A WeDo Technologies é uma empresa de software sediada em Portugal, líder global nos mercados de revenue assurance e fraud detection, que conta com escritórios em 10 países e clientes em 106. Rui Paiva, presidente executivo, mostra de que forma esta organização, que já nasceu digital, e que atualmente exporta cerca de 80% daquilo que desenvolve, está a acompanhar a evolução tecnológica do mercado
IT Insight - Como nasceu a WeDo Technologies? Rui Paiva- Atipicamente. Habitualmente, as startups (fomos uma, em 2001) nascem sobre uma ideia que depois começa a ganhar forma, a angariar clientes e a crescer. Isto leva a um problema, na medida em que exige estruturar a organização, ao mesmo tempo que se comercializa o produto. Durante determinado período, o nosso foco esteve em desenhar os métodos e processos de organização da empresa, sobre dois eixos fundamentais: queríamos que esta fosse uma empresa de produto, e que fosse global, o que era um desafio num país de escassos recursos. Teríamos sempre de estar voltados para o produto. Para podermos escalar sem custos demasiado avultados, decidimos estar focados exclusivamente nas telecomunicações, área onde tínhamos experiência. Aqui existem três grandes blocos: sistemas de faturação, sistemas de CRM e ERPs – neste ponto o mercado já se encontrava dominado. Optámos então por desenvolver uma ligação entre todas estas ferramentas. Considerámos que seríamos capazes de transformar isto num produto, de modo a conseguirmos acelerar o time-to-market. Ou seja, em vez de ser necessário recorrer a código, tudo poderia estar baseado numa aplicação. Uma das nossas maiores preocupações era que tudo fosse sempre cem por cento configurável para que a implementação não necessitasse de recorrer ao IT e fosse o próprio utilizador a instalar tudo. Foi a partir desta ideia que partiram para a criação de um portfólio? Sim. Esse portfólio subsiste até hoje, decorrente do primeiro cliente onde o implementámos, que nos solicitou um serviço adicional, na altura impossível entregar, mas que acabou por se tornar na nossa principal atividade: o revenue assurance. Para o cliente, fazia sentido que, ao implementarmos um conjunto de soluções, fôssemos depois capazes de recolher a informação proveniente de cada uma e detetar os pontos de falha. Nesse sentido, com base na mesma tecnologia, decidimos então apostar nessa aplicação. Mantivemos o foco em ferramentas que fossem cem por centro configuráveis pelos utilizadores e não pelo IT. Decidimos desenvolver tudo com propriedade intelectual cem por cento nossa, desenvolvida no nosso Centro de Desenvolvimento em Braga, que conta com cerca de 130 pessoas. O que é o revenue assurance? Em revenue assurance existem dois principais temas: custos e receitas. A WeDo atua através da integração de sondas de software em todos os sistemas que produzem informação. Depois essa informação é carregada para uma base de dados sobre a qual atuam ferramentas de business process automation. O processo é configurável, como se os dados fossem provenientes de uma única fonte, quando são oriundos de ferramentas de CRM e de ERP. Os dados são então carregados numa camada processual, estando agregados de modo a que sejamos capazes de compreender onde é que eles não estão a cumprir a sua função. Porque quando não estão, incorrem automaticamente em maiores custos, levando a perdas de receita. O sistema alerta, posteriormente, através de uma case management tool, para os processos que não estão em eficiência. Nós damos a hipótese de seguir os dados até à sua origem. O nosso maior objetivo é o de corrigir custos, corrigir receitas e aumentar a rentabilidade. Isto depois varia entre tipos de negócio. As companhias aéreas são as empresas que mais perdem dinheiro, de acordo com os analistas. Outra das principais atividades prende-se com a gestão de fraude. Como é realizada a gestão de fraude nas empresas? Na gestão de fraude procuramos a cada momento o último padrão que está a causar algum tipo de disrupção Instalamos uma ferramenta dirigida à deteção de padrões e, automaticamente, detetamos e barramos em tempo real qualquer tipo de ação fraudulenta que esteja a existir nas aplicações do cliente. Todos os dias os operadores de telecomunicações são afetados. No mercado de telecomunicações existem cerca de 38 mil milhões de ações fraudulentas por ano, o que leva a perdas superiores a 6 mil milhões de dólares anuais. Como é que estão a acompanhar o atual estado do mercado? Neste momento deparamo-nos com um grande problema em Portugal: existe falta de talento na área das TI. Atualmente, a WeDo Technologies está a trabalhar com a Câmara Municipal de Braga e com a InvestBraga no sentido de proporcionar um programa de reconversão de licenciados para as TI. Os principais licenciados que recebemos são pessoas das áreas da engenharia, matemática, que são convertidos para sistemas de informação. Ao nível da nossa prestação, atualmente exportamos cerca de 80% daquilo que desenvolvemos. Contamos com escritórios em 10 países, no total somos cerca de 600 colaboradores. Metade trabalham em Portugal e os restantes no estrangeiro. Temos uma presença nos cinco continentes e clientes em 106 países. Tendo em conta estes números, a WeDo Technologies deverá ser das empresas com mais tecnologia disseminada pelo mundo. O revenue assurance anda a ciclo ou a contra-ciclo com o mercado? Nós atuamos no mercado das telecomunicações, que estão num ciclo de fusões e aquisições. Isto leva a que comece a desaparecer mercado. O último ano foi, do meu ponto de vista, o pior. Enquanto nos anos anteriores havia uma tendência cíclica da economia, ou seja, quando a Ásia estava mal a Europa estava bem, ou vice-versa, o ano passado todos estiveram mal. Notámos que o mercado caiu bastante. Adicionalmente, os países de Leste e do Médio Oriente, que são nossos clientes, com a queda do petróleo viram a sua moeda cair a pique e nós, ao vender o mesmo em unidade, em conversão para euros passámos a perder dinheiro. Isto é, concretizámos as mesmas vendas com o mesmo esforço, mas tivemos menos cerca de 20% de receita só devido à questão da moeda. Este ano não está a ser tão negativo, até tem trazido alguma estabilidade. Do ponto de vista económico, Portugal não é o país mais relevante, a nossa receita é obtida externamente. "A evolução da WeDo Technologies foi impulsionada pela disrupção tecnológica"
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