O terceiro dia do evento da IDC terminou com uma discussão em torno do “sonho” de hub digital português, e apesar de o sonho não ter sido alcançado, “há potencial”
A fechar o terceiro dia do IDC Directions, Afonso Salema, Managing Director na Start Campus, Augusto Fragoso, Diretor-Geral de Informação e Inovação na Anacom, Carlos Paulino, Managing Director na Equinix, João Dias, Administrador da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), e Pablo Ruiz-Escribano, Vice President Secure Power & Field Services Iberia na Schneider Electric uniram-se para falar de Portugal como o próximo Hub Digital, nomeadamente das oportunidades e desafios gerados para a economia portuguesa. O painel concordou que em Portugal, o potencial prevalece. “Portugal ainda não é um hub digital, apesar de ter a promessa de poder ser”, disse Afonso Salema, “é um país apetecível”. Contudo, com os avultados investimentos no digital, a nível de centros de inovação e de desenvolvimento de tecnologia, a serem postos em funcionamento, fazem com que o país esteja bem posicionado na corrida. Segundo João Dias, “estamos a ser escolhidos por muitas grandes empresas”, que “vêm para Portugal não só para fabricar, mas para desenvolver tecnologia e inovar”. Entre boas infraestruturas de comunicação, de dados, conetividade, centros de dados, banda larga, inúmeros centros de investigação “críticos para tudo isto”, talento “muito bem formado” e um ambiente multicultural, Portugal tem se vindo a destacar, notam, como um destino promissor. Salema está na crista da onda da instalação do data center Sines 4.0. Afirma que embora Portugal esteja no centro do mapa de tráfego global, o fluxo de dados passa à volta. “Quando começamos a olhar para Portugal, tivemos um grande backlash de consultores e investidores a nível mundial a dizer que Portugal não tinha infraestruturas digitais suficientes para acomodar o projeto, mas como é que é possível estarmos a atrair grandes empresas para Portugal se não temos o backbone necessário para suportar as infraestruturas?”, reitera o gestor da Start Campus. Continua: “o que notamos é que há infraestruturas, mas não são aproveitadas pelos players porque há falta de estratégia comum”. A discussão deixou claro que há um trabalho que já foi iniciado, mas está longe de ser concluído. “Os operadores de comunicações estão mais abertos a trilhar esse caminho e penso que o projeto Sines 4.0 vai ser essencial neste sentido. Mas um hub não pode sobreviver à custa de um só projeto. Um hub digital significa ter este e muitos mais projetos – é importante a interconectividade. Atualmente, conta Carlos Paulino, estão mapeados 41 novos cabos submarinos para nascer no atlântico, “se captarmos parte desta conetividade, temos muito potencial”, enquanto corredor ou “gateway digital” com a capacidade de servir vários continentes. “Portugal tem a capacidade de passar de um micro hub para mega hub. Vejo Portugal como um futuro hub digital de grande significância a nível global”, acredita o gestor da Equinix. Alinhado com a estratégia europeia de dados, Augusto Fragoso nota que “se conseguirmos criar date centers de capacidade suficiente para atrair grandes projetos, mais virão”, criando uma dinâmica positiva para a economia portuguesa. “Temos de aproveitar os fundos para aproveitar esta economia dos dados”, conclui. Contudo, não basta o alinhamento com a estratégia europeia. O painel assevera que tem de haver um alinhamento de agentes públicos e privados, numa estratégia clara, transparente e permanente, de forma holística, de forma a criar uma indústria sustentável, disse Ruiz-Escribano, e “estes fóruns são muito bons para essa coordenação”, completa João Dias: “acho que não há um handycap enorme, se calhar algumas coisas começamos tarde, mas podemos fazer um catching up se trabalharmos bem”, assevera. Afonso nota dois aspetos que podem “estragar o sonho de hub digital” – a fiscalidade e a burocracia. “Nós sermos promessa de hub digital não é algo de novo. Muitos se foram embora e desistiram por três razões" – a complexidade de fazer e licenciar negócios em Portugal e mantê-los; o custo da eletricidade e a conetividade – sendo que os dois últimos pontos estão a ser ultrapassados. “Temos de ter muito cuidado e ser muito vigilantes para não perder a oportunidade outra vez”, conclui. Carlos explica ainda que o Presidente da Associação Irlandesa de Data Centers, lhe falou recentemente em cinco condições essenciais que fizeram da Irlanda um hub – os cinco P’s: Power, “ser green, estável e a preço competitivo”; Pipes, “interligação e comunicação entre o país e o mundo”; People, “e já falámos da capacidade do nosso talento em Portugal”; Pedigree, “como um dos pontos de passagem da informação mundial”; e Politics, “porque existirem políticas pro-business com uma carga fiscal competitiva é mandatário, e desta lista o mais crítico, no qual temos de trabalhar”. Augusto Fragoso afiança: “temos uma posição geoestratégica fenomenal se a soubermos explorar, mas gostava que não fosse só o Sines 4.0, mas Braga 4.0, Portalegre 6.0, etc, para combater a assimetria, que é um grande problema português”. Pablo Ruiz-Escribano conclui com uma mensagem de um plano ibérico: “eu gostaria de um plano ibérico porque acho que Portugal e Espanha em conjunto serão muito mais fortes para fazer frente aos restantes concorrentes”. |