Luis Urmal Carrasqueira assumiu há cerca de dois meses a liderança da SAP em Portugal. Naquela que é a sua primeira entrevista, o diretor-geral reflete sobre a evolução da estratégia da tecnológica, que pretende continuar a ser o centro da gestão dos dados de negócio e, ao mesmo tempo, a plataforma que permite às empresas inovar
IT Insight – Como se posiciona atualmente a SAP, no mercado, e o que pretende ser para as empresas?Luís Urmal Carrasqueira – Independentemente de sermos uma empresa tecnológica, o nosso ADN são os processos de negócio. Junto das empresas, procuramos sempre abordar a tecnologia tendo em conta um ângulo: como é que esta pode ajudar os negócios. A SAP tem-se transformado, não apenas porque o mercado assim o pede ou devido à investigação que temos vindo a realizar, mas sim pela vontade de ajudar os clientes a transformarem-se e a serem líderes. Para a SAP, a transformação relaciona-se com processos de negócio, que devem ser verticalizados, e com a forma como estes se relacionam entre si. A relação entre processos de negócio, interação e comunicação entre indústrias, e a forma como pode levar as empresas à liderança, é o que está por detrás da transformação. Simplificar os processos de negócio é o nosso principal desígnio. Foi o que procuraram com a SAP HANA?A SAP, há alguns anos, teve uma visão que contemplou a construção de uma nova plataforma tecnológica. Para a desenvolver, olhámos para o mercado e tentámos perceber onde existia pouca inovação e onde acreditávamos que estaria o futuro. Chegámos então à conclusão de que o futuro estaria no online, no negócio em tempo real. Para tal, eram necessárias plataformas que respondessem a estas necessidades. Nesse sentido, investimos numa plataforma, SAP HANA. O nosso principal objetivo era permitir, numa fase mais avançada, que esta plataforma impulsionasse a criação de processos transformadores para os nossos clientes e para o mercado. Inicialmente, quando a SAP entrou neste mercado das plataformas cloud, a nossa mensagem parecia puramente tecnológica, mas hoje já somos encarados como um fabricante de soluções de processos de negócio completamente disruptivas e transformadoras. Atualmente, qualquer um dos nossos clientes consegue fazer a sua análise e projeção de dados, bem como simulações de dados, com base em dados reais. Além da SAP ter sido pioneira nesta transformação, abraçou ela mesma uma estratégia que passou por adotarmos as nossas próprias soluções tecnológicas. Que alterações trouxe a cloud ao modelo de negócio da SAP e qual tem sido a receção dos clientes?A reação dos clientes tem sido bastante boa. Há uns anos começou-se a falar da cloud no mercado e o buzz foi tal que a certa altura os clientes já não queriam mais ouvir falar em cloud, pois não entendiam que benefícios que poderia trazer para o seu negócio. Hoje estes benefícios já são quase totalmente compreendidos. A evangelização levou algum tempo, mas a assimilação foi bastante rápida. Hoje os clientes pedem soluções cloud porque percebem que conseguem eliminar tarefas e responsabilidades que não acrescentam valor ao negócio. SLAs, modernização da sua infraestrutura e de tudo o que é administração dos seus sistemas passam a poder ser geridos contratualmente. Depois, as soluções em cloud permitem adotar muito mais rapidamente as inovações aplicacionais. Isto traduz-se numa enorme vantagem, que se perceciona rapidamente. A SAP lida com os dados mais críticos dos clientes, o que poderia traduzir-se em alguma resistência no momento de passar estes dados para a cloud. Como têm gerido essa situação?Os clientes tendem inicialmente para modelos mais híbridos. Depois de os adotarem, começam gradualmente a ganhar mais confiança na cloud. Existem hoje contratos que regulam a parte referente à confidencialidade dos dados na cloud, e esses contratos têm a mesma seriedade dos contratos on-premises, pois nada impede que sejam violados se estiverem num data center próprio ou no de um operador. Através da cloud, as empresas têm acesso a tecnologias que nunca teriam num data center próprio. As empresas começaram por utilizar a cloud em áreas não tão sensíveis, mas o caminho está a ser percorrido rapidamente e hoje os clientes têm mais confiança, já procuram receber uma proposta cloud, não cloud, de cloud pública, privada ou híbrida. E a SAP tem a capacidade de oferecer qualquer uma destas soluções aos seus clientes. Como avalia a SAP a transformação digital do mercado português?Do ponto de vista da vontade, o mercado português encontra-se na linha da frente. No que diz respeito à execução, há vários fatores em jogo. A transformação não depende apenas da vontade das empresas, mas também dos meios que têm à disposição. No entanto, as soluções estão a adaptar-se às necessidades das empresas, os projetos são muito mais rápidos e a standardização é muito maior. Atualmente conseguimos implementar projetos na área de recursos humanos, em empresas de grande dimensão, em três a quatro meses. Isto seria impensável no passado. Este é um dos principais fatores de aceleração da transformação. A disponibilidade de investimento, porém, é fundamental. "O CIO é hoje mais um enabler de negócio do que um gestor de tecnologia e isso pode fazer toda a diferença"
Como se posiciona a SAP neste mundo da previsão associada aos dados, suportada pela inteligência artificial, e como a integra com o seu mundo, o da gestão dos dados?As empresas sentem urgência em conseguir obter previsões, por uma questão de business cases. Temos alguns exemplos que se têm revelado bastante frutíferos. Com o SAP Digital Boardroom, por exemplo, é possível fazer simulações com dados reais da empresa, em tempo real, como forma de antever alterações cambiais, custos de matéria prima, laborais, etc. Tudo isto se consegue simular em tempo real com os dados da empresa, e trata-se de uma grande revolução. Conseguir obter previsões, através da inteligência artificial e do machine learning, é uma das áreas em que a SAP tem vindo a trabalhar bastante e com casos concretos em termos de utilização prática. Para processos repetitivos, que são sempre morosos e sujeitos a erros, a introdução da inteligência artificial é uma mais-valia. Temas como a gestão de currículos, por exemplo, exige um trabalho manual que pode ser transportado para as máquinas através da inteligência artificial. Já temos clientes a trabalhar com este tipo de sistemas, que conseguem “ler” e comparar CVs virtualmente. Também é possível que seja o próprio sistema a gerar os pedidos de recrutamento e as descrições das vagas. Tudo isto são processos que requerem muito trabalho humano que hoje em dia é possível realizar com recurso à inteligência artificial. O atendimento ao cliente é outro exemplo de uma tarefa que é possível realizar com recurso à inteligência artificial, para encaminhamento para diferentes serviços. Também na área de tratamento de imagem temos vindo a investir bastante. Por exemplo, numa corrida de Fórmula 1, conseguimos monitorizar todos os logótipos que aparecem e, no final, saber com precisão qual a exposição de determinada marca durante a prova. Tudo isto gera novos modelos de negócio. Qual a proposta de valor da SAP para a IoT?Em IoT, área que endereçamos com o SAP Leonardo, vale a pena realçar que a sensorização permite transformar a manutenção numa manutenção mais preditiva. Um dos exemplos mais conhecidos é o da Trenitalia, a principal empresa de transportes ferroviários de Itália, que pela sensorização das peças dos comboios de alta velocidade conseguiu ter uma manutenção preditiva, que se traduziu uma redução de 10% nos custos de manutenção dos comboios. A SAP está também a trabalhar com casos concretos nesta área. Estas possibilidade não está apenas reservada a grandes empresas, com linhas de produção modernas. Também é possível sensorizar linhas de produção antigas. Hoje a sensorização está já democratizada. Quando se pensa em IoT, existe a ideia de que é necessário transformar toda a produção e que, depois, é ainda necessário realizar também um projeto de IoT. Esta ideia está errada. Atualmente é possível, com as linhas de produção que existem nas empresas, realizar projetos de sensorização e captar um conjunto de indicadores que são lidos pelas soluções da SAP e que ajudam a gerar negócio. É nesta camada que entra a integração da SAP nos processos de negócio. Como trabalha a SAP esta área da sensorização?Trabalhamos com vários tipos de parceiros que produzem os sensores, que estão permanentemente a recolher dados que depois são integrados com as nossas soluções, que detêm a capacidade de trabalhar esses dados, de colocá-los em contexto com o negócio, gerando alertas de necessidade ou tendências de necessidade. Por exemplo, a necessidade de reparação de um determinado equipamento pode ser acionada e automaticamente comunicada à manutenção. Por um lado, a SAP proporciona soluções inovadoras, mas, por outro, salvaguarda todo o investimento que as empresas realizaram até hoje nas suas plataformas. Considero que, neste sentido, a SAP se encontra numa posição única em termos de oferta para o mercado. Em tudo o que diz respeito à integração dos processos de negócio, a SAP está um passo à frente. |