O tema não é novo. Já em 1990 Henderson e Venkantraman alertavam para as possibilidades que as tecnologias de informação (TI) ofereciam para a transformação das organizações. O potencial reconhecido às TI permitiria, segundo estes autores, que as organizações transformassem os seus negócios e obtivessem novas fontes de vantagens competitivas
Os autores assinalavam que esta transformação organizacional deveria ser vista como uma jornada e não um evento isolado. Mas nem todas as empresas acompanharam a jornada e, passados trinta anos, continuamos à procura de casos de transformação digital. Apesar de não ser consensual a definição de transformação digital, geralmente reconhece-se que esta passa por repensar e adicionar valor às empresas através das TI, alterando a sua forma de fazer negócio.
Nesse sentido, há motivos para acreditar que a transformação digital não só veio para ficar como tem vindo a acelerar. O aparecimento constante de novas tecnologias, o aumento de capacidade de processamento, de armazenamento e de largura de banda leva a que, frequentemente, a transformação digital esteja associada somente à implementação de novas tecnologias. Uber, Netflix, ou Airbnb são exemplos recorrentes de transformação digital, estando todos associados a novos modelos de negócio. Mas, se estas empresas não continuarem atentas ao aparecimento de novas tecnologias e à sua integração nos seus modelos de negócio, arriscam-se a perder a sua vantagem competitiva. Até o consolidado motor de busca da Google se viu recentemente confrontado com a concorrência do ChatGPT. Esta ameaça permanente reforça a ideia de que a transformação digital deve ser encarada como uma jornada. Contudo, a transformação digital não precisa de criar sempre modelos de negócio inteiramente novos, como nos casos anteriores. Algo que claramente mudou em trinta anos de discussão sobre transformação digital é que esta deixou de ser reconhecida como uma tendência futura para ser reconhecida como essencial, no presente, para que as empresas cresçam e se mantenham competitivas. Sendo este reconhecimento cada vez mais generalizado, o que explica que certas empresas tenham mais sucesso nesta transformação que outras? Apesar de haver sistemas de informação que permitem que as empresas se mantenham competitivas, a sua adoção não é necessariamente transformação digital porque são, como muitas vezes se observa, soluções meramente tecnológicas e não soluções para necessidades de negócio. É necessário que as empresas tenham visão digital e consigam acompanhar as mudanças do mercado de forma a repensarem a forma de conduzir negócio e focarem-se no que precisam de fazer para oferecerem novos produtos de maior qualidade. A adoção das TI não pode ser uma atividade casual nem um fim em si mesmo, tem de fazer parte de um processo consistente e priorizado de crescimento, guiado por uma estratégia digital. A transformação digital obriga as empresas a serem rápidas e ágeis. Obriga também à colaboração e comunicação, à criatividade e inovação. Obriga a que os trabalhadores tenham competências digitais e saibam como podem os sistemas e tecnologias de informação acrescentar valor às suas organizações. Obriga a uma análise dos motivos da mudança e as suas implicações estratégicas, à definição de indicadores para monitorizar a mudança, e à recolha e análise de dados. Os gestores precisam de pensar estrategicamente de forma a responderem rapidamente à evolução das TI num mercado competitivo. A lista dos requisitos para uma transformação digital bem-sucedida nas empresas é exigente. E é esta exigência que explica a falta de casos de transformação digital. Esta jornada necessita mais de “novos” gestores do que tecnólogos. Reconhecer esta importância do digital nas organizações é um caminho que se vai fazendo, mas que demora tempo a dar frutos.
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