No primeiro dia da conferência, o palco MoneyConf acolheu discussões sobre o atual clima económico, os mercados, os serviços financeiros, a digitalização e o futuro das empresas
Lisboa acolhe mais uma vez o Web Summit. A afamada conferência de tecnologia, inovação e empreendedorismo decorre até dia 4 de novembro e são dezenas de milhares os que se aproximam do Parque das Nações para ouvir, conversar e experienciar o que o evento internacional tem para oferecer. No primeiro dia do Web Summit, o palco MoneyConf recebeu variadas discussões sobre serviços financeiros, digitalização, e atuais disrupções macroeconómicas. Para falar sobre como as Pequenas e Médias Empresas (PME) potenciam a economia global, Shane Happach, CEO da Mollie, e Kathryn Petralia, cofundadora da Keep Financial, juntara-se ao moderador John Biggs. É do conhecimento geral que a maior parte do tecido empresarial português é constituído por PME, realidade que também se constata a nível europeu. Em pleno 2022, são cada vez mais as modalidades de serviços financeiros – como neobancos –, contudo, de acordo com o painel, este tipo de serviço para as PME ainda é uma possibilidade frequentemente distante, acabando por ser desfavorecidas. Segundo o painel, ativar os pequenos negócios passa pelo conceito de adaptação, maioritariamente devido à pandemia – a novos modelos de negócio, ao digital, a novos modelos de pagamento, e ao marketing digital, que, Kathryn Petralia considera “essencial”. Serviços financeiros do futuroA talk seguinte lançou a pergunta: são as marcas as soluções financeiras do futuro? Roland Folz, CEO da fintech alemã SolarisBank, afirma que é importante que os serviços financeiros se reinventem – comecem com um produto e expandam a sua oferta, criando, posteriormente, produtos de forma integrada, e escalando para outros países. “Não é necessário que os clientes se movam para fora do ecossistema se houver vários produtos, todos integrados, e houver conexão”, disse. “2022 é um ano muito difícil. Acho que alguns modelos de negócio menos estáveis têm passado dificuldades com o pouco investimento existente. Há muitas mudanças a acontecerem no mercado e se não houver uma adaptação apropriada, até as empresas mais antigas se podem desmoronar”, refere. Acrescenta: “para uma startup e uma PME mais antiga os desafios são os mesmos no clima atual; se não se adaptarem, sejam [empresas] grandes ou pequenas, podem ir à falência”. No caso concreto dos serviços financeiros, o CEO do SolarisBank reitera que o desafio para os bancos tradicionais é desenvolverem uma verdadeira proposta de valor, que acrescenta algo. “É uma proposta de valor dizer só que são seguros? Não é. Agora, nem há nenhuma razão para se ir fisicamente a um banco. Quando se quer recorrer a um serviço financeiro, quer-se opções”. Confiar ou não confiar? Eis a questãoFinalmente, a terminar as sessões da tarde do MoneyConf, subiu a palco a mesa-redonda “crypto: after the trust is gone”, que juntou a CEO e cofundadora da Unit21, Trisha Kothari, o cofundador do NFT Factory Paris e CryptoAssets Insititute, Ethan Pierse, e a CEO da OpenPayd, Iana Dimitrova. Tocando no mote do debate, Ethan Pierse começou por dizer que considera que “a confiança na Web3 e nas criptomoedas não desapareceu”. Iana Dimitrova concorda, e vai mais longe: “não foram as criptomoedas enquanto tecnologia que falharam; o que falhou foram alguns atores relacionados, da mesma forma que os bancos tradicionais nos falharam em 2008. Quando perguntamos se a confiança desapareceu, estamos a falar da confiança na tecnologia, nos ativos ou nas regulamentações? A razão para vermos fracasso não tem a ver com os fundamentos ou com a tecnologia de criptomoedas em si, tem a ver com pessoas com demasiado poder e com a inevitável ganância”. Mais, completa: “há algumas falhas de confiança e pode haver menos investimento dos consumidores, mas há cada vez mais instituições a colocarem os seus fundos em criptomoedas”. Ethan Pierse explica que “há pessoas a fazerem scams e isso não tem nada a ver com criptomoedas; tem a ver com o fator humano e com engenharia social”. A cofundadora da Unit 42 afirma que a solução está num maior investimento das empresas em avaliar a existência de scams e na sua resolução”. Mas, segundo conta Iana Dimitrova, “agora que os gráficos estão menos apelativos, os scammers começam-se a afastar também”. Finalmente, Ethan Pierse afirma acreditar que “há casos de uso de criptomoedas que não precisam de ser regulados porque não têm valor financeiro”. Iana Dimitrova discorda e afirma que a regulamentação “tem a ver com a proteção dos princípios humanos fundamentais e, por isso, a regulamentação tem de cobrir vários aspetos dos sistemas de criptomoedas, inclusiva avaliar quem pode ser responsabilizado quando as coisas falham”. |