Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, endereçou os desafios do digital no Estado da União e referiu que é necessário um plano “que defina os objetivos para 2030”, e para isso estão reservados 150 mil milhões em dois anos
“Imaginem por um momento como seria a vida nesta pandemia sem o digital nas nossas vidas”, começou por dizer Ursula von der Leyen quando abordou o tema da tecnologia e do digital no Estado da União nesta quarta-feira, 16 de setembro. Assumindo que “estamos a chegar ao limite das coisas que podemos fazer de maneira análoga”, é necessário criar “um plano comum para a Europa digital com objetivos claramente definidos para 2030”. Estes objetivos passam, por exemplo, pela conectividade, pelas competências e pelos serviços públicos digitais seguindo “princípios claros”, nomeadamente “o direito à privacidade e conetividade, liberdade de expressão, livre circulação de dados e cibersegurança”. Von der Leyen urge os Estados-membros a agir rapidamente sob pena “de seguir os outros, que estão a definir estes standards por nós”. Neste sentido, há três áreas que, na opinião da presidente da Comissão Europeia, “precisam de foco”: dados, inteligência artificial e, por fim, infraestrutura. DadosUrsula von der Leyen admite que a Europa “tem sido lenta” e que agora “está dependente dos outros” no que diz respeito aos dados personalizados entre empresas e clientes. No entanto, adverte, “isto não pode acontecer com os dados industriais”. Este cenário não é assim tão negro, diz, por duas razões: “temos a tecnologia e, crucialmente, temos a indústria”. Apesar de estes dois pontos importantes, “a corrida não está ainda ganha”. Isto porque, como é sabido, “a quantidade de dados industriais em todo o mundo vai quadruplicar nos próximos cinco anos” e, simultaneamente, “as oportunidades” que existem no setor. “Temos que dar às nossas empresas, PME, startups e investigadores a oportunidade de desenhar o seu máximo potencial. E os dados industriais valem o seu peso em ouro no que toca a desenvolver novos produtos e serviços”, explica, acrescentando que 80% destes dados são recolhidos e nunca utilizados, algo que descrever como “puro desperdício”. Neste sentido, uma economia baseada em dados reais será “um motor poderoso em inovação e novos postos de trabalho” e é por isso que “é preciso segurar estes dados para a Europa e torna-los amplamente acessíveis”. “Precisamos espaços de dados comuns – como por exemplo, nos setores da energia e da saúde. Isto vai suportar os ecossistemas de inovação nos quais as universidades, empresas e investigadores podem aceder e colaborar nos dados”, explica a presidente, acrescentando que será por isso que vai ser criada uma cloud europeia como parte do NextGenerationEU, um instrumento de recuperação com um poder financeiro de 750 mil milhões de euros. Inteligência artificialOs benefícios da inteligência artificial são muitos e alguns já estão a ser utilizados. Para a presidente da Comissão Europeia, a Europa também se deve focar nesta tecnologia “que nos abre um novo mundo”. No entanto, adverte que “este mundo também precisa de regras”. Assim, a Comissão Europeia vai propor uma nova lei onde define um conjunto de regras “que coloca as pessoas no centro”. Von der Leyen defende que “os algoritmos não devem ser uma caixa preta e têm de existir regras claras se algo corre mal”. Esta lei procura incluir o controlo sobre os dados pessoais; esse controlo, diz, ainda “é muito raro” atualmente, porque, explica, “cada vez que uma aplicação ou site nos pede para criar uma nova identidade digital ou para fazer login facilmente através de uma grande plataforma, não temos ideia nenhuma do que acontece aos nossos dados na realidade”. A Comissão vai, também, propor uma identidade eletrónica europeia segura (European e-identity) nos quais os cidadãos podem confiar e utilizar em qualquer parte da Europa para tudo: “desde pagar impostos até alugar uma bicicleta”; “uma tecnologia onde cada um pode controlar os seus dados e como é que os seus dados são utilizados”. InfraestruturaNas palavras da presidente, é essencial que a Europa continue a ter oportunidades iguais e que se torna inaceitável que “40% das pessoas em áreas rurais ainda não tenham acesso a conexões de banda larga rápidas”. Estas conexões são, agora, um requisito numa era em que o trabalho remoto e ensino à distância explodiu e poderá ficar durante ainda muito tempo, assim como as necessidades de compras online e de novos serviços que aparecem quase diariamente. “Sem conexões de banda larga, é agora quase impossível contruir ou gerir um negócio com eficiência”, refere von der Leyen. O investimento que vai chegar através do programa NextGenerationEU é uma “oportunidade única para impulsionar a expansão em cada aldeia”, onde a Comissão Europeia pretende focar os seus investimentos em “conetividade segura”, assim como na expansão do 5G e 6G e fibra. Este programa é “uma oportunidade única para desenvolver uma abordagem europeia mais coerente à conetividade e à implementação de infraestruturas digitais”. No entanto, nada disto é um fim em si mesmo, é sobre “a soberania digital da Europa, em pequena e grande escala”. Para esta década digital europeia, Ursula von der Leyen anunciou no Estado da União um investimento de oito mil milhões de euros para construir a próxima geração de supercomputadores, em tecnologia criada na Europa. “Queremos que a indústria europeia desenvolva os nossos microprocessadores de próxima geração que nos vai permitir utilizar o crescente volume de dados eficientemente energéticos e em segurança”, afirma. InvestimentoInvestir no digital é um dos pontos-chave do discurso do Estado da União. Com o objetivo de “dar mais controlo à Europa sobre o seu futuro”, a Comissão Europeia vai investir 20% do NextGenerationEU no digital. “Queremos liderar o caminho, o caminho europeu, para a idade digital: baseada nos nossos valores, na nossa força e nas nossas ambições globais”. |