A estratégia e o posicionamento da Oracle no atual contexto do IT deu o mote para uma conversa com Hugo Abreu, country manager da Oracle Portugal
essa mudança é similar à que ocorreu quando surgiram os mini computadores, os client server. Hoje, quando falamos no consumo das tecnologias e na cloud, observamos que as empresas tecnológicas, como a Oracle, estão a transformar-se em empresas de serviços. Isso também traz grandes desafios organizacionais e de posicionamento no mercado.
Que tipo de desafios?
A partir do momento em que a transformação começa a ocorrer ao nível do cliente, todos os players que fazem parte desse ecossistema têm de preparar-se. Os clientes deixaram de comprar às peças. Do nosso lado, temos o desafio de ajudá-los a transformarem-se, a passar para o modelo económico do digital. Acreditamos que essa transformação não engloba apenas um modelo de consumo, no data center do cliente ou de cloud pública. Acreditamos que ocorre de uma forma híbrida e, portanto, temos ofertas que cobrem quer os modelos puros de cloud pública, quer os modelos on-premises, quer o modelo misto. Entendemos ter aqui algumas vantagens, por usarmos sempre a mesma tecnologia, end- to-end, independentemente da componente privada ou pública.
Qual é, hoje, a abordagem da Oracle a uma empresa que tenha a sua estrutura on-premises?
A maior parte dos grandes clientes empresariais têm o seu negócio a correr em plataformas com mais de 20 anos. Se pretendem, de facto, fazer essa transformação digital, existe uma componente legacy que não podem deixar de ter em conta. Também reconhecemos que não é possível num ano ou em dois desligar tudo. Há muita informação que pode e deve ser utilizada, mas que deve ser simplificada e consolidada no data center do cliente, para que seja possível libertar verbas para a inovação, para a transformação digital. Por um lado, a operação do negócio tem de continuar a existir e estamos cá para ajudar os clientes nesse sentido, criando as plataformas que lhes permitam interagir com novas soluções na cloud pública. Com a garantia de que as tecnologias que hoje utilizam no seu data center podem, amanhã, utilizar na cloud pública da Oracle.
A Oracle posiciona-se como um player de cloud pública? Claramente. Podemos ainda não ser percebidos deste modo porque não nascemos na cloud. Temos oferta de cloud pública que as empresas podem adotar quando estiverem preparadas, utilizando essas mesmas tecnologias no seu data center. Encorajamos muito esta transferência, um modelo híbrido com a flexibilidade que as empresas necessitam para se iniciarem hoje na cloud pública e terem amanhã o seu data center, ou vice-versa. |
A Oracle é das poucas empresas que atualmente oferece serviços de software- as-a-service (SaaS), de platform-as-a- -service (PaaS) e de infrastructure as-a- -service (IaaS). Muitas vezes, nos outros players, existe uma mistura de tecnologias que, integradas com as componentes do data center dos clientes, cria pontes tecnológicas complexas de gerir. Temos crescido imenso nos resultados da cloud pública, mas temos feito esta transformação com os clientes nos seus data centers, de forma a que comecem a utilizar modelos híbridos que lhes permitam, futuramente, consumir cem por cento na cloud. Nos próximos cinco anos, as empresas estarão a consumir a cem por cento na cloud pública e não terão muitas das componentes no seu data center. O tecido empresarial português é maioritariamente composto por PMEs. Como se adequa a vossa oferta a estas empresas? Temos aqui uma oportunidade com a nossa cloud pública, que é a de poder entregar novos modelos financeiros e de consumo tecnológico a empresas às quais antes não chegávamos. Para nós abre-se, de facto, um espaço para a criação de um ecossistema, de um marketplace com as soluções dos nossos parceiros. Estamos a incentivá-los a publicar as suas soluções na nossa cloud pública, de modo a que possam ser consumidas no modelo SaaS, precisamente para endereçar muitas dessas empresas que não tinham condições para consumir a nossa tecnologia nos moldes tradicionais. Em que setores de atividade verificam um maior dinamismo? Nas telecomunicações, que estão sempre na linha da frente, nas energy utilities e também na área da distribuição. Há muitos negócios que estão a surgir na web e que podem ser globais no próprio dia. Para Portugal é uma vantagem e tal só é possível devido a esta transformação digital que recorre às clouds públicas. |
O perfil do vosso cliente mudou? |
Sendo o IT um aliado tradicional, e estando em risco de perder esse protagonismo, o que tem feito a Oracle para elevar o seu perfil? Quando entrámos nas área das soluções pré-integradas de software e de hardware, nos engineered systems, tínhamos no IT um dos maiores desafios. Porque deixámos de ter um interlocutor somente nas direções de IT. Ou seja, não é de um dia para o outro que se faz a transformação, que é também de culturas e de mentalidades. Acredito, honestamente, que os departamentos de IT, na maioria das nossas empresas, não são o travão da inovação, pelo contrário. Vejo nos departamentos de IT as pessoas mais bem preparadas para ajudar as empresas na sua transformação, porque já sabem o que falhou e porquê. Os dados são hoje valiosíssimos. A Oracle tem estado na componente de gestão, mas não tanto na de análise... A Oracle oferece um stack completo, que vai desde o disco à aplicação vertical de negócio. Em todas as camadas temos ferramentas que fazem a analítica da informação. Não pretendemos ficar de fora de nenhuma das componentes aliadas ao tratamento, reporting e analítica, seja on-premises ou na cloud pública. Continuaremos a investir seguramente nessa área. |
O negócio do hardware é importante para a Oracle? |
Somos capazes de entregar soluções end-to- -end aos clientes, fazendo agregações tecnológicas, tirando partido das várias camadas para que interajam entre si. Temos engenheiros que trabalham lado a lado para tirar partido do novo processador e do modo como a base de dados tira partido deste, injetando instruções SQL no próprio silício. Hoje podemos afirmar que o negócio de hardware valerá entre 10 a 12% do negócio global da Oracle, mas o impacto que tem no nosso ecossistema global é muito superior. No modelo de consumo de cloud, pública, privada ou híbrida, a componente infraestrutural é absolutamente crítica para a transformação digital. Caso contrário, voltamos à situação do player que só é capaz de disponibilizar cloud pública, não fornecendo tecnologia, tendo um problema de integração de diferentes camadas tecnológicas entre o data center do clientes (que não vão desaparecer de um dia para o outro). Haverá aqui grandes desafios de integração. |