No palco Deep Tech, no segundo dia do Web Summit, falou-se de computação quântica e de como, independentemente se entendemos ou não o conceito, vai mudar as nossas vidas
“Há alguém que perceba mesmo a [computação] quântica?”. É esta a pergunta que está na descrição da sessão “Will quantum computing revolutionise our daily lives?” que contou com Ilana Wisby, CEO do Oxford Quantum Circuits no segundo dia do Web Summit. A resposta aparece logo à frente: “sim ou não, é provável que o quantum vai ter um grande papel na definição do nosso futuro”. Mas, afinal, o que é computação quântica e quais as diferenças para a computação ‘tradicional’ a que estamos habituados? “A computação quântica não é simplesmente uma nova ou mais rápida ou melhor forma de processamento; o que traz são novos princípios. Não está circunscrito ao binário, aos zeros e aos uns; em vez disso, temos acesso a uma infinidade de aplicações, temos o zero e o um e tudo o que está no meio. Isso é uma mudança de paradigma de capacidade de tecnologia e há um grande número de aplicações que são revolucionárias para a computação”, explicou, logo no início da sessão, Ilana Wisby. O Oxford Quantum Circuits, ou OQC, é um spin-off da Universidade de Oxford e define-se como uma empresa de Quantum Computing-as-a-Service pure player. “O que isso significa é que construímos computadores quânticos, o stack completo, e – através de propriedade intelectual da universidade – controlamos o hardware, o software e conectamo-nos à cloud para que os clientes possam correr algoritmos diretamente nos nossos sistemas”, afirma Wisby, acrescentando que o serviço está disponível na Amazon Web Services em acesso público e privado. Quando se fala de computação quântica, fala-se de QuBits, o poder de processamento do computador. Para Ilana Wisby, as pessoas julgam os sistemas com base nesta métrica, “mas não é simplesmente sobre o número de QuBits; temos de ter muitos QuBits, mas não vale a pena construir sobre muitos QuBits se depois a qualidade dos QuBits em si é pior”. Wisby refere que vemos empresas a construir grandes sistemas, mas as capacidades desses mesmos sistemas estão a ficar piores. Onde a computação quântica está a ser utilizadaIlana Wisby partilhou com a audiência que os clientes da OQC estão a utilizar a computação quântica em verticais chave, como o setor financeiro, que procura diferentes otimizações e pensam no que podem fazer no futuro. Atualmente, o setor financeiro utiliza a tecnologia para, por exemplo, análise de portfólio e algumas otimizações de pequena escala. A maioria dos projetos ainda está em fase piloto. Há várias provas de conceito e, à medida que se conectam mais QuBits, aumenta-se a qualidade e diminuem-se os erros dos modelos utilizados. As organizações procuram não ficar de fora da onda da inovação e, no mínimo, querem experimentar a tecnologia. Wisby indica que as empresas querem ter a vantagem de serem os primeiros a experimentar a tecnologia e a olhar estrategicamente para o futuro do negócio e quais os riscos possíveis. “Vemos empresas a preparar as suas próprias equipas quantum com especialistas para aprenderem a identificarem onde a computação quântica pode ter mais impacto, mas também a aprenderem as competências internamente com os computadores de hoje para, quando o poder [de processamento] estiver disponível, possam alavancar essa equipa. Ninguém quer ficar para trás”, refere. A soberania dos dadosIlana Wisby refere que o objetivo da OQC é colocar a computação quântica o mais depressa possível nas mãos das pessoas para que estas possam experimentar e beneficiar todo o ecossistema. Questionada sobre o porquê de a União Europeia querer construir um computador quântico – quando é possível aceder a um computador já existente, como o da IBM – Wisby relembra que “estamos a lidar com dados, dados muito sensíveis. Os governos estão a dar muita atenção porque isto é visto como uma tecnologia de importância estratégica, não só pela liquidez, mas também pelo impacto nos mercados”. |