Contabilista de sucesso: “a importância do contabilista aumentou substancialmente”

A IT Insight promoveu um novo encontro do ciclo de conversas “Contabilista de Sucesso - Histórias de Vida, Visões de Futuro”, fruto de uma parceria com a Bizdocs. O evento decorreu com a participação do Membro do Conselho Jurisdicional da OCC, Professor do ISEC Lisboa e Ex-Vice-Presidente da CCDR Centro, Luís Caetano, e do Managing Partner da SIGISFIN, Membro do Conselho Geral da CIP e Ex-Secretário de Estado do Empreendedorismo Competitividade e Inovação, Franquelim Alves.

O ciclo de conversas, que surge com o intuito de identificar e debater os atuais desafios que se apresentam aos contabilistas certificados num contexto de transformação da economia e da digitalização das atividades empresariais, arrancou com o habitual momento de partilha de histórias, de experiências e percursos profissionais, sob a condução do CEO da Bizdocs, Carlos Latourrette.

O tópico da produtividade foi uma constante no decorrer da conversa, e foi rapidamente levantado no testemunho dos convidados. Carlos Latourrette afirma que “fazer mais com menos começa por se fazer mais com o que temos”, pelo que nas empresas é comum haver sobreposição de tecnologias e de sistemas, não se utilizando a “capacidade que existe instalada” e criando redundância. Assim, acaba ainda por existir, “infelizmente, uma incapacidade de interoperabilidade entre os sistemas”.

Nesse sentido, o CEO da Bizdocs comenta que a “tecnologia não é um fim, mas um meio para atingir um resultado e muitas vezes esquecemo-nos disso, provavelmente por falta de capacidade, de pessoas, que é uma realidade no nosso país”. Aqui, ressalvou-se a importância de ter em mente as vertentes tecnologia, pessoas e processos, para que nos momentos de implementação de soluções as organizações sejam bem-sucedidas.

Na partilha da sua história de vida, Franquelim Alves frisou o tema das pessoas e disse que “uma ação concreta de valorização, é trazê-las para ajudar a desenhar os processos, que depois irão ser automatizados com uma determinada tecnologia. Se são as pessoas que os vão usar então devem ser chamadas a participar”. Carlos Latourrette intervém, mencionando que a falta de literacia contabilística e financeira, mas também tecnológica, são um problema sistémico.

Contabilista de sucesso

Questionado sobre o perfil de um contabilista de sucesso, Luís Caetano realça a questão da produtividade e da redundância. “Sermos organizados como país, como povo, é uma atitude que, em princípio, não custa dinheiro”. Assim, se as organizações forem capazes de “utilizar bem os recursos que têm”, não precisam de fazer grandes investimentos. “É uma questão de nos organizarmos de forma correta neste processo de digitalização, que é incontornável e no qual os contabilistas certificados também estão envolvidos”, completa.

Luís Caetano reflete sobre a mudança de paradigma do contabilista, “que hoje é um consultor e um parceiro fundamental a qualquer empresário”. O Membro do Conselho Jurisdicional da OCC resume o futuro do contabilista em três pontos. Em primeiro lugar, “neste processo de inovação e digitalização, não devemos ter medo de casamentos improváveis”; depois, “temos que alimentar este processo de digitalização com alguma variedade relacionada, alimentar não só a contabilidade propriamente dita, mas alimentá-la com outras variedades que vão além da fiscalidade e que hoje em dia passam, por exemplo, pelo relatório da sustentabilidade”; e, finalmente, “focarmo-nos nas necessidades que vamos identificando a nível das pessoas, da tecnologia e dos processos”.

Contabilista de hoje

Impõe-se a questão: o que esperam as empresas do contabilista de hoje? Franquelim Alves afirma que houve “uma grande transformação daquilo que é o contabilista” e a “vida do contabilista de há 30 ou 40 anos não existe”. No decorrer dos últimos anos, “as empresas passaram a perceber que têm de ter uma capacidade de apreciação da sua eficiência cada vez mais exigente”; a “importância do contabilista aumentou substancialmente e acho que as empresas têm essa noção”.

De acordo com o Membro do Conselho Jurisdicional da OCC, o “grau de exigência e de reporting mudou radicalmente e não se limita à dimensão fiscal”. Para as necessidades impostas nas relações das empresas com terceiros, as obrigações “aumentaram substancialmente”. Assim, considera que o contabilista tem “uma função crescentemente importante, que pela própria evolução da profissão contabilística foi evoluindo para uma função de aconselhamento, mas também vai ter cada vez mais responsabilidades acrescidas”.

Adicionalmente, Franquelim Alves reflete sobre a capacidade das empresas sobreviveram ao aumento da sofisticação e exigência na forma de gerir. “Um tema importante é a dimensão empresarial em Portugal e a capacidade que as empresas têm de investir em processos mais sofisticados. Há coisas que não são uma questão de dinheiro, mas que têm a ver com a massa crítica mínima para introduzir, por exemplo, maior profissionalização nas empresas”.

Por vezes “não é fácil de resolver, e é um desafio mais grave no caso português”, em que há uma “grande fragilidade empresarial, porque não temos médias empresas muito fortes”. O membro da OCC relembra que “estamos numa fase nova de realidade, com mais instabilidade e incertezas, que colocam temas novos às empresas portuguesas com fragilidades financeiras e em muitos casos à qualidade de gestão”.

Tocando novamente na tríade pessoas-processos-tecnologia, Luís Caetano comenta que é importante não pegar apenas no “valor do capital humano, mas no conhecimento, e aproveitá-lo para amanhã estarmos mais ricos do que estávamos hoje”.