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“O negócio dos nossos dias”: Os dados ao serviço do presente e do futuro das organizações

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa recebeu a oitava edição da DSPA Insights. Com o tema AI Enhancing Business, os dois dias de eventos contaram com testemunhos e partilha de use cases por parte de quem coloca os dados no centro das decisões das organizações, sem esquecer o papel que tecnologias como a IA generativa podem assumir nos negócios e projetos

“O negócio dos nossos dias”: Os dados ao serviço do presente e do futuro das organizações

Data science, Inteligência Artificial (IA) e IA generativa. Estes são alguns dos conceitos incontornáveis nas atuais agendas dos CEO e responsáveis de organizações.

E foi neste contexto que decorreu a oitava edição da DSPA Insights, um evento organizado pela DSPA - Data Science Portuguese Association, que juntou 797 inscritos e 48 oradores durante dois dias de partilha de conceitos, experiências e muitos casos práticos, onde a IA teve, muitas vezes, uma palavra a dizer.

A abertura desta edição, que decorreu no auditório principal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e que teve como mote AI Enhancing Business, ficou a cargo de Fernando Matos, Presidente da DSPA, que começou por destacar a evolução “quase exponencialmente” dos conteúdos apresentados na DSPA. Temas como a inteligência artificial generativa, que o ano passado eram uma “novidade”, são este ano uma “realidade instituída” nas organizações: “há realmente uma adoção maior de IA generativa e, obviamente, os exemplos que vão aparecendo são cada vez mais inovadores”, reforçou Fernando Matos.

O presidente da DSPA considera que o foco deste tipo de eventos passa por inspirar e levar a audiência a apostar em “bons projetos”.

“Se há umas décadas os negócios pediam ajuda ao IT para desenvolver soluções para servir o negócio diretamente, e o pensamento core era o negócio, hoje o paradigma é completamente diferente”, acrescentou Guilherme Ramos Pereira, Executive Director da DSPA.

Valor da inteligência artificial: o olhar das big tech

“What’s ahead? The big techs view” foi o mote de uma das mesas-redondas do evento. Manuel Dias, National Technology Office & Executive Board Member da Microsoft, considera que o ano de 2024 “foi o ano da sedimentação” dos modelos de IA generativa, ainda que estejamos “muito no início” de uma “verdadeira revolução” trazida por estas novas tecnologias. Para Manuel Dias, “a IA generativa vai ser uma tecnologia de general purpose”, não sendo possível prever o que poderá vir agregado a esta tecnologia, destacando a necessidade de as empresas terem de se adaptar a este tipo de inovação, uma vez que “não podem ficar à espera que venha o próximo modelo, a próxima inovação”.

Luís Gregório, Technical Partner Architect da IBM, reiterou a ideia de passagem de um período de experimentação para a atual sedimentação e a mudança no grau de maturidade das organizações. O surgimento de metodologias e ferramentas começa a levar as organizações a construírem os seus próprios ambientes e SLM e LLM, essencial para a evolução e para criar “uma maior capacidade de atuação das soluções”, que se tornam mais rápidas e mais económicas. Ainda assim, alertou, é necessário “criar valor naquilo que já existe hoje”, mesmo que implique um nível mais elementar, sem estar necessariamente à espera da próxima geração de modelos.

Pablo Carlier, Head of Data Analytics & AI Sales Iberia da Google Cloud, acredita que estamos a assistir a uma transição de “sistemas que compreendem as coisas para sistemas que nos dizem estas coisas”. Neste panorama, Pablo Carlier apontou para um “shift paradigmático” que passa por dar à IA a “capacidade de pensar as respostas e colaborar com muitos outros agentes”, fornecendo acesso “ao mundo real”. As organizações, referiu, devem preocupar-se em construir as bases da atividade tecnológica para que possam fazer a ligação entre as tecnologias de IA do amanhã e os dados das próprias empresas. No entanto, é necessário que sejamos “mais ativos nesta construção das capacidades das organizações”.

AI Act: que consequências?

A IA foi um dos temas incontornáveis desta mesa- -redonda, que juntou um outro painel de oradores que partilharam as oportunidades e desafios do AI Act, o primeiro regulamento de IA a nível mundial, composto por cinco fases distintas de implementação, e que entrou em vigor em agosto deste ano.

O Prof. Manuel Cabugueira, Board Member da ANACOM, começou por sublinhar que existe um conjunto de questões que tornam o exercício de regulamentação da IA “mais complexo”, ainda que não seja possível “impedir a inovação de avançar”. O Professor considera que é necessário introduzir a regulação “por via de áreas de experimentação, sandboxes”, de forma a testar.

Na visão de Marta Capelo Gaspar, Director Competition and Regulatory Affairs nos CTT, é necessário “mudar a cultura que temos em termos de diálogo e com os stakeholders”, criando uma “cultura colaborativa” no contexto português, composto essencialmente por PME.

É necessário “simplificar a questão da burocracia; é necessário desenvolver conhecimento interno”, elucidou. A diretora apontou também para a importância de envolver estes valores nos processos do dia-a-dia das organizações por forma a “criar confiança para a adesão da tecnologia”.

Para Carlos Moura, é necessário criar um “hub de partilha” e aplicar vários níveis de risco face às mais diversas aplicações. “Há zonas de fronteiras nos chatbots, na análise de algoritmos mais “clássicos”, que vão ter as medidas de mitigação para o controlo das variáveis sensíveis”, afirmou o CIO do Banco de Portugal, reforçando que o AI Act irá obrigar a “novas regras”, nomeadamente um olhar diferente para a arquitetura do negócio e para a necessidade de capacitação das pessoas no seio das organizações.

Digital Services Act: plataformas têm de começar a preparar-se

Luís Alexandre Correia, President of the Digital Services Coordinator Working Group na ANACOM, foi outro dos oradores em destaque ao levar a palco o tema das implicações trazidas pelo Regulamento dos Serviços Digitais (Digital Services Act, em inglês), aplicado ao nível da União Europeia. Sobre a sua aplicação, Luís Alexandre Correia apresentou três categorias diferentes de serviços: os serviços simples de transporte, que proporcionam a infraestrutura necessária para o transporte de informação na internet, sem interferir com a informação, como é o caso dos operadores de telecomunicações e dos providers de Internet; os serviços de armazenamento temporário, como é o caso do Youtube e das plataformas de streaming; e, por último, os serviços de alojamento virtual, como o caso do Facebook.

“Na realidade, o regulamento dos serviços digitais aplica-se sobre as plataformas, sobre os serviços intermediados, as plataformas e as empresas e os prestadores, e não sobre os conteúdos ilegais, porque para esse efeito já existe legislação nacional específica”, relembrou. O objetivo passa por criar mecanismos de conteúdo ilegal que permitam às próprias plataformas analisar e remover conteúdos.

Luís Alexandre Correia reiterou que as plataformas devem começar a fazer desde já os ajustes políticos internos, assim como os procedimentos necessários para a conformidade com o Digital Services Act, recorrendo, se necessário, à ajuda da ANACOM.

A tecnologia e os dados ao serviço dos mais variados setores

Ao longo dos dois dias de evento foram vários os use cases apresentados sobre a IA, os dados e a importância que assumem quando aplicados em determinados contextos.

O Dr. Pedro Gouveia, Breast Surgeon & Medical XR Researcher and Futurist no Champalimaud Clinical Center, partilhou com a audiência o poder e impacto da inteligência artificial na saúde e o papel crucial que pode assumir no setor e, transversalmente, na sociedade.

O cirurgião criou uma equipa de engenheiros, físicos, software developers e profissionais de saúde que se dedicam a criar dispositivos médicos que impactam a vida dos doentes com cancro da mama, não só através da inteligência artificial aplicada e à intervenção médica, mas também através da capacitação do cirurgião.

O Dr. Pedro Gouveia frisou a ideia de que pagamos hoje “um custo muito elevado por não integrarmos tecnologia que causa impacto nos doentes, não só na qualidade de vida, mas também a detetar complicações”. É, por isso, necessária uma “medicina de alta performance, com elevada convergência da IA”, não só na perspetiva dos doentes, mas também dos profissionais de saúde que devem “fazer uma atualização de conhecimento sobre como é que podem utilizar estas ferramentas”.

Ainda no campo da saúde, a Dra. Ivone Silva, Operating Room Services Director do Centro Hospitalar Universitário do Porto, partilhou também com o público algumas das mais recentes tecnologias e inovações que estão a surgir no campo da cirurgia digital com recurso à inteligência artificial.

E se os dados pudessem fornecer insights e ajudar a melhorar a performance das equipas desportivas? É com base nesta ideia que João Lopes e Bruno Lourenço, Head of Analytics e Sports Data Science, respetivamente, trabalham diariamente no Sport Lisboa e Benfica. Ambos partilharam de que formam colocam os dados a trabalhar para os bons resultados desportivos do clube: “O trabalho de equipa de data science é colocar-nos mais próximos de ganharmos jogos”, explicou João Lopes.

Os pedidos internos dos diversos departamentos levaram ao aumento da equipa de Data Science do Benfica, responsável por obter, transformar e limpar os dados de forma a entregá-los em relatórios para que possam ser trabalhados.

Alguns dos use cases apresentados mostraram como a análise de dados dos atletas, das táticas de jogo e das próprias equipas adversárias, por exemplo, podem ajudar no aumento da performance das equipas. Os projetos implicaram, por um lado, compreender, com recurso aos dados, se existia “alguma inconsistência em termos de estabilidade, de rotação de equipa”, quebra de performance ou utilização excessiva de jogadores; por outro, o estudo do adversário, das suas características e da forma de jogo permitiu ao departamento de data science entregar informação relevante, baseada em dados, contribuindo para melhorar a qualidade do jogo e da equipa.

IA: a omnipresença do hoje e do amanhã

Com o tema “AGI is coming! And then?”, Fernando Matos apresentou uma viagem no tempo da evolução da inteligência artificial, caracterizada pela sua maior versatilidade, capacidade de adaptação e autonomia. “Não tenho dúvida de que a inteligência artificial vai ser omnipresente em todas as coisas tecnológicas que utilizamos. Vão ter todas uma interface conversacional”, reforçou o presidente da DSPA.

No final de mais uma edição, Guilherme Ramos Pereira, Executive Director da DSPA, refletia no feedback dos participantes como “o melhor indicador” do sucesso do evento. “A DSPA tem tido o mérito de focar no conteúdo que traz a palco, no conteúdo que partilha”, afirmou o Executive Director, que se mostra orgulhoso na comunidade construída pela DSPA que desafia “o pensamento e as decisões das organizações”, sempre com o foco nos dados como “o negócio dos nossos dias”.

2024 DSPA Awards

O encerramento da conferência culminou na entrega dos DSPA Awards 2024. Nelson Pinho, da EDP, venceu na categoria de Data Executive of the Year; Vânia Tavares, da Capgemini Engineering, destacou-se como Data Scientist of the Year; a AiAction (Projeto AiTecServ Project, em cooperação com a Axis Communications e a Junta Freguesia da Bajouca) venceu o Data & AI Innovative Project of the Year e a NILG.AI levou para casa o prémio de Data Changemaker of the Year.

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