Henrik Henriksson, CEO da multinacional de transportes Scania, explica como é que uma empresa responsável por 1% das emissões globais de CO2 planeia liderar o combate às mudanças climáticas
Desde a invenção da roda até ao advento do avião, os transportes estiveram sempre estreitamente ligados ao desenvolvimento da economia e da sociedade – e, mais recentemente, a um dos seus maiores problemas. De todo o CO2 emitido a nível global, 20% resulta da indústria dos transportes. Só a Scania, com mais de um milhão e meio de veículos em 120 países, é responsável por perto de 5% destas emissões. “A necessidade de transportes vai continuar a crescer com a globalização, a urbanização, e o crescimento populacional”, refere Henrik Henriksson, CEO da Scania. “Estamos a chegar a um ponto de viragem em que é muito difícil equilibrar esta necessidade de transportes com a sua pegada de CO2”. O uso a larga escala de veículos elétricos implica uma série de pré-requisitos que de momento ainda não são cumpridos, não só a nível dos veículos propriamente ditos e da infraestrutura de carregamento, mas também na garantia que a eletricidade em uso provém de fontes renováveis – caso contrário continuamos a queimar combustíveis fósseis. Os combustíveis alternativos como as células de hidrogénio apresentam- se como uma opção intermédia viável – mas mais do que tecnologias específicas (e enquanto estas não estão disponíveis) é ainda necessário abordar o problema com “uma visão mais alargada, a nível do ecossistema de transportes e do fluxo logístico”. O ponto de partida, para Henriksson, é a condução autónoma: os motoristas correspondem a aproximadamente 50% dos custos logísticos dos transportes, criando a necessidade de transportar o máximo possível de mercadoria por veículo – e ainda assim, cada camião transporta em média 60% da sua capacidade total. Isto representa, naturalmente, uma enorme ineficiência em termos logísticos. Uma vez possível implementar a condução autónoma, será possível adotar uma logística mais granular e eficiente. Empregar mais veículos, de menores dimensões e consumo de combustível, e a percorrer rotas menos extensas permite diminuir o tempo de espera e as emissões de carbono correspondentes a cada entrega. Isto, explica Henriksson, serve como uma fase intermédia na descarbonização da frota. Por um lado, permite diminuir o consumo de combustíveis fósseis enquanto estes ainda são a norma – minimizar o impacto das emissões enquanto esta transição ainda está a decorrer. Por outro, ao construir uma frota de veículos de menores dimensões, com toda a logística e processos associados à mesma, a Scania está a estabelecer as bases da transição para combustíveis alternativos e, eventualmente, veículos elétricos, que seria muito mais difícil de fazer com os grandes camiões pelos quais a Scania é famosa. “A automação vai criar um sistema de transportes muito mais eficiente, e muito mais sustentável”, conclui Henriksson. “Na Scania, decidimos que iríamos liderar a mudança para este sistema. Mas não é possível fazê- lo sozinhos. São necessárias parcerias com legisladores, companhias elétricas, construtores de infraestruturas, com própria sociedade. E é preciso agir aqui e agora”. |