita deles, vão continuar a crescer, e necessitamos que continuem a crescer e que sejam sempre um contributo para um footprint mais verde e para garantirmos que a nível de impacto ambiental seja o menor possível. Creio que os principais players de mercado estão completamente orientados. O exemplo da Equinix: no edifício de Lisboa usamos energia 100% verde há mais de cinco anos. Assinámos agora um PPA para um parque solar na zona norte do país, de quase 150 megawatts, para garantir que estamos a apoiar a construção de infraestruturas que potenciem a capacidade de energia verde injetada na rede e que venha a ser consumida pelos data centers. Criámos também um grupo que, no caso de Portugal, apresenta oportunidade de melhoria: o comité chama-se Hosting Portugal e, na verdade, aposta na promoção da imagem de Portugal. Nós, a promover a nossa imagem, sempre fomos extraordinariamente limitados. Acho que continuamos completamente perdidos. É complexo. Foi um trabalho que eu, pessoalmente, tenho estado a tentar desenvolver há mais de dez anos, no qual estamos presentes em feiras internacionais, mostramos o que temos em termos da capacidade do nosso data center e do país, todo este diálogo da interconexão que, muitas das vezes, é completamente desconhecido, inclusive para atores do próprio mercado, e verificámos que nos últimos quatro, cinco anos, existe cada vez mais mobilidade por parte dos principais agentes de realmente promover Portugal. A AICEP fez um trabalho extraordinário. Os resultados estão à vista, com tudo o que se captou de investimento, inclusive nesta indústria dos data centers. Mas não basta só a AICEP; todos os stakeholders do mercado têm que, de alguma forma, alinhar-se nessa mensagem conjunta de que Portugal é, de facto, dentro do mundo digital, uma capital bastante central do que será o mundo digital dos próximos dez, 20, 30 anos, com o crescimento exponencial de África, que é inevitável e desejável, sem dúvida, e com toda a ligação que temos ao Brasil. Estamos a falar de um setor exportador, não é verdade? Estamos. Até mesmo porque o nosso mercado interno são dez milhões [de pessoas]. Em termos de consumo interno, o crescimento dos data centers estaria sempre, de alguma forma, bastante limitado. Agora, se pensarmos que temos cabos diretos, principalmente o Main One, que liga apenas Lisboa com a Nigéria, podemos usar só este exemplo. Em vez de dez milhões, já estamos a falar de 200 milhões; em vez de uma média de idades que em Portugal já é algo avançada, [na Nigéria] já estamos a falar de uma média de idades inferior a 20 anos. Se nós virmos África, o oeste de África, inclusive a África Central, grande parte dos países centrais recebem a ligação ao mundo digital vindo, obviamente, da parte submarina também. Portanto, automaticamente existe aqui um mercado gigantesco e é pura exportação, não há dúvidas. E não é só exportação a nível dos grandes players globais, é também exportação para empresas portuguesas que querem internacionalizar-se, servir estas novas comunidades de consumidores da era digital que têm aí o caminho completamente aberto e toda a infraestrutura que necessitam. Eu acredito que Portugal tem tudo e deveríamos fazer tudo e alinhar todas as forças para aproveitar esta janela de oportunidade que temos, indiscutivelmente, à nossa frente. É uma oportunidade da qual, creio eu, nenhum de nós tem consciência da dimensão. A sustentabilidade também é uma das vossas grandes preocupações... Não só a própria indústria se tem movido no sentido de se autorregular e, na verdade, a Equinix esteve e participou e foi uma das impulsionadoras de um dos primeiros atos para conseguir os objetivos a 2030 mais ambiciosos do que inicialmente se poderiam prever. Mas a verdade é que continua a existir uma auto-exigência dos players e, sem dúvida, uma maior atenção também de diretivas comunitárias que, por sua vez, serão transpostas. Hoje fala-se muito da Diretiva de Eficiência Energética (ED) e de que forma os data centers tenderão para valores de eficiência que se preveem extraordinariamente desafiantes. Mas a verdade é que a inovação tecnológica e as novas soluções vieram trazer também novas formas dos data centers se relacionarem. Às vezes as pessoas não pensam, quem não está dentro da área se calhar não tem esta sensibilidade, mas quando um data center gasta um determinado volume de energia, não o transforma exatamente em energia mecânica, porque não há componentes mecânicos, é processamento. Portanto, a grande maioria dessa energia é convertida em calor que, por sua vez, é necessário tirar dos data centers e dos sistemas de refrigeração. A dúvida surge, então, por que não aproveitar esse calor? E a verdade é que o que se chama já há muito tempo como district heating ou heat recovery – sistemas de reaproveitamento desse calor para servir comunidades – estão cada vez mais na ordem do dia. Posso revelar que o nosso próximo edifício, que está neste momento em construção, já está totalmente pensado para conseguir entregar água quente à comunidade. Portanto, este tipo de iniciativas, de reaproveitamento de subprodutos, muitas das vezes de pura integração e economia circular, é algo sobre o qual os data centers estão ativamente a mover-se. A sustentabilidade é, sem dúvida, um dos pontos em que está em cima da mesa. A eficiência operacional é algo que se procura desde os inícios dos tempos e nos data centers não é exceção. Aliás, o PUE, que é um valor conhecido por toda a indústria, tem vindo a evoluir: nos data centers iniciais falavam-se em valores que chegavam às vezes a 4; há coisa de 15 anos, 2.5 já era uma coisa muito aceitável; hoje 1.5 é o valor referência para o que tem de se construir. A ED vai também no sentido de ainda conseguir chegar mais longe. O que são boas notícias, para o planeta e para a sociedade. Qual será a evolução deste mercado? Estamos a passar por muitas transformações dentro da nossa indústria. Se pegarmos só na indústria, começando apenas pela indústria dos data centers, obviamente toda a parte da HPC – High Performance Computing –, toda a parte da inteligência artificial, estabelece toda uma nova fasquia de desafios para os data centers que, tal como no passado, conseguiram resolver. Obviamente, novas tecnologias começam a impor-se também a nível dos data centers e cada vez mais o tema do liquid cooling está em cima da mesa e é, sem dúvida, um dos primeiros passos para conseguir acompanhar esta disrupção absoluta dentro do que são as capacidades de processamento; toda a parte da componente de sustentabilidade e da forma como conseguimos operar data centers de uma forma mais eficiente e que, muitas das vezes, fica-se com a ideia de que basta investir nos sistemas dos próprios data centers e está resolvido. Eu aí tenho uma visão mais lata: desde o data center até ao utilizador final, nós guardamos dezenas de milhares de ficheiros, todos nós, pessoalmente, ou que nunca mais vamos aceder na vida, que garantidamente tudo o que têm é um consumo de alojamento algures. Há necessidade, em toda a cadeia, dessa procura contínua da sustentabilidade. Dentro do que é a inteligência artificial, já está e vai gerar cada vez mais modelos de negócios e novas formas de interagir, de viver, de socializar, de relações económicas, políticas que eu creio que não somos capazes de antever hoje. Há um ponto cada vez mais de debate que é onde ficará localizada essa inteligência artificial e de que forma ela estaria distribuída pelo mundo. As primeiras previsões dão percentagens extraordinariamente baixas à Europa. Obviamente, são tecnologias que necessitam de investimentos muito avultados. Nós colocámos também finalmente em produção o nosso supercomputador. Está neste momento na Universidade em Braga e está finalmente disponível para utilização. Usar esse supercomputador – a maior capacidade computacional nacional – para treinar um algoritmo como o ChatGPT 3.5 levaria cerca de quatro anos. Quando chegasse ao fim dos quatro anos já não era propriamente inteligência porque toda a inteligência estaria “obsoleta” e, de alguma forma, o repositório de informação que alimentaria o algoritmo para o treinar já não teria a mesma capacidade de resposta a algo mais recente. Todo o tema deste incremento computacional que vamos ver é, sem dúvida, a nossa vida nos próximos dois anos. A capacidade de os mercados responderem, e dos data centers conseguirem acompanhar é, sem dúvida, o grande desafio dos próximos dois anos. Não tenho dúvidas de que teremos as soluções. Vai necessitar também de tudo o que é um reforço significativo das capacidades de conectividade, de interconexão entre as geografias, entre data centers e entre data center e utilizador final. É algo a que já estamos a assistir. Sobre as capacidades instaladas, ninguém o conseguiria prever há cinco anos. Seria completamente impossível. Os números surpreenderam todos, do mais prudente ao maior visionário. |