“A pandemia tem apenas uma coisa positiva: o negócio de IT; a procura é enorme a nível mundial"

Alberto Ruano, Managing Director da Lenovo Iberia, aborda o crescimento do negócio de PC e os desafios que a situação pandémica trouxe ao mercado, não só português e espanhol, mas mundial.

“A pandemia tem apenas uma coisa positiva: o negócio de IT; a procura é enorme a nível mundial"

O que é a Lenovo enquanto empresa e que áreas aborda?

A origem da empresa é a Legend, que foi a empresa que produziu todos os portáteis e computadores para a IBM. Em 2005, a Lenovo comprou à IBM a divisão de PC. Em 2011, a Lenovo comprou a Medion, uma empresa alemã focada no negócio de retalho. Como sabem, a origem da IBM era apenas para negócios profissionais, a IBM era uma referência em negócios profissionais; por essa razão a Lenovo comprou a Medion. Em 2012, comprou a Stoneware. Lembro-me que no Natal de 2014, a empresa comprou os servidores x86 da IBM e a Motorola, vendida pela Google. Em 2017, a empresa comprou 51% da Fujitsu PC e, em 2018, a NetApp.

Tivemos vários sucessos. O mais recente foi o primeiro foldable PC do mundo. Apresentámo-lo no Natal passado e vamos tê-lo no mercado em julho ou agosto. Em fevereiro, lançámos o smartphone Razr com o mesmo conceito. É um smartphone dobrável da Motorola.

Em termos de resultados do ano fiscal 2019/2020, que fechámos em março, a receita da empresa foi mais ou menos a mesma do que o ano passado, perto de 51 mil milhões de dólares. Mas em termos de PTI [pre-tax income] e net income foi o melhor ano da história da Lenovo. Só a divisão de PC representa 40 mil milhões de dólares do total de 50 mil milhões. Os outros dez mil milhões estão entre a Motorola e o negócio de servidores.

Quando olha para os seus clientes, diria que o crescimento vem maioritariamente de onde? As empresas estão a renovar os seus PC ou são novos clientes?

O cliente português é um early adopter; gosta mais de especificações e só depois olha para o preço. O cliente espanhol tem mais atenção ao preço e depois é que olha para o mercado.

A divisão dos negócios é, aproximadamente, 45% em retalho – todas as lojas tradicionais – mais o online. O online em Portugal não é tão forte como em Espanha ou na Europa. Os outros 55% são comerciais; comercial significa grandes contas, setor público e educação.

Novos clientes, claro. Uma escola hoje é como uma grande conta. 600 crianças numa escola é como um banco com 600 funcionários; o conceito hoje é o mesmo. Todos os estudantes precisam de um computador, é mais ou menos obrigatório, e muito mais com o problema da pandemia. Em segundo lugar, está a substituição porque as empresas precisam de ser mais produtivas; novos produtos, novo software, mais autonomia de bateria, mais independentes e melhor qualidade porque a situação pandémica mudou as nossas vidas, para toda a gente. Não sei se o teletrabalho será para toda a vida ou não, mas a maioria das pessoas vão trabalhar dois ou três dias por semana em casa, isto é algo que vai ser obrigatório. Estes novos clientes estão a ajudar a indústria de IT a crescer. A pandemia tem apenas uma coisa positiva: o negócio de IT. A procura é tão grande, é muito grande, a nível mundial, que não temos produtos suficientes para atender à procura do mercado. O crescimento está a vir de novos clientes e está a vir devido à situação pandémica.

A maioria das empresas não estavam preparadas para o trabalho remoto. Acha que este aumento na procura existe para as empresas providenciarem os meios para os clientes, para os seus colaboradores realizarem o trabalho remoto? É um impulsionador para os colaboradores?

Sim. Há alguns exemplos que posso partilhar sobre os últimos três meses. Por exemplo, vimos um retalhista muito importante a vender três mil laptops a uma grande conta. Nunca na minha vida imaginei que um retalhista conseguisse vender três mil laptops a um banco. A procura é tão grande. É tão importante que os colaboradores tenham um alto nível de produtividade que toda a indústria, retalho, online, profissional, comercial, vai ter um muito bom e bem-sucedido resultado até ao final do ano. Esta é uma oportunidade muito boa para todos os fornecedores de PC, para toda a indústria de PC.

Posso dizer-vos que há um projeto muito importante em Portugal em cima da mesa com empresas de telecomunicações para o negócio da educação. O governo português ainda está a trabalhar, mas estou certo de que nas próximas semanas ou meses, vamos ver notícias importantes sobre isso.

A Lenovo tem várias linhas de PC, onde o ThinkPad é a principal. Quão importante é a marca ThinkPad para a Lenovo, em termos de negócio?

No início da empresa, ninguém sabia o que era a Lenovo. Trabalhámos e investimos muito para fazer crescer a marca Lenovo. Nos últimos anos crescemos muito na perceção da marca, em diferentes áreas de negócio. A questão é, graças ao ThinkPad, nós somos a Lenovo; o ThinkPad é uma marca com um grande reconhecimento no mercado de PC. O nome da ThinkPad e a cor do produto, o preto. ‘Dá-me o meu ThinkPad’. As pessoas não dizem ‘dá-me o meu Lenovo’. Graças ao ThinkPad, somos o número um no mundo.

Há outro número importante, quando comprámos a divisão à IBM, a IBM tinha vendido 25 milhões de ThinkPads, no início. Desde que comprámos a divisão até agora, a Lenovo vendeu cerca de 120 milhões de unidades. Isto significa que a Lenovo é uma empresa comercial, mas a marca ThinkPad é muito forte no mercado.

No caso de Espanha e Portugal, devido à nossa estratégia, investimos muito no negócio da educação. Os estudantes são os trabalhadores do futuro e os estudantes estão a começar a saber o que é a Lenovo e isso é muito bom para nós. Ainda temos que esperar talvez mais três ou quatro anos, mas a penetração da marca Lenovo na educação é muito boa. Espero que no futuro, dentro de dois ou três anos, a marca Lenovo cresça muito mais. Mas o ThinkPad é a nossa bandeira, e penso que será a nossa bandeira sempre.

Uma das vossas maiores parcerias é com a Intel. Há empresas que se estão a afastar da Intel, a passar para ARM. Como é que a Lenovo vê esta dinâmica no mercado?

Vou ser politicamente correto na resposta. Penso que os problemas com o shortage de processadores que tivemos nos últimos anos ou trimestres, juntamente com os problemas de produção da Intel, foi uma oportunidade para a concorrência da Intel. Essa concorrência começou a trabalhar com os fornecedores e, se a Intel tinha no passado 95% do mercado total, hoje tem menos devido a este problema. O que posso dizer é que os resultados e a produtividade dos nossos novos parceiros é muito boa. Estamos felizes com os resultados do nosso produto. A produtividade acho que é muito boa. Claro que a Intel é o nosso melhor parceiro, mas os novos estão a trabalhar muito bem. Atualmente, estamos a vender AMD no negócio de consumo, na educação, Chromebook, para tudo… Algo que há alguns anos era muito difícil, mas que agora é parte do nosso negócio, é normal. E os clientes conhecem a Intel e conhecem a AMD.

Isso permitiu que aplicassem diferentes níveis de preços?

Não, é mais ou menos o mesmo. Eu não posso dizer que este processador é mais barato do que o outro. Essa não é a questão, hoje não é uma questão de dinheiro. É muito mais uma questão de disponibilidade, mas a oportunidade de vender produtos a grandes contas e verificar que a equipa de IT faz os seus testes, se este produto trabalha bem ou não... os resultados da produtividade, benchmark, foram muito bons, os clientes estão satisfeitos. Penso que a AMD está a trabalhar muito bem. Estamos a trabalhar bem com esta oportunidade, o que não é fácil.

Os PC são uma fatia muito grande do negócio da Lenovo, mas a empresa também tem servidores e networking. Vê os mesmos crescimentos noutras áreas de negócio? As empresas estão a atualizar as suas infraestruturas para suportar este novo modelo?

Em termos de hypescale, serviços, infraestruturas, etc., somos uma empresa que investe muito e focamo-nos muito em hyperscale e high computing. No top 500 de high computing instalado no mundo, a Lenovo tem, talvez, mais de 170, nós somos o número um, o líder de super computing. Estamos muito otimistas. Nós temos a supercomputador em Barcelona e é um dos top 5 melhores e maiores hypercomputer no mundo e a Lenovo ainda vai investir e crescer. Em resumo, nestas três áreas, nós vamos crescer e estamos muito otimistas.

Uma linha de produtos um pouco diferente, mas muito interessante, é o edge computing. É um mercado emergente, mas isto possibilita o trabalho com, por exemplo, operadoras de telecomunicações, com a nova rede 5G? Isto é algo em que estão a trabalhar em Portugal, Espanha?

Uma das coisas mais importantes no nosso negócio é que a indústria de IT é muito dinâmica. Lembro-me que há três, quatro anos, as empresas de telecomunicações eram para nós apenas um cliente de IT. Neste momento, desde há um ano, as telco são parte do nosso canal de IT. Não apenas para comprar produtos para consumo interno, para os seus colaboradores, mas também são parte do valor para os fornecedores. Estão a fazer um muito bom trabalho com os clientes, infraestrutura e dispositivos, logística e dispositivos, telefones e dispositivos, telefones, tablets e laptops

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