Vigilância de trabalhadores remotos aumenta

Um relatório do Centro Comum de Investigação da CE alerta para as consequências devastadoras das ferramentas de controlo dos trabalhadores

Vigilância de trabalhadores remotos aumenta

A vigilância e ferramentas de controlo de trabalho remoto estão a aumentar e podem ser devastadoras para os colaboradores. O alerta foi lançado por Kirstie Ball, autora de um relatório do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia. Kirstie Ball passou cinco meses a compilar o relatório Electronic Monitoring and Surveillance in the Workplace. Baseado em resultados de cerca de 400 artiogos, explica que o aumento do controlo dos trabalhadores põe em causa a confiança e compromisso entre os funcionários, inconscientes da natureza exata e da intenção da recolha dos seus dados. 

"O principal problema da vigilância no local de trabalho é que as pessoas às vezes podem sentir que é invasiva, autoritária ou excessiva", conta Kirstie Ball. Contudo, fruto da pandemia, o trabalho remoto causou um pico na utilização de aplicações de monitorização, tendência particularmente preocupante, contou a autora do relatório à ZDNet. Em causa, está, acima de tudo, a utilização de técnicas invasivas para controlar os trabalhadores remotos. 

O aumento da vigilância no local de trabalho tem vindo a aumentar, em grande parte, conta a autora, devido à “datafication” do trabalho, com a expansão de plataformas de algoritmos utilizadas em grande parte por trabalhadoes na gig economy, que dependem inteiramente de algoritmos para julgar o seu desempenho. “O que temos é um trabalho fortemente ‘datafied’; algoritmos de vigilância que atribuem e gratificam trabalho e não há nenhum contacto humano para mitigar", explica.

É de notar que as ferramentas apresentam-se como um inimigo ao bem-estar e saúde mental dos trabalhadores, alerta Kirstie Ball, já ameaçados pelo impacto da pandemia. "Na pandemia, a casa era tudo. Era onde adoravas, era onde trabalhavas e a tua escola. Se acrescentares a monitorização invasiva para além de tudo isso, vai ser devastador para as pessoas quando não têm apoio e estão isoladas em casa”, completa.

"Quando é rápido e barato, vai ser uma tentação. Porque no final do dia, o trabalho remoto [durante a pandemia] apresentou um desafio de controlo. Como é que se acompanha as pessoas? Queres mantê-los num trabalho, mas como é que consegues saber o que eles estão a fazer? Como é que percebes o que eles estão a fazer?", acrescenta Kirstie Ball.

A criação de resistência decorrentes do controlo, leva, ainda, os colaboradores a pensarem em abandonar os seus postos de trabalho. "Quando as pessoas começam a sentir a vigilância a que estão sujeitas, têm a sensação de que as condições de trabalho são menos justas e têm menor satisfação no trabalho, menor empenho, menor criatividade e autonomia e sentem que não são de confiança. Os níveis de stress sobem, o que significa que estão mais propensos a desistir”, conclui.

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