Cassie Kozyrkov, CEO do Data Scientific, explicou como os humanos devem tirar proveito da IA como ferramenta. Áreas criativas vão continuar a necessitar de indivíduos para definir o caminho e o resultado final
Com o desenvolvimento da inteligência artificial, em especial a inteligência artificial generativa, o futuro do trabalho tem merecido especial atenção, nomeadamente no potencial que estas tecnologias trazem aos trabalhos e à própria forma de trabalhar. Cassie Kozyrkov, CEO do Data Scientific, levou até ao palco principal da Web Summit a discussão sobre quais as áreas que, de futuro, deverão manter-se 100% humanizadas. No atual contexto da inteligência artificial, Cassie Kozyrkov apresenta dois tipos diferentes desta tecnologia: a IA generativa e a IA discriminativa. A primeira, mais antiga, tem como objetivo obter uma resposta certa, aplicar um determinado rótulo; no caso da IA generativa funciona hoje como um “fake maker”, criando “exemplares plausíveis” de determinada categoria através da aprendizagem de distribuição e da simulação da mesma. Cassie Kozyrkov coloca o ser humano como um indivíduo que está a tirar proveito da IA como uma ferramenta, uma vez que “nos casos em que a IA tem um papel criativo, seja uma música, uma pintura ou algum copy escrito”, é o humano quem está realmente a decidir sobre a forma como quer que a tecnologia o faça. Como exemplo, a CEO recorda a obra de arte Fonte, de Marcel Duchamp, de 1917, para explicar que os créditos pertencem, neste caso, ao artista e não à empresa que produziu o famoso urinol. É a partir deste exemplo que a oradora introduz um novo conceito: o ‘thunking’, oposto ao ‘thinking’. “Em muitas tarefas existe uma componente de pensamento e uma componente de ação. A parte do pensamento é compreender o porquê, o que precisa de acontecer, descobrir o que gostariam de ver no mundo, qual o aspeto da solução”, explica Cassie Kozyrkov que, em oposição, sugere o 'thunking' como uma “parte de execução sem sentido”. “Os sistemas de IA não pensam. Eles não pensam por nós”, relembra, considerando que, independentemente do processo, “o pensamento permanece 100% humano”. “Hoje, a IA é uma matéria-prima para todos usarmos da maneira que queremos, para construir em cima. Esta é uma oportunidade sem precedentes para a criatividade”, uma vez que permite testar e transformar, uma oportunidade que não existia com a IA discriminativa. Exemplos de tecnologias generativas como o ChatGPT permitem obter os resultados esperados e utilizá-los de forma livre, naquela que Cassie considera como “uma revolução sem precedentes na experiência do utilizador”. A CEO aponta para duas grandes utilizações para estas tecnologias: a primeira está relacionada com as ferramentas de produtividade pessoal, um modelo “human-in-the-loop”, onde o utilizador assume responsabilidade pelos seus resultados, trabalhando com a tecnologia para evoluir. Do outro lado, a enterprise automation implica retirar o ser humano do circuito e confiar num sistema de software que deve ser testado, principalmente nesta fase em que as tecnologias generativas avançam, mas são poucos os procedimentos para testar estes sistemas. A importância da realização de testes ao sistema está também intimamente ligada ao contexto: “Independentemente de funcionar numa determinada situação não significa que continue a funcionar noutra”, reforça a oradora, que alerta também para a possível mudança ao nível do funcionamento no decorrer do tempo. No caso de se começar a “automatizar e a escalar sem um ser humano no circuito com este tipo de sistemas, é necessário saber se ainda estão a funcionar, o que é que é necessário para que funcionem, sendo necessário continuar a testar, verificar, monitorizar e manter”. Os humanos ainda têm uma palavra a dizerApesar da aceleração da automatização, os sistemas não serão capazes de decidir em nome dos seus utilizadores. Áreas como o design vão manter-se, com a melhoria das ferramentas que vão contribuir para facilitar o trabalho. “Hoje quando falamos de empregos e de empregos a desaparecer, estamos a imaginar que a atividade económica é estática e que todas as nossas preocupações atuais são as únicas que vamos ter. Mas imaginemos um mundo em que a automatização acelera, mas há mais coisas a acontecer. Mais pessoas têm a sua criatividade desbloqueada porque não têm de mexer em ferramentas incómodas; há mais coisas a acontecer, estamos a construir mais, estamos a inventar mais coisas, haverá mais desafios e oportunidades. Tudo vai acontecer a um ritmo mais rápido. Para reagir a tudo isso, talvez precisemos de mais mão de obra, não menos. Mas só o tempo o dirá”, remata a CEO. Características como as competências interpessoais e a comunicação tendem a aumentar, acrescenta Cassie, que olha para a resolução de problemas como “uma ferramenta”. Para além da adaptabilidade, a confiança e a colaboração devem ser fomentadas num mundo em constante mudança, uma vez que continuarão a ser tratadas de forma 100% humana. “Acredito que haverá muito para todos nós fazermos. Haverá doenças para curar. Haverá alterações climáticas para resolver. Haverá invenções para fazer. Haverá todo um futuro para construir. E precisaremos do melhor de nós ao longo de tudo isto. Não vamos sair de moda. Estas competências estarão sempre presentes”, conclui Cassie Kozyrkov. |