Os líderes de tecnologia devem integrar e liderar a Estratégia Digital
Os media têm sido um dos setores mais afetados pela crise económica. Entre 2007 e 2013 as receitas publicitárias em Portugal reduziram-se para cerca de metade, tendo estabilizado a partir daí. Estas alterações do lado da receita obrigaram a um esforço de redução de custos e de aumento de eficiência. Para além da conjuntura económica nacional, há uma mudança estrutural nos hábitos de consumo. O digital mudou a forma como todos nós temos acesso a informação (seja ela fidedigna ou não) e como consumimos programas de entretenimento. O digital tornou-se um meio privilegiado de acesso. E em especial o telemóvel. Na televisão, temos cada vez mais canais e não só vemos em direto como vamos ver filmes e séries que já passaram nas horas e dias anteriores. E não chega, vamos ainda a plataformas digitais procurar os nossos filmes e séries favoritos. Por tudo isto, o setor dos media está em grande transformação. Todas estas alterações exigem mudanças tecnológicas de fundo, desde a produção à disponibilização de conteúdos. Usando o caso da televisão, dantes bastava produzir um sinal para a emissão em direto. Hoje para além desse sinal é necessário ter o conteúdo sempre disponível em diferentes formatos e para diferentes tamanhos de ecrã que os consumidores usam. Na imprensa escrita produzia-se uma edição por dia, ou por semana ou até por mês. Hoje é necessário ter a versão em papel, a digital e uma produção de conteúdos contínua para alimentar o digital em tempo real. Tudo isto exige alteração nos sistemas de produção e na forma de trabalhar das equipas editoriais.
Como noutros setores, o papel do CIO/CTO torna-se mais central ao desenvolvimento da estratégia de negócio. A tecnologia é um fator essencial da estratégia quer na transformação da oferta quer na transformação dos processos de negócio para se atingir uma maior eficiência. A Impresa efetuou nos últimos anos uma transformação tecnológica profunda nos seus processos de trabalho e com impactos visíveis na oferta aos nossos clientes. Começámos pela solução de suporte às nossas ofertas digitais. Há 3 anos decidimos começar tudo do zero. Foi um caminho difícil do qual estamos a colher os frutos, com uma maior agilidade na criação de novas soluções, novos formatos e parcerias.
Desenvolvemos uma nova arquitetura, baseada em open source, modular e com simplicidade de integração com o exterior. Algumas das partes do nosso código também estão hoje disponíveis em open source. Hoje, todas as marcas do grupo Impresa são suportadas numa única solução, totalmente na cloud. Todas as nossas marcas têm sites novos com versões adaptadas ao móvel. Na imprensa escrita, substituímos sistemas editoriais que tinham mais de 10 anos. O objetivo: implementar um sistema eficiente transversal às marcas, multiplataforma, aberto a integrações. Está totalmente integrado com a solução digital, podendo os nossos jornalistas escrever apenas numa plataforma e distribuir por todos os canais. Adicionalmente, substituímos o sistema de arquivo, de forma a ter uma solução integrada no processo produtivo, que começa com um fluxo de trabalho para fotografia, a partir da captura, e totalmente integrado com o sistema editorial. Como exemplo, estas mudanças permitem hoje, ao Expresso, ter o Jornal semanal, as suas versões digitais, o Expresso Diário, o Expresso Curto e o site em plataformas totalmente integradas, e disponível para uso noutros meios do grupo, como os vídeos da SIC Notícias. Na televisão, estamos numa revolução de processos de trabalho, com um modelo operacional 100 por cento digital. No passado, todo o processo de produção de televisão era baseado em cassetes. Só na informação o digital já era uma realidade. Implementámos um novo sistema de arquivo, um sistema de workflow de tratamento dos conteúdos que trata a formatação de conteúdos, controlo de qualidade e todos os processos subsequentes (legendagem, dobragem, segmentação, promoção, preparação para emissão e para o digital). Toda a circulação de conteúdos, da receção à emissão, pode ser integralmente efetuada em formato digital. Neste projeto também implementámos um novo centro de emissão dos nossos 8 canais atuais. Os desafios são imensos. Os responsáveis de tecnologia têm que contribuir para a procura de soluções que melhorem a sustentabilidade do negócio. O cada vez maior contacto com os clientes através do digital e a adaptação aos hábitos de consumo em mudança são os principais desafios. A transformação digital visível ao exterior é só a ponta do iceberg. Há um trabalho profundo de transformação de processos de negócio que é necessário fazer e que a tecnologia atual permite. Nos media e noutros setores, o CIO/CTO tem que contribuir com o seu conhecimento único e essencial para esta transformação digital. Tem que ser o braço direito do CEO para a tecnologia e apoiar todas as áreas da empresa na transformação. O CIO/CTO tem a obrigação de assumir a liderança tecnológica da transformação digital, para bem das suas organizações. Raul Carvalho das NevesChief Operations Officer - Technology and Operations, Impresa |