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Building the Future: o futuro da transformação digital começa agora

A quarta edição do evento da Microsoft discutiu os principais desafios e oportunidades do futuro dos negócios e da revolução digital, das pessoas e do planeta, e da educação e skilling

Building the Future: o futuro da transformação digital começa agora

O evento português Building The Future, que decorreu entre os dias 26, 27 e 28 de janeiro, “terminou, mas a construção do futuro não para”, afirmou a Microsoft Portugal na sua página de Twitter. Numa transmissão live, a apresentação do evento a partir do Capitólio, em Lisboa, esteve nas mãos de Filomena Cautela e o resultado foi um total de 21 mil participantes online em 66 países. Segundo Andrés Ortolá, General Manager da Microsoft Portugal, “Portugal é um país de empreendedores e de inovadores” e “ao longo destes três dias, aprofundámos a necessidade de acelerar os processos de Transformação Digital e de desenvolvimento de competências”.

A transformação das PME

Muito foi discutido durante a quarta edição do evento, e, na impossibilidade de resumir as 180 sessões do Building the Future, focamo- -nos em algumas das sessões que abordam o nosso mundo digital em transformação. A digitalização vai exigir investimento, competências e capacidade de ação, temas que subiram para a mesa durante o painel SMB Transformation.

“Aquilo que nos apanhamos nos últimos 18 meses, é quase aquilo que teríamos em alguns anos de trabalho, e o tecido empresarial português não estava pronto para esta revolução”, reflete Maria Malhão, Small Medium Business Lead na Microsoft. Estela Brandão de Bastos, CEO e Owner BDM na Visual Thinking, acrescenta que, “à boa portuguesa, houve um desenrascanço, o que não quer dizer que tenha sido feito da melhor forma”.

“Quando uma enorme quantidade de empresas no nosso país são micro e pequenas empresas, a transformação digital é muito mais do que um projeto one- -shot”, continua. É um “tecido empresarial complexo e é difícil ter um padrão comum”, pelo que cada PME tem capacidades digitais e de investimento “completamente diferentes”, complementa Maria Malhão.

O panorama é moldado pelo facto de grande parte das nossas empresas terem sido fundadas “entre os anos 70 e 80 e, portanto, a geração mais velha está na liderança. A transição geracional que estamos a fazer também é complexa na questão digital”, refere Alexandre Meireles, Board Member na Startup Portugal. Completa: “o ponto chave do sucesso primeiro, vender o produto – as pessoas já ouviram tanto transformação digital e estão mais do que convencidas. Depois, fazer a implementação do processo, e, depois, o acompanhamento da implementação para dar continuidade”.

ROI sustentável

Segundo a Microsoft, “a sustentabilidade tem, hoje, um retorno no investimento que vai muito para além do impacto direto nas reduções de carbono”, pelo que impacta as marcas, os investidores, os colaboradores e “toda a cadeia de valor”. Para Miguel J. Martins, Sustainable Investments Partner at Grosvenor, um ROI sustentável “implica trabalhar capitais com os quais não trabalhamos”.

Assim, pensar em ROI sustentável é “ir além de medir o desempenho económico ou financeiro” e “passa por medir o capital humano e o capital natural”. Nesse sentido, a tecnologia representa um papel fundamental: “ajuda-nos a fazer este trajeto de transferir dados, em informação, em conhecimento e, eventualmente, em sabedoria”. “A sustentabilidade é criar valor, mas, muitas vezes, aquilo que nós sentimos é que estamos a criar valor económico-financeiro, mas estamos a destruir valor natural e humano”, conclui.

Existe um sistema, desde 2015, “que nos ajuda a olhar para a sustentabilidade de forma mais sistemática, qua são os SDG” – Sustainable Development Goals – constituídos por 17 objetivos, refere Luís Costa, Partner e membro fundador da Get2C. “Acho que podemos começar por aí e depois cada empresa e projeto deve fazer a sua análise de materialidade para perceber o que é relevante para a organização a nível de sustentabilidade, depois para quem é relevante, a nível de stakeholders", assevera.

Nesse âmbito, Miguel J. Martins refere, contudo, que é complicado convencer as organizações a aplicar este tipo de métricas e utiliza a metáfora: “o tempo das cenouras acabou, temos de entrar no tempo do chicote – que, normalmente, vem sobre a forma de regulamentação”. Já Filipe Almeida, Presidente da Estrutura de Missão Portugal Inovação Social, acredita que “o chicote no nosso tempo é a realidade concreta”, explicando que “já não é preciso convencer as empresas a aderirem a um conjunto de estratégias de práticas sustentáveis, porque isso é a única forma de legitimarem a continuidade da sua atividade – o chicote está aí”.

A ética da inteligência artificial

Substituto ou auxílio? Responsável ou discriminatória? Perigosa ou uma oportunidade? Estas foram algumas das questões debatidas no painel AI Ethics no primeiro dia do Building the Future 2022.

É de notar que a CE apresentou, no ano passado, a primeira proposta de legislação para a IA e também a UNESCO adotou a primeira recomendação ética de IA. Um dos debates, embora não só no campo da IA, prende-se com as diferentes abordagens à tecnologia entre os EUA e a Europa, que, com princípios divergentes, poderia criar constrangimentos ao processo de adoção da tecnologia. Maria Manuela Leitão Marques, deputada no Parlamento Europeu, nota que “há diferenças, mas também muitos pontos de convergência. Os dois lados estão preocupados com o ritmo da inovação e com as questões éticas relacionadas com a IA”, mas a UE tem uma abordagem mais “reguladora”.

Não obstante, “temos que perceber que para que a inovação seja bem sucedida, é preciso que os cidadãos confiem” e “se não houver confiança, a inovação pode ter um retrocesso, e a ética contribui para criar essa confiança”, que é fundamental para poder evoluir. Já Nádia da Costa Ribeiro, Senior Consultant na PLMJ, refere que “o grande desafio para o legislador tem a ver com uma disparidade entre os conceitos jurídicos e os conceitos técnicos”, que dificulta a “confluência de incorporar nos algoritmos conceitos jurídicos, para que depois respeitem princípios éticos”.

Mais, discutiu-se a importância de a legislação ser acordada internacionalmente. Nádia da Costa Ribeiro refere que “se for feita por Estado, corremos o risco de ter uma fragmentação dos vários princípios e valores, para começar porque corremos o risco de misturar ética com moral”, porque os Estados têm conceções diferentes da importância dos valores.

O dilema do legislador é “encontrar o equilíbrio”, assegura a deputada, porque não pode ser "totalmente a favor da proteção, paralisando a inovação, nem totalmente a favor da inovação, sem nenhuma confiança por parte dos cidadãos”, refere a deputada. Contudo, assegura que “as empresas estão conscientes” do tema e tem havido uma "discussão muito ativa no Parlamento”.

Uma dificuldade apontada por Nádia da Costa Ribeiro é que “o regulador tem algumas dificuldades de se manter a par da evolução tecnológica”, mas “cada vez mais os regulados têm vindo a interagir com os reguladores para que a regulação não fique cristalizada no tempo e se mantenha a par da atualidade”. A deputada do Parlamento Europeu conclui falando da necessidade de “aproximar os cidadãos do debate”, apostando “nas competências digitais, mas não apenas as competências básicas de há uns anos. Hoje, a literacia básica deve incluir, também, saber o que é um algoritmo, dados, IA, etc”, completa.

Um ano de balanço positivo

A quarta edição do Building the Future contou com uma equipa de cerca de 170 pessoas na organização, 150 mil visualizações únicas, 365 oradores em 180 sessões ao longo de mais de 65 horas de transmissão online, disse a Microsoft em comunicado. Mesmo em contexto pandémico, “voltámos a fazer um evento extremamente inovador, recorrendo, inclusivamente, pela primeira vez em Portugal, a um sistema de realidade aumentada orgânica”, reforçou Teresa Virgínia. Andres Ortolá conclui: “assistimos ao que de melhor se faz no país e testemunhámos como a transformação digital é o motor do futuro”.

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