A mesa-redonda, que juntou um conjunto de presidentes e líderes de seis cidades europeias para discutir o desenvolvimento sustentável das cidades, foi unânime em considerar que os cidadãos assumem um papel central no debate sobre o futuro das smart cities
O futuro está aí, e prova disso foi o tema das cidades do amanhã que esteve em destaque esta quarta-feira num dos palcos de mais uma edição da Web Summit que decorre por estes dias em Lisboa. O painel de discussão “Building the cities of tomorrow” reuniu um conjunto de presidentes e líderes de seis cidades europeias para partilharem a sua experiência sobre como a tecnologia está e vai continuar a moldar as suas cidades para que se tornem cada vez mais verdes e sustentáveis. “Enfrentamos muitos desafios. Enquanto cidades precisamos de reunir as pessoas com ideias para resolver os desafios mais complexos”, referiu o professor, revelando que a cidade austríaca está preocupada com a necessidade de evoluir em conjunto com as universidades, de forma a garantir a implementação das soluções mais inteligentes que continuem a garantir os melhores serviços. O impacto da investigação e do conhecimento técnico, referiu Thomas Gegenhuber, acontece assim que se estabeleça uma colaboração que reúna não só os cidadãos, mas também as universidades e setor público, a fim de serem “estabelecidos objetivos e identificado o conhecimento de que necessitamos para lá chegar”. O professor considera, no entanto, que não se trata de um problema de conhecimento, mas sim de implementação. Sobre a inteligência artificial e o seu papel no campo da sustentabilidade, Thomas Gegenhuber deixou o alerta para que se compreenda o papel que a mesma poderá assumir, sendo necessário, acima de tudo, olhar para “algo que não tem nada a ver com tecnologia: a infraestrutura social”. O futuro da sustentabilidade nas mãos dos mais jovensAri Alatossava, presidente da câmara de Oulu, na Finlândia, revelou à audiência que a cidade conta já com investimentos em centenas de serviços digitais, entre eles transportes públicos e interações entre as escolas e as casas. “A ideia principal é a de que os serviços são tão fáceis de usar que qualquer um os pode usar. É fácil de dizer isto, o difícil é concretizá-lo”, admitiu Ari Alatossava, que reiterou a ideia do professor Thomas Gegenhuber sobre a necessidade de recorrer ao conhecimento proveniente das universidades e das indústrias para construir um modelo sustentável. “A interação entre os diferentes stakeholders é a chave nesta mudança”, asseverou o presidente, remetendo para a necessidade de uma abordagem human-centered. A Finlândia fez-se também representar por Jukka Makela, presidente da câmara de Espoo, que aproveitou a oportunidade para deixar uma mensagem importante sobre cooperação: “Se querem construir uma Europa mais sustentável, com cidades mais sustentáveis, temos de o fazer juntos, com as universidades, com os investigadores, com as empresas e, principalmente, com as empresas. Com as empresas e para as empresas”. Jukka Makela defendeu a necessidade de uma força conjunta entre as diversas cidades europeias, aproveitando o potencial das gerações e talentos mais jovens para alcançar a sustentabilidade desejada em cada localização. “A educação é uma pedra basilar da sustentabilidade e se queremos construir cidades sustentáveis temos de talento jovem e formado para criar inovações”, concluiu. Uma cidade sustentável que cria maiores oportunidades para os cidadãosMais ao lado no mapa, e no caso do Reino Unido, as cidades estão já a trabalhar as dinâmicas da sustentabilidade ao nível do setor dos transportes públicos, com o investimento em infraestruturas e num sistema de transportes que “melhore a conetividade e a competência”. Richard Parker, presidente da Câmara de West Midlands, revelou que estas são as iniciativas mais cruciais ao nível da mobilidade e sustentabilidade para permitir que os cidadãos possam ter uma maior rede de apoio que lhes permita, por exemplo, deslocarem-se da sua região para outras onde existem mais oportunidades de trabalho. A aposta em tecnologia de roadmap, o investimento numa linha de metro regional e a aposta em baterias na frota de autocarros públicos são algumas das ideias já em progresso em West Midlands. “Não estamos apenas a implementar e a utilizar a tecnologia para suportar uma infraestrutura mais sustentável; estamos também a investir em nova tecnologia e acreditamos que esta nova tecnologia vai ter relevância, não só na nossa região, mas também a nível global”, sublinhou Richard Parker. Para o presidente de West Midlands, a possibilidade de escalar a sustentabilidade e a mobilidade da região tem, sobretudo, um resultado ao nível social e económico, proveniente de um maior investimento no talento para agarrar os projetos da cidade do futuro: “Para mim, é muito importante criarmos oportunidades às pessoas que estão na região, nomeadamente melhores perspetivas de trabalho, endereçando as capacidades e o talento que temos, especialmente no desenvolvimento e investimento nos mais jovens, para que estes possam ter acesso a melhores empregos na região”. O caso portuguêsPortugal esteve também representado no painel pelo presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio. Os investimentos que têm sido feitos na cidade portuguesa passam por endereçar as necessidades da população, com recurso à tecnologia. “O que fizemos em Braga, e que demonstra bem o sucesso que atingimos, consta do último barómetro, em que 94% dos cidadãos referiram que estavam felizes por viver em Braga”, anunciou Ricardo Rio, que justifica estes resultados com a criação de condições para que os cidadãos possam ser empreendedores, possam inovar, passando pela criação de novos trabalhos e pelo reforço da relação entre as universidades, os centros de conhecimento e a administração local. A cidade portuguesa está a trabalhar em cooperação com outras cidades europeias e países para estimular a aprendizagem e a troca de experiências e projetos na área da mobilidade e sustentabilidade. “Temos de ser inovadores e desenvolver diferentes projetos para melhorar as coisas. No fim, temos de saber escalar. E escalar significa partilhar experiências com presidentes de outras cidades”, rematou Ricardo Rio. O autarca considera que o projeto para uma “cidade do futuro” assenta, sobretudo, no modelo governamental e na implicação das instituições e dos cidadãos em prole de “futuro conjunto”. Sustentabilidade de mãos dadas com a cultura históricaNo caso de Turim, a cidade italiana tem procurado evoluir de forma digital e sustentável, sem esquecer a sua herança histórica, em especial numa altura em que a cidade italiana abraçou a missão da União Europeia e foi reconhecida com o selo para atingir a neutralidade climática até 2030. Chiara Foglietta, Conselheira para Transição Digital e Ecológica, Inovação, Ambiente, Mobilidade e Transporte da Cidade de Turim, partilhou com a audiência que a estratégia passa por “redesenhar as cidades, envolvendo os cidadãos, o setor público, os transportes públicos, ao mesmo tempo que tentamos ganhar cada vez mais quilómetros de vias pedestrais”. “Estamos a trabalhar arduamente para encurtar a distância entre o poder local e os cidadãos. Estamos a tentar envolver os cidadãos para redesenharmos a cidade do amanhã”, concluiu Chiara Foglietta. |