De dez tecnologias transversais que se espalham pela maioria das indústrias, a Europa lidera em apenas duas
A Europa tem muitas empresas de alto desempenho, mas, no geral, as suas empresas estão a crescer mais lentamente, gerando rendimentos mais baixos, e investindo menos em investigação e desenvolvimento (I&D) do que as suas homólogas americanas, em grande parte porque estão tecnologicamente atrasadas. Esta é uma das principais conclusões da nova investigação do McKinsey Global Institute (MGI), “Securing Europe's future beyond energy: Addressing its corporate and technology gap”, que indica que de dez tecnologias transversais que se espalham pela maioria das indústrias, a Europa lidera em apenas duas. À medida que a tecnologia se espalha pelos setores, determinando cada vez mais a dinâmica competitiva, os intervenientes europeus parecem cada vez mais vulneráveis, mesmo nos bastiões tradicionais como o setor automóvel, reflete o relatório. Se não for resolvida, a crise poderá prejudicar a Europa em muitas dimensões, incluindo o crescimento, inclusão e sustentabilidade, e a sua autonomia estratégica e voz no mundo. "Os líderes europeus demonstraram grande determinação na sua resposta inicial em escala e velocidade à guerra na Ucrânia. Precisarão de construir a mesma dinâmica para enfrentar a crise empresarial e tecnológica da região e sustentar a prosperidade futura e a autonomia estratégica", afirma a Sven Smit, presidente do MGI. Já Magnus Tyreman, managing partner da McKinsey na Europa, afirma que “há uma grande oportunidade e necessidade para a Europa enfrentar as suas lacunas de desempenho empresarial e inovação" e que “nas conversas com os CEO, há muito entusiasmo e empenho pela Europa, mas também uma preocupação crescente de que estamos a ficar para trás em algumas das áreas tecnológicas que irão moldar as nossas indústrias e sociedades para as próximas décadas". O relatório indica que a Europa tem tido um forte historial de sustentabilidade e inclusão. Tem emissões de carbono per capita inferiores às dos Estados Unidos e da China, e as emissões estão a diminuir entre 30% a 50% mais rapidamente do que estas potências. A desigualdade de rendimentos, medida pelo índice de Gini, é de 30, em comparação com 41 nos EUA. Todos os dez países do topo do Índice de Mobilidade Social publicado pelo Fórum Económico Mundial são europeus. A Europa acompanhou o lento crescimento do PIB per capita de outras economias avançadas entre 2000 e 2019, mas o PIB per capita da Europa é cerca de 30% mais baixo do que o dos Estados Unidos. A Europa tem muitos pontos fortes sobre os quais pode trabalhar, comenta o McKinsey Global Institute. "Contudo, se as empresas quiserem jogar à escala e velocidade necessárias para competir num mundo em que a rutura tecnológica se está a disseminar por todo o lado, os decisores terão de reavaliar o status quo e fazer novos compromissos” afirma Duarte Braga, sócio senior e Office Manager dos escritórios da McKinsey na Península Ibérica. Mais, acrescenta que “um conjunto de iniciativas para os decisores privados e públicos que enfatiza a escala europeia e regras mais favoráveis à inovação poderia conseguir isso, ajudando-os a assegurar que a alta qualidade de vida atual para muitos dos cidadãos da Europa seja preservada a longo prazo". Além disso, o relatório assevera que a competitividade futura da Europa está em risco devido a um grande e crescente desafio de desempenho empresarial. Entre 2014 e 2019, as grandes empresas europeias aumentaram as receitas 40% mais lentamente do que as suas congéneres nos Estados Unidos, investiram 8% menos (despesas de capital em relação ao stock de capital investido), e gastaram 40% menos em I&D do que as empresas americanas da amostra. As tecnologias de informação e comunicação (TIC) e os produtos farmacêuticos representam 80% da lacuna de investimento, 60% da lacuna de crescimento, e 75% da lacuna de I&D. Mais, à medida que a tecnologia permeia todos os setores, a Europa está a ficar para trás em oito de dez tecnologias transversais. Dez tecnologias transversais estão a permear praticamente todas as indústrias, sete das quais ligadas às TIC. As dinâmicas e efeitos de rede das fortes empresas winner-take-most estão a espalhar-se. A Europa não acompanhou o ritmo dos Estados Unidos na onda tecnológica da Internet para o consumidor, e está agora numa posição enfraquecida em oito das dez tendências da próxima onda. Por exemplo, as dez maiores empresas a investir em computação quântica estão todas nos Estados Unidos ou na China. No 5G, a China capta quase 60% do financiamento externo, os Estados Unidos 27%, e a Europa 11%. A cleantech é considerada como um bastião europeu, e de facto a região continua à frente em patentes, financiamento de capital de risco, e capacidade instalada em tecnologias maduras. Mas a China lidera a produção de cleantech em quase todas as áreas, e os Estados Unidos lideram na maioria das tecnologias de ponta. Em termos de mobilidade, os fabricantes americanos representam cerca de 70% de todos os quilómetros feitos por veículos L4 totalmente autónomos. Os riscos são elevados não só para o crescimento, mas também para a autonomia estratégica, diz o relatório. Nestas dez tecnologias transversais, o valor acrescentado corporativo de 2 a 4 biliões de euros por ano poderá estar em risco até 2040. Isto equivale a 30% a 70% do crescimento previsto do PIB europeu entre 2019 e 2040, ou um ponto percentual de crescimento por ano; seis vezes o montante necessário para atingir as zero emissões líquidas até 2050; ou cerca de 90% de todas as despesas sociais europeias atuais ou um rendimento mensal universal de 500 euros para cada cidadão europeu. Além disso, num ambiente geopolítico cada vez mais polarizado, a autonomia estratégica e a voz da Europa no mundo estão em jogo. Os decisores e as empresas europeias precisam de entrar na ofensiva para uma mudança radical nas capacidades tecnológicas e na competitividade. A Europa precisa de jogar em maior escala e velocidade e nivelar o campo de jogo para que as suas empresas possam competir. O McKinsey Global Institute aponta algumas ideias para os decisores públicos que poderiam ajudar neste sentido. Uma delas seria passar para as aquisições conjuntas em áreas relacionadas com a inovação, da defesa aos cuidados de saúde; atualmente, a Europa reúne apenas 0,2% do total das suas aquisições públicas a nível europeu, em comparação com 45% a nível federal dos EUA. |