Estudo português, onde participaram mais de meio milhar de mulheres na área tecnológica, revela que 48% das inquiridas escolheu trabalhar em tecnologia por paixão ao setor
A comunidade Portuguese Women in Tech (PWIT), em parceria com a Polar Insight e com o apoio da Deloitte, criou um estudo que permite contextualizar a realidade das mulheres na tecnologia em Portugal. “Pioneers” foi realizado através de um inquérito a mais de meio milhar de mulheres na área tecnológica, assim como através de entrevistas em profundidade. Da amostra de mulheres que trabalham no setor, 20% têm entre 18 e 24 anos, 38% entre 25 e 34, 26% entre 35 e 44 e 16% entre 45 e 54. A maioria encontra-se em funções de gestão (13%), consultoria (12.1%) ou dados (12.6%). Apenas 0,8% é investidora e apenas 1.3% é fundadora ou cofundadora de empresas tecnológicas. Em termos de coordenação de pessoas, 63% das mulheres não tem qualquer responsabilidade nesse sentido. Metade das mulheres entrevistadas afirma que paixão genuína pela área tecnológica foi o principal motivo para a opção pelo setor, seguido de perto por estabilidade (uma em cada três mulheres refere este tópico como principal). Trabalho intelectualmente estimulante e oportunidade de contribuir para o desenvolvimento de novos conhecimentos ocupam o terceiro e quarto lugares, respetivamente, na lista de motivos. No que diz respeito a emprego, 20% das inquiridas está à procura de forma ativa, 35% de forma passiva e 45% não está à procura. As novas oportunidades chegam-lhes principalmente através do LinkedIn (52%) e através de familiares, amigos e colegas (37%). Apenas 11% utiliza plataformas especializadas. As mulheres inquiridas ainda se mostram muito conservadoras na procura de novo emprego, preocupando-se com a capacidade em preencher todos os requisitos da vaga. De forma geral, candidatam-se a uma posição idêntica àquela que já têm, e muitas vezes vão para empresas concorrentes. Na avaliação de oportunidades, as mulheres dão prioridade a grandes empresas na área tecnológica, acreditando que a possibilidade de crescer profissionalmente é maior do que em departamentos tecnológicos de empresas de outro setor, ou em pequenas empresas. De facto, o lento crescimento salarial e a baixa possibilidade de crescimento na carreira são fatores que as afastam. Pelo contrário, a remuneração competitiva, o crescimento profissional, e o equilíbrio entre vida laboral e pessoal (por esta ordem) são fatores que as atraem. Qualidade de chefia e das equipas, afinidade com cultura e valores da empresa, novos desafios e possibilidade de trabalhar com stacks da sua preferência são também fatores de atração. No entanto, e apesar de a remuneração competitiva aparecer em primeiro lugar, esta não é uma questão de ambição para as mulheres entrevistadas, mas sim uma questão de reconhecimento. O equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é valorizado, principalmente para as gerações mais recentes. Para as mulheres mais jovens, isto traduz-se em horários flexíveis e trabalho remoto. Para as mais velhas, significa morar perto do trabalho ou encontrar oportunidades na cidade da origem, ficando perto da família. A maternidade é também um tema em cima da mesa, sendo que o setor ainda não proporciona as condições desejadas - as mulheres inquiridas não estão confortáveis com as opções de trabalho a tempo parcial que algumas empresas oferecem e têm receio de ser afetadas na remuneração. O sexismo é um dos principais tópicos abordados nesta pesquisa, com 78% das inquiridas a admitir que já sofreu observações, piadas ou gestos sexistas pelo menos uma vez; enquanto 74% já ouviu suposições sobre a sua carreira com base no facto de ser mulher. Já 72% sentiu que não foi ouvida até que um homem dissesse o mesmo. Uma média de 20% das mulheres afirma passar por estas situações “com frequência”. Metade das mulheres entrevistadas é minoria nos departamentos em que trabalha. Na verdade, uma em cada dez é a única mulher no seu departamento. No que diz respeito a remuneração, 38% já sentiu que ganhava menos que os seus pares apenas por ser mulher, e 49% já sentiu discriminação nos processos de promoção. Falta de reconhecimento pelas suas conquistas por ser mulher já foi sentida por 40%. Problemas de confiança também afetam as mulheres (34% já sentiu que era menos capaz que os homens, 39% sentiu falta de confiança apenas por ser mulher, e 39% falta de reconhecimento pelas conquistas por ser mulher). Mas as bases para a desigualdade começam na universidade. Das mulheres que participaram no estudo, 39% foi minoria na turma, afirmando que, em cada cinco alunos, quatro eram homens. Ainda, 43% sentiu falta de integração e 47% que o clima era não-inclusivo. No campo das iniciativas, nenhuma das mulheres inquiridas disse conhecer políticas e práticas de igualdade de género nas universidades e apenas 16% diz conhecê-las nas empresas, considerando que estas pretendem apenas atingir metas pré-estabelecidas. Boa parte das mulheres não é a favor de quotas, preferindo iniciativas de chamada de atenção para a diversidade e inclusão. O estudo questionou ainda as mulheres acerca de soluções para a disparidade de género, nomeadamente na área tecnológica. As soluções mais votadas relacionam-se com o aumento de iniciativas focadas em capacitar as mulheres para atuar no setor - escolas de programação, iniciativas para unir a comunidade feminina na área (como meetups e hackathons), intervenção de líderes organizacionais/educacionais contra atos discriminatórios, e reconhecimento e visibilidade atribuídos a mulheres em posição de destaque no setor. Discriminação positiva aparece em último lugar no ranking. |