Na sessão de abertura da ICT 2015, a maior conferência das TIC na Europa, que está a decorrer em Lisboa, o comissário europeu Günther Oettinger disse que é imperativo construir um mercado único digital e apostar na inovação, para que o velho continente não fique atrás dos EUA e consiga manter a sua competitividade à escala global.
A conferência ICT 2015, que está a decorrer desde ontem, dia 20, no Centro de Congressos de Lisboa, arrancou com uma mensagem: a Europa tem de se impor enquanto ator da revolução digital para liderar industrialmente. O comissário europeu Günther Oettinger, responsável pela pasta europeia da Economia e Sociedade Digitais, disse que “estamos no meio de uma revolução digital” e que as TIC são parte real da economia e das nossas vidas. “Temos que ter uma estratégia europeia”, enfatizou. Essa estratégia passará diretamente por construir um mercado único digital na Europa, no qual “não há fronteiras”, apontou, referindo-se à necessidade de ultrapassar a fragmentação dos 28 mercados da zona euro, cada um com abordagens diferentes ao digital e que não está a tirar partido dos 510 milhões de consumidores da União Europeia e das suas 20 milhões de empresas. O mote desta ICT 2015 – Inovar, Conectar, Transformar – é “também o mote para a Europa”. Se a passagem do 3G ao 4G foi uma evolução, o 5G será uma “revolução”, referiu o comissário, que trará consigo a necessidade de novos serviços. O comissário não deixou de nomear Portugal como “um exemplo”, por estar muito bem posicionado em tecnologia digital, referindo-se aos elevados níveis de conectividade dos lares portugueses. No encerrar da sessão, o Presidente da República destacou que as TIC são a resposta para os desafios económicos atuais, ao aumentarem a produtividade e revolucionarem indústrias. Cavaco Silva salientou que “as fronteiras do mundo físico e digital estão a esbater-se” e que os primeiros a aperceberem-se disso estarão em vantagem.
Três mil milhões para as TIC em 2016 e 2017 Na sessão plenária que decorreu à tarde, Günther Oettinger reforçou em maior detalhe a estratégia a seguir no caminho da liderança industrial europeia. “O digital tem, desde há várias décadas, transformado dramaticamente os vários sectores das TIC”, apontou. “Com o advento das fábricas do futuro, da Internet of Things e do 5G, esta transformação será ainda mais dramática”. O maior desafio para os países europeus é o de “virar a transformação digital a seu favor e aproveitar as suas oportunidades. Em concreto, isto significa que temos de nos adaptar para garantir que preservamos a nossa competitividade global e os nossos empregos, em todos os sectores pelos quais somos reconhecidos na Europa: fabrico automóvel, têxteis, químicos, farmacêutico, banca e seguros, só para mencionar alguns”.
Além do investimento na inovação, o Comissário salientou que é necessário criar condições que permitam às empresas europeias competir globalmente. Estas passam pelo livre circulação dos dados, por uma reforma das legislações que dizem respeito aos direitos de autor, por cooperação internacional (da qual o 5G é um exemplo) e por uma liderança europeia que una governos e fomente parcerias entre o público e o privado.
“Somos maus inovadores” Hans Olaf Henkel, deputado do Parlamento Europeu, deixou na inauguração da ICT 2015 a mensagem mais irreverente. “As empresas europeias de tecnologia desapareceram. Estamos a ser conduzidos pelas empresas americanas. Já é tempo de refletir sobre o que correu mal”. E o que correu mal está relacionado, na opinião do alemão, com a ausência de uma filosofia de inovação. “Somos maus inovadores”, disparou sem meias palavras. “O custo de criar um negócio na Europa é muito elevado. Temos, muitas vezes, as prioridades erradas”. Um grande foco nas indústrias tradicionais também foi um erro, com o deputado a criticar a própria União Europeia por ter endereçado tarde a necessidade de um mercado único digital. “Seremos um fornecedor de hardware se não evoluirmos e se não nos focarmos no software”. |