“A transformação digital exige uma transformação cultural"

Tiago Cachim é o Diretor de Sistemas de Informação da PRIO desde 2012 e acredita num modelo híbrido entre o escritório e o trabalho remoto.

“A transformação digital exige uma transformação cultural"

A PRIO e o seu percurso 

A PRIO, a mais jovem produtora e comercializadora de biocombustíveis, nasceu no fim do ano de 2006 dentro do grupo Martifer. Em 2013 foi vendida à Oxy Capital – que, neste momento, detém a empresa a 100%.

Tiago Cachim, Diretor de Sistemas de Informação, entrou na PRIO ainda em 2012, e começou por fazer a gestão de projetos e toda a ligação a nível de sistemas entre a equipa central e a equipa de negócio.

Com a venda da PRIO à Oxy Capital, foi-lhe lançado o desafio de construir uma equipa de Sistemas de Informação, de liderar essa equipa e de começar a construir o seu caminho de forma independente.

Assim, começou por tentar potenciar, também, a nível digital e de infraestrutura, tudo o que fosse necessário para que a PRIO continuasse a crescer. Neste momento, conta com uma equipa polivalente com desenvolvimento interno e gestão de projeto.

Atualmente, esta organização destaca-se principalmente pelos postos de abastecimento – tem cerca de 250 espalhados pelo país; no entanto, tem também em operação um parque de tancagem de combustíveis, uma fábrica de biocombustíveis e uma linha de enchimento de gás no porto de Aveiro.

A empresa tem gás engarrafado que vende com marca própria e lubrificantes; tem também uma área – uma das grandes apostas da PRIO – de mobilidade elétrica, é operador de pontos de carregamento e também comercializador de energia elétrica para a mobilidade elétrica.

A PRIO tem cerca de 750 colaboradores e teve um volume de negócios em 2019 acima dos mil milhões de euros. 

A estratégia de transformação digital

“Nos primeiros anos, a estratégia era simples: garantir a independência da PRIO face ao que tinha sido feito pelo grupo Martifer, ou seja, começar a ter estrutura própria para garantir o processo de separação também a nível de sistemas de informação”, explica Tiago Cachim. Até ao fim de 2016, o objetivo era separar as empresas e culminou com a separação do data center.

Em 2016, foi feito um benchmark da indústria e do mercado e a empresa lançou “um grande conjunto de projetos nos anos seguintes, como a montagem do portal de clientes que utiliza ferramentas OutSystems que ainda hoje existe e é no portal da PRIO onde fazemos toda a relação B2B com os nossos clientes; montámos uma plataforma de CRM, apostando em ferramentas Microsoft, para garantir a gestão dos clientes; lançaram-se as bases para a concretização da aplicação móvel da PRIO (PRIO.GO), a primeira aplicação em Portugal a permitir o pagamento de combustíveis com o smartphone, que foi lançada no ano passado.

A nível estrutural, o Diretor de Sistemas de Informação teve ainda a preocupação de garantir a estabilidade de toda a estrutura dos postos de abastecimento. Todos estes projetos derivam dos cinco pilares definidos na estratégia tecnológica da PRIO.

1 - O primeiro é garantir a virtualização e operação remota dos colaboradores, algo que foi feito “antes do contexto pandémico atual, o que nos permitiu uma transição bastante suave do ambiente 100% presencial para ambiente 100% remoto.”;

2 - Outra vertente é garantir que as infraestruturas são sólidas, ou seja, garantir que existem comunicações, servidores e bases de dados estáveis, resilientes e escaláveis;

3 - Um modelo API driven onde a PRIO tem as suas “ferramentas core que a nível de desenvolvimento podem demorar um pouco mais e que são ferramentas mais robustas e com menos flexibilidade que, depois, tentamos apoiar nas chamadas aplicações na cloud, plug and play. Para isso, trabalhamos com conectores e garantimos que conseguimos começar a operar muito rapidamente no extremo da cadeia”. Este é, no fundo, um modelo a duas velocidades, em que existe uma velocidade mais lenta com os sistemas core da organização e uma velocidade mais rápida com tudo o são aplicações de perímetro.

4 - O modelo de dados é igualmente importante na medida em que é necessário garantir cada vez mais o acesso aos dados e a disponibilização da informação tão próximo quanto possível do real time. “Ainda não o atingimos, mas é algo que pretendemos fazer até ao fim do ano. Um modelo misto entre o self-service e um modelo mais centralizado, que é muito apoiado em ferramentas da Microsoft”, explica o Diretor de Sistemas de Informação da PRIO.

5 - Por último, mas não menos importante, as pessoas. Tiago Cachim explica que a PRIO não tem um modelo de trabalho 100% remoto e que esta é uma empresa que se preocupa com os trabalhadores. “A nossa taxa de retenção é bastante elevada, com recursos muito seniores a trabalhar connosco. Apostamos em dar projetos aliciantes e boas condições para que queiram continuar a trabalhar connosco. Este é um ponto que privilegiamos imenso”. Para Tiago Cachim, um dos principais pontos chave para uma empresa ser bem-sucedida no processo de transformação digital é a existência de uma mensagem alinhada entre o board e as direções de negócio e transversais à organização. “A transformação digital exige também uma transformação cultural”, explica.

O futuro 

“Temos alguns projetos em vista e um deles é na vertente dos dados. É importante obtermos modelos preditivos, disponibilizar informação em real time que os utilizadores consigam usar e analisar. Não queremos que seja a área de Sistemas de Informação a ser a dona da informação”, explica Tiago Cachim, quando questionado sobre projetos futuros.

Já numa vertente mais focada no bring your own device, Tiago Cachim acredita que é cada vez mais importante garantir que, a nível de equipamentos móveis, o software ou sistema operativo sejam fáceis de utilizar, independentemente do equipamento. Isto será especialmente versátil num mundo, “que pode vir a ser muito dotado de freelancers, de pessoas que trabalham durante um curto período de tempo na organização e que tenham o seu próprio equipamento.”

Os novos projetos ambiciosos da organização irão potenciar a obrigatoriedade da aposta em cloud, evitando o lock in aplicacional. “Iremos ponderar também o salto para a nova versão SAP, SAP S/4HANA. Será um salto que será dado a médio prazo, mas que poderá fazer com que exista uma reimplementação de todo o software de gestão. Vai ser um projeto de dois anos”.

“Diria que estes são os pontos principais, aliados ao desafio de ter um conjunto de pessoas cada vez maior a trabalhar remotamente com modelos flexíveis, que não exigem a presença em escritório. Acredito num modelo híbrido, entre escritório e trabalho remoto”, conclui. 

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